Foto por Exile Hub, parceiro de conteúdo da Global Voices. Imagem usada com permissão.
Exile Hub é um dos parceiros da Global Voices no Sudeste Asiático, surgindo como resposta ao golpe de 2021 em Mianmar, com foco no empoderamento de jornalistas e defensores dos direitos humanos. Este artigo editado é republicado sob um contrato de parceria de conteúdo.
A jornada de Moon pelo ensino começa em 2014 no distrito de Kawkarate, estado de Karen. Desde seu primeiro dia, ela se destacou. Moon não se contentava apenas em seguir regras ou repetir o que sempre tinha sido feito. Sua motivação, criatividade e coragem rapidamente a diferenciaram. Em 2018, com apenas quatro anos de carreira, Moon havia assumido o papel de diretora interina de uma escola de ensino fundamental em sua cidade natal.
Educação como liberação, não como controle
Desde muito cedo, Moon se recusou a tratar a educação como treinamento de obediência. No Mianmar, sua classe estava repleta de perguntas, debates e risadas vívidas, de modo que, muitas vezes ela entrava em conflito com autoridades educacionais. Eles a lembravam que os estudantes deveriam “aprender sobre obediência”. Mas para Moon, a educação era sobre curiosidade, não subordinação.
“Cada palavra deve ser obedecida, cada comando seguido”, ela remonta ao sistema. “Até mesmo a religião é ensinada de forma injusta, com uma versão do Budismo sendo imposta, enquanto o Mianmar é o lar de diversas crenças”.
Para Moon, o real papel da educação é despertar o pensamento crítico. “Os próprios professores devem mudar primeiro, não as crianças. Os professores de Mianmar ainda ensinam em um formato militarizado”, explica. Onde outros viam o controle, Moon via a liberação. “A educação deve ir além dos livros didáticos para nutrir valores e a habilidade de questionar”.
Em exílio
Quando os militares de Mianmar tomaram o poder através de um golpe em 2021, não foi surpresa que a resistência de Moon se espalhasse pelas ruas. Ela amarrou uma fita vermelha em seu uniforme, liderou protestos e rapidamente se tornou uma líder visível do Movimento de Desobediência Civil (CDM) em sua pequena cidade. Porém sua coragem carregava grandes riscos. Soldados circularam sua foto, procurando por ela. Mesmo em sua família, o horror passou a se mostrar presente. Seu pai, que já foi soldado, tomou a dolorosa decisão de mandá-la embora para sua própria segurança.
Moon fugiu para Lay Kay Kaw, uma cidade no sudeste de Mianmar, deixando para trás seus estudantes, sua casa e a vida que tinha construído. Entretanto, o exílio trouxe suas próprias dificuldades. Em uma escola de migrantes do outro lado da fronteira, ela suportou a exploração, ganhando menos em um mês do que muitos trabalhadores ganhavam em uma semana. Ainda sim, ela se lembrava que tinha sorte por possuir comida, abrigo, e sobretudo, a chance de continuar ensinando.
Novas vozes, novos panoramas
“Eu sempre acreditei que o aprendizado nunca acaba, então eu continuo trabalhando para preencher as lacunas em mim mesma”, disse Moon. Essa crença a levou a se juntar ao programa de língua tailandesa do Exile Hub em Mae Sot. Lá ela aderiu a novas formas de expressão; treinamento de podcast, storytelling e até mesmo narração de documentários. Produziu um episódio de Resilient Voices (Vozes Resilientes), ampliando a história de um jovem LGBTQ+ em exílio. Posteriormente, cocriou um episódio documental “Freedom of Religion and Belief” (Liberdade Religiosa e de Crença) com outros profissionais de mídia também deslocados.
“Como professora, eu sempre contei histórias para os meus estudantes”, Moon reflete. “Agora, eu posso usar a storytelling para alcançar a comunidade, particularmente aqueles que enfrentam desafios como o meu”.
Comparada com quando foi forçada a deixar tudo para trás, Moon se descreve como uma pessoa mais forte, mais prática e mais focada no futuro. Nos seus dias mais difíceis, ela se lembra, “Apenas hoje que está difícil. Amanhã pode ser diferente”. Ela aprendeu a aceitar a incerteza como a única constante e a valorizar as risadas como um meio de sobrevivência.
Foto por Exile Hub, parceiro de conteúdo da Global Voices. Imagem usada com permissão.
Um sonho além da sala de aula
O sonho de Moon é simples e profundo. Um dia, ela imagina abrir uma pequena livraria com cafeteria, um lugar onde as pessoas podem nutrir tanto o corpo quanto a mente. Com um riso tranquilo, ela acrescenta, “Quando eu ligo para a minha mãe hoje em dia, eu sempre a lembro de não vender o nosso pequeno pedaço de terra. Um dia, voltarei e vou construir aquela cafeteria”.
Por agora, Moon continua ensinando de maneiras que seu antigo sistema escolar nunca permitiu. Por meio da sua voz, resiliência e da sua recusa em “ensinar como um soldado”, ela representa um diferente tipo de lição: a coragem de pensar diferente e a esperança de que mesmo em exílio uma professora ainda consegue inspirar mudança.







