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Ácido gama-linolênico (GLA): O que a ciência já sabe sobre os efeitos desse suplemento na saúde da mulher

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Ácido gama-linolênico (GLA): O que a ciência já sabe sobre os efeitos desse suplemento na saúde da mulher

O papel de ácidos graxos específicos na saúde da mulher, com destaque para o ácido gama-linolênico (GLA), está sendo investigado com a ajuda de novas abordagens científicas, como as tecnologias omics, a exemplo da metabolômica, da lipidômica e da transcriptômica. Elas permitem um entendimento integrado de ações metabólicas, lipídicas e gênicas de diversos componentes, incluindo ácidos graxos e suas interações com o organismo humano.

O GLA é um ácido graxo ômega-6 que tem despertado interesse por seu potencial anti-inflamatório e possível contribuição no manejo de condições hormonais. O GLA pode se formar no organismo a partir da ingestão do ácido linolênico, outro ômega-6 presente em alimentos como óleos de soja, milho e girassol, comuns na alimentação dos brasileiros. No entanto, essa conversão depende da ação de uma enzima específica chamada delta-6-dessaturase, cuja atividade pode diminuir com o envelhecimento, presença de doenças inflamatórias crônicas ou consumo excessivo de álcool e tabaco. Quando isso ocorre, a produção endógena — isto é, a conversão do ácido linoleico em GLA (ácido gama-linolênico) — pode ficar prejudicada, diminuindo a sua disponibilidade.

Por outro lado, quando consumido diretamente de suas fontes vegetais — óleo de sementes de plantas como prímula (Oenothera biennis), borragem (Borago officinalis) e groselha negra (Ribes nigrum) — o GLA já está pronto para ser metabolizado independentemente da ação da enzima. Uma vez absorvido, ele pode ser convertido em compostos biologicamente ativos, como prostaglandinas e leucotrienos, responsáveis por regular o processo inflamatório. Diante desse potencial anti-inflamatório, o GLA tem sido estudado em diversas condições de saúde, destacando-se sua atuação em quadros como menopausa e síndrome pré-menstrual, sintomas comuns em diferentes fases da vida reprodutiva feminina.

Paralelamente, cresce o consumo de suplementos alimentares no Brasil e no mundo, fortalecendo o interesse pela busca de evidências científicas que comprovem a ação desses produtos e a busca por substâncias naturais para aliviar esses sintomas, com alegações anti-inflamatórias e hormonais, como os ômegas, acompanha uma tendência global.

Diante disso, surge a pergunta: o que já se sabe sobre o GLA e seus efeitos na saúde da mulher e o que ainda precisa ser esclarecido?

Efeitos diferenciados

Ao contrário de outros tipos de Ômega-6, que, quando consumidos em excesso, podem estar associados ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares — como o ácido linoleico presente em óleos refinados, especialmente nos óleos de soja e de canola —, o ácido gama-linolênico (GLA) tem demonstrado potencial anti-inflamatório em diversos estudos científicos. A substância é precursora de prostaglandinas e leucotrienos de ação anti-inflamatória, lipídios bioativos (moléculas gordurosas envolvidas em processos biológicos) produzidos naturalmente no organismo humano a partir de ácidos graxos.

Estudos indicam que a suplementação com óleo de prímula ou borragem pode ajudar a aliviar manifestações da síndrome pré-menstrual, que envolve sintomas físicos, emocionais e comportamentais. Os sintomas foram atenuados quando o óleo de prímula, GLA isolado ou combinações de ácidos graxos — incluindo o GLA — foram administrados a mulheres com queixas de síndrome pré-menstrual, em comparação ao placebo. No grupo tratado, observou-se uma relação proporcional entre dose e resposta. Em todos os estudos, as doses foram rigorosamente controladas de acordo com a idade, o peso e a condição de cada participante.

A mastalgia (dor nas mamas) é um dos sintomas mais frequentes relatados por mulheres e associados à síndrome pré-menstrual. Em casos graves, podem ser necessários medicamentos para o alívio da dor. Pacientes com mastalgia apresentaram níveis reduzidos de prostaglandinas anti-inflamatórias e aumentados de prolactina.

Mulheres com dores e alterações benignas do tecido mamário (alterações fibrocísticas) tratadas com óleo de borragem combinado com minerais apresentaram melhora dos sintomas após três meses de suplementação. Também se observou redução no uso de medicamentos anti-inflamatórios OTC OTC (over-the-counter, isto é, comprados sem receita médica). Por outro lado, a suplementação com óleo de prímula não demonstrou melhora significativa após seis meses de uso. Essas diferenças nos desfechos podem estar relacionadas à dose empregada, à combinação de produtos ou ao tempo de duração dos estudos, que variam amplamente.

O que a ciência ainda precisa investigar

Durante o climatério, muitas mulheres enfrentam uma variedade de sintomas, como problemas urinários, dificuldades para dormir e alterações de humor. O sintoma mais frequente são as ondas de calor, também conhecidas como fogachos ou calorões. Esses episódios de calor intenso costumam durar de 3 a 10 minutos e podem variar em intensidade e frequência, interferindo na qualidade de vida, no sono e no bem-estar geral. Nos episódios mais intensos, os vasos sanguíneos se dilatam, aumentando o fluxo sanguíneo e a temperatura da pele. Esse processo se assemelha a uma inflamação e pode estar associado a alterações hormonais típicas dessa fase. O GLA é precursor de diferentes hormônios, o que explica o interesse em estudá-lo como suplemento para aliviar diversos sintomas.

Em estudos, o óleo de prímula — quando administrado isoladamente ou em combinação com isoflavonas e vitamina E, por períodos de 6 a 24 semanas — demonstrou reduzir a intensidade dos calorões. Também se observou melhora na atividade social e sexual após a suplementação combinada.

Outro sintoma frequente é a secura ocular, relacionada às alterações hormonais, principalmente à queda dos níveis de estrogênio, o que pode reduzir a produção e a qualidade das lágrimas, levando ao desconforto nos olhos. A suplementação em mulheres com síndrome do olho seco, com óleo de groselha-negra combinado ao óleo de peixe e a vitaminas, demonstrou efeitos positivos após 24 semanas de suplementação.

Aparentemente, a suplementação com GLA é segura para a população em geral, de acordo com estudos científicos conduzidos em diversos países. Ainda assim, como ocorre com qualquer suplemento, o GLA pode causar efeitos adversos em uma pequena parcela da população.

Embora os resultados dos estudos sobre o GLA sejam promissores, ainda existem lacunas na literatura quanto à sua eficácia em diferentes condições, à dose ideal e ao tempo de suplementação, além de dúvidas sobre seus efeitos a longo prazo. O GLA se apresenta como uma alternativa natural promissora, mas a personalização e o acompanhamento com profissionais de saúde continuam sendo essenciais.

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