#HistóriasQueInspiram. Conheça 10 ativistas que utilizam os meios digitais para reforçar e promover as línguas maias no México.
Fotografia de José Raúl Sánchez Pérez, usada sob permissão
Conheça a história inspiradora de um dos selecionados para a Bolsa de Ativismo Digital nas Línguas Maias 2024, organizada por Rising Voices. Neste ensaio pessoal, o autor compartilha a sua experiência de ativismo e o projeto por meio do qual procura promover a sua língua materna na sua comunidade e em espaços digitais.
O meu nome é José Raúl Sánchez Pérez, tenho 22 anos. Sou licenciado em língua e cultura, com especialização em ensino, e falo a língua ch’ol. Sou originário do Ejido de Panhuitz Tianija, no município de Tila, Chiapas, México, assim chamado por ser uma comunidade que se encontra a uma grande altitude. “Panhuitz” traduz-se em espanhol como ‘na colina’ e Tianija é o nome de um rio que atravessa as suas terras.
Na comunidade de Panhuitz, todos falam a língua ch’ol: crianças, adultos e idosos, porque é a nossa língua materna. O que mais se destaca na minha comunidade é o seu povo pacífico, humilde e muito unido. Em todas as festas apoiamo-nos uns aos outros, e tanto os homens como as mulheres ajudam a preparar a comida. Os homens são responsáveis por lavar as folhas para os tamales, fazer o fogo, colocar os tamales na panela e esperar que cozinhem. As mulheres são responsáveis por fazer a massa, os tamales e as tortilhas. Todos se apoiam mutuamente para tudo.
Terra comunal de Panhuitz Tianiaj. Fotografia de José Raúl Sánchez Pérez, usada sob permissão.
A minha comunidade está repleta de vegetação e de animais domésticos e selvagens, e também pode-se apreciar belas paisagens e o canto dos pássaros de manhã e ao anoitecer. O artesanato de barro é feito com uma terra especial ou lama e pequenas pedras cristalinas conhecidas como “bax”, que são usadas para fazer argamassas, grelhas, jarras, pratos e copos.
Uma janela para a perspectiva Ch’ol
A língua ch’ol não é simplesmente um meio de comunicação, é o veículo de uma rica tradição cultural e de conhecimentos ancestrais. É uma oerpectiva para o mundo dos seus falantes. Valores, lendas, práticas rituais e conhecimentos sobre a natureza, partilhados ao longo de séculos, são transmitidos através de palavras e estruturas gramaticais. A língua representa um tesouro cultural inestimável que contém a identidade, a história e a visão do mundo de uma comunidade indígena ancestral, e é por isso que me preocupo em preservar e falar a minha língua com orgulho.
Na minha comunidade, os workshops têm ajudado muito a reforçar a língua. Por exemplo, as aulas de leitura e escrita centram-se na gramática e no vocabulário, as oficinas de conversação tornam-se espaços para a prática oral do ch’ol sobre temas do quotidiano. Além disso, promove-se o intercâmbio entre gerações, uma vez que reúne jovens e pessoas mais velhas para partilhar histórias e tradições, reforçando a aprendizagem da língua. Estas oficinas não só ensinam a língua, como também reforçam o sentido de identidade e o orgulho cultural dos jovens.
Estas atividades inspiraram-me a trabalhar para a preservação da minha língua. Comecei o meu ativismo fazendo vídeos para ensinar a língua ch’ol, partilhando vocabulário como frases do dia a dia e nomes de frutos e animais. Também gravei histórias orais, canções e práticas tradicionais. Além disso, participei em traduções para a língua ch’ol de histórias, adivinhas e trava-línguas. Com este trabalho, procuro preservar e partilhar os conhecimentos da minha comunidade para além das fronteiras geográficas
Foto: Aprendamos La Lengua CH’ol-Cholero de Corazón Tila (Vamos aprender a língua Ch’ol-Cholero do coração de Tila) Canal do YouTube
Para continuar a reforçar e a preservar a minha língua, faço parte do Programa de Ativismo Digital para as Línguas Maias da Rising Voices com o projeto “Vamos Aprender a Língua ch’ol”, que consiste numa série de workshops dirigidos a crianças e adolescentes da comunidade para que possam aprender a gramática e aumentar seu vocabulário na língua ch’ol. A prioridade é conseguir incutir nas crianças a importância de continuar a praticar e a reforçar a sua língua e os conhecimentos que nela existem. Este projeto tem como objetivo fazer prevalecer a história da comunidade através da infância, porque quando uma língua se extingue, morre a história de todo um povo.
Utilizando os meios digitais para revalorizar a língua ch’ol
A utilização dos meios digitais para reforçar a língua ch’ol tornou-se uma estratégia vital para a sua preservação e promoção, especialmente para facilitar o acesso a recursos linguísticos que permitem aos falantes e aprendizes se conectarem à sua língua de uma forma interativa e criativa.
A criação de conteúdos em ch’ol, como vídeos, podcasts e publicações, não só enriquece o património cultural, como também motiva as novas gerações a utilizar e valorizar a sua língua. Além disso, estas ferramentas digitais incentivam a criação de comunidades on-line, onde se partilham tradições, documentam-se histórias orais e se estabelecem redes de apoio, contribuindo assim para a revitalização e visibilidade da língua ch’ol num mundo cada vez mais digital.
Foto do Dr. Alberto Mariano Gutiérrez, usada sob permissão
Alguns dos desafios para as línguas indígenas são a globalização e a influência das línguas dominantes, como o espanhol, que levou a uma menor transmissão intergeracional do ch’ol. Outro desafio são as escolas, que muitas vezes não têm programas bilingues ou materiais didáticos na língua materna, o que significa que as crianças não têm a oportunidade de aprender e utilizar a sua língua materna em contextos educativos formais. A esta situação acresce o fato de o interesse dos pais em ensinar a língua ch’ol aos seus filhos ter diminuído e estes optarem por ensinar-lhes o espanhol como primeira língua, com receio de serem excluídos ou discriminados pela sua língua.
A preservação do ch’ol é uma tarefa crucial para garantir que o patrimônio cultural dos povos indígenas continua a ser uma parte ativa do patrimônio e da história globais. O reforço e a preservação das línguas é um esforço que exige uma ação concertada e um profundo respeito pela diversidade linguística e cultural que define a nossa humanidade comum. Por isso, espero que, ao criar workshops e vídeos, possa ter um maior impacto nas novas gerações e sensibilizá-las para o valor cultural das línguas indígenas.