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A contribuição da Indústria Criativa para a economia nacional

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A contribuição da Indústria Criativa para a economia nacional

Como a criatividade impacta o desenvolvimento nacional? Embora no contexto atual a criatividade seja amplamente explorada como um diferencial competitivo, as discussões sobre a criatividade como um ativo nacional de desenvolvimento são relativamente recentes.

A criatividade como um ativo econômico e simbólico

A primeira iniciativa a reconhecer a criatividade como um potencial vetor para o desenvolvimento econômico foi a política do ‘Creative Nation’, lançada em 1994 pelo governo australiano. Logo em seguida, em 1997, foi a vez do governo do Reino Unido de identificar os setores intensivos em criatividade como estratégicos para geração de emprego e renda.

A partir de então, os conceitos de indústria criativa e economia criativa se popularizaram e passaram a integrar a agenda internacional de discussões da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

De maneira geral, a Indústria Criativa pode ser compreendida como o conjunto de atividades econômicas baseadas na criatividade e no talento individual, capazes de gerar tanto valor econômico quanto valor simbólico.

No Brasil, o estudo pioneiro sobre o tema é o Mapeamento da Indústria Criativa do Brasil. Realizado pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), desde 2008, o Mapeamento mensura e analisa a participação da Indústria Criativa nos empregos e no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

A Indústria Criativa em números

De acordo com o Mapeamento, em 2023, a Indústria Criativa foi responsável por 3,59% do PIB nacional, o que corresponde a quase R$ 400 bilhões.

Além da participação expressiva, na perspectiva do mercado de trabalho, os trabalhadores criativos totalizaram 1,262 milhão e cresceram 6,1%, ritmo mais acelerado que o registrado no total do mercado nacional (3,6%).

Os números são calculados com base nos dados mais recentes da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Em razão das características da base de dados, o levantamento limita-se aos vínculos formais de trabalho, não considerando os trabalhadores informais nem os autônomos.

Um setor heterogêneo

Embora os números gerais sejam altamente positivos, o que se percebe é que a Indústria Criativa é marcada por uma forte heterogeneidade entre as diferentes áreas e segmentos que a compõem. O Mapeamento analisa a indústria criativa em 13 segmentos, agrupados em 4 grandes áreas: Consumo (Publicidade & Marketing, Design, Arquitetura e Moda), Tecnologia (Tecnologia da Informação & Comunicação, Biotecnologia e Pesquisa & Desenvolvimento), Mídia (Editorial e Audiovisual) e Cultura (Expressões Culturais, Artes Cênicas, Música e Patrimônio & Artes).

Consumo e Tecnologia concentram mais de 85% dos vínculos de trabalho formais criativos, com 614 e 469 mil profissionais respectivamente, seguidos por Mídia (97 mil) e Cultura (82 mil). Por outro lado, apesar de ser a área com o menor número de vínculos, Cultura apresentou o maior crescimento no período entre 2022 e 2023: 10,4%.

O desempenho de Consumo e Tecnologia está intimamente relacionado aos processos de digitalização da economia e ao papel crescente das redes sociais. As transformações tecnológicas e as novas mídias mudaram a forma como as empresas e consumidores se relacionam, dando origem a novas profissões, como Analistas de e-commerce e Profissionais de mídias digitais (que incluem analistas de mídias sociais e influenciadores digitais). Formalmente criadas a partir de 2021, essas profissões foram as duas com o maior crescimento percentual no período entre 2022 e 2023.

O crescimento da Cultura, por sua vez, é reflexo da consolidação da reabertura econômica, da expansão de políticas sociais e setoriais e da retomada das atividades presenciais, com o pleno funcionamento de eventos, feiras, festivais, casas culturais e estabelecimentos de alimentação fora do lar. Dentro da área cultural, destacam-se as profissões ligadas à Gastronomia, que tiveram um crescimento de 14,4% no período.

Duas abordagens para a Indústria Criativa

O Mapeamento da Indústria Criativa adota duas perspectivas diferentes: a Ótica da Produção e a Ótica do Mercado de Trabalho. A Ótica da Produção aborda os trabalhadores em empresas criativas, enquanto a Ótica do Mercado de Trabalho considera os trabalhadores criativos em si.

Os dois enfoques estão visualmente representados na figura abaixo.

Em síntese, a Ótica da Produção congrega os profissionais criativos especializados e os de suporte, enquanto a Ótica do Mercado de Trabalho os criativos especializados e os integrados. Na primeira Ótica, o critério de inclusão advém da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), na segunda, da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO).

A transversalidade dos criativos

Na edição mais recente, o Mapeamento da Indústria Criativa revela que, em 2023, os criativos integrados eram o grupo com maior número de trabalhadores: 1.000.864.

O montante de criativos integrados evidencia o papel da criatividade para os demais setores econômicos, estando presente nos mais diversos contextos: Indústria de Transformação, Indústrias Extrativistas, Eletricidade e Gás, Transporte, Atividades Financeiras, Serviços de Saúde, entre outros.

A criatividade promovida por esses profissionais serve de insumo para os processos de inovação, impulsiona a geração de valor agregado, vira propriedade intelectual, diferencial competitivo, valor intangível e de marca.

Para além dos aspectos econômicos, os trabalhadores criativos geram valor simbólico, promovem diversidade cultural e potencializam o soft power brasileiro, ou seja, a capacidade do Brasil de criar desejo, influenciar o mundo e atrair turistas e investimentos a partir da criatividade, ideias, cultura, valores e estilo de vida nacional.

A Indústria Criativa como uma visão de futuro

A Indústria Criativa é inovação, é desenvolvimento, é identidade nacional e é soft power. Os números mostram que a Indústria Criativa tem parcela relevante na economia nacional, contribuindo de maneira transversal para a geração de empregos e renda. São Paulo e Rio de Janeiro despontam como estados e cidades com capacidade de competir internacionalmente. Todavia, outras localidades possuem níveis de especialização criativa relevantes e tem o potencial de explorar essa indústria como um vetor de crescimento econômico e social.

Dados completos por áreas e segmentos criativos de cada um dos estados e municípios do país podem ser encontrados no Mapeamento da Indústria Criativa 2025 e no Painel de Dados da Indústria Criativa.

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