Como podemos viver mais tempo? É uma questão antiga, e uma que os cientistas há muito tentam responder.
Sabemos que a alimentação, o exercício físico e a genética desempenham um papel importante no processo de envelhecimento e na expectativa de vida de cada um de nós. Também sabemos que certos medicamentos têm o potencial de aumentar nossa expectativa de vida. Mas ainda há muito que não sabemos sobre o que faz com que uma pessoa viva até os 102 anos, e outra apenas até os 72.
Mas um novo estudo parece sugerir que a psilocibina, encontrada nos chamados “cogumelos mágicos”, poderia ter potencial como medicamento para aumentar a longevidade. Nele, pesquisadores descobriram que a psilocina – o composto que o corpo produz após a ingestão de psilocibina – ajudou células humanas a viverem mais tempo em laboratório, e que a psilocibina aumentou as taxas de sobrevivência em camundongos mais velhos.
O estudo gerou inúmeras manchetes na mídia afirmando que os cogumelos mágicos poderiam ser o segredo para viver mais tempo. Mas, como alguém que estuda compostos psicodélicos como a psilocibina há 20 anos – com foco específico na dosagem psicodélica em humanos e roedores –, acho que as afirmações foram exageradas e que aplicar estas descobertas em seres humanos é profundamente problemático.
Um olhar mais atento
O estudo foi realizado em duas etapas. A primeira parte foi um experimento simples, no qual os pesquisadores trataram células pulmonares humanas com psilocina. Eles descobriram que, com o tempo, essas células cresceram um pouco mais rápido do que as células que não receberam psilocina e sobreviveram por mais tempo – em média, as células tratadas com psilocibina viveram 28,5% mais.
Eles também examinaram marcadores de saúde celular, observando especificamente quantas células mostravam sinais de envelhecimento, e descobriram menos marcadores relacionados à idade nas células tratadas com psilocina.
Em seguida, os pesquisadores realizaram um experimento usando camundongos mais velhos, que receberam placebo ou psilocibina. Os camundongos que receberam psilocibina tomaram primeiro uma dose de cinco miligramas por cada quilograma que pesavam para ajudá-los a se acostumar com a droga e, nos nove meses seguintes, receberam uma dose mais alta de 15 miligramas por cada quilograma de peso uma vez por mês. Os camundongos foram então monitorados até morrerem.
Verificou-se que a psilocibina prolongava a vida dos camundongos, com os animais tratados começando a morrer por volta dos 25 meses de idade, em comparação com os 21 meses dos que não receberam a substância.
Após dez meses de tratamento, 80% do grupo tratado com psilocibina ainda estava vivo, enquanto apenas metade dos camundongos não tratados havia sobrevivido. Os animais tratados também pareciam mais jovens, com pelagem mais saudável, menos grisalha e com mais crescimento, sugerindo que a droga pode ter retardado alguns aspectos do envelhecimento.
Altas doses, alto risco
Então, por que isso está acontecendo? Bem, os cientistas já sabem que a psilocina ativa muitos receptores de serotonina no cérebro e atua como um antioxidante (o que pode prevenir ou retardar os danos celulares), ambos promovendo a sobrevivência e o crescimento celular. Portanto, isso pode estar contribuindo.
Outro aspecto a considerar é que um desses receptores cerebrais – o receptor 2C –, que não está relacionado aos efeitos psicodélicos, controla o apetite e o metabolismo.
E aqui está a questão: já sabemos que comer menos pode prolongar a vida de forma confiável. Portanto, no mínimo, o estudo deveria ter nos informado quanto os camundongos estavam comendo e como seu peso mudou ao longo do estudo — apenas para garantir que suas vidas mais longas não fossem simplesmente porque estavam comendo menos.
Mas aqui está o verdadeiro problema: uma dose de 15 miligramas por quilograma em camundongos reflete uma dose extremamente alta de psicodélicos. A administração dessa dose mensalmente por até nove meses nunca foi feita em estudos com seres humanos. Na verdade, roedores expostos a doses elevadas repetidas de psicodélicos apresentaram, em estudos anteriores, sinais de esquizofrenia.
Vale acrescentar que, em termos de dosagem animal para humana, não é tão simples quanto ajustar pelo peso, pois animais menores têm uma frequência cardíaca mais rápida e metabolizam medicamentos mais rapidamente. Mas, mesmo levando isso em consideração, a quantidade de psilocibina administrada nos camundongos seria equivalente a um humano ingerir mais de sete gramas de cogumelos. Para contextualizar, isso é mais do que o dobro do que é considerado uma dose forte ou “heróica” para a maioria das pessoas – uma dose típica é entre um e três gramas.
Boom psicodélico
Então, onde isso nos leva? Bem, a psilocibina e outras substâncias psicodélicas têm recebido muita atenção nos últimos anos, especialmente no mundo da pesquisa em saúde mental, com inúmeros estudos (e indivíduos) relatando efeitos positivos.
Alguns estados dos EUA, como Oregon e Colorado facilitaram o acesso à psilocibina recreativa, e outros países, como a Alemanha, a República Tcheca e a Austrália ignoraram completamente os sistemas regulatórios para fornecer psilocibina em casos de depressão grave.
Isso é preocupante, porque quando usados indevidamente ou em doses muito altas, os cogumelos mágicos, ou psilocibina, podem levar a problemas psicológicos de longo prazo, como ansiedade e paranóia persistentes e, em casos raros, distúrbios visuais podem continuar muito tempo após o efeito da droga ter passado. De fato, durante as décadas de 1960 e 1970, alguns estudos realizados em pacientes em ambientes duvidosos e com altas doses levaram a experiências ruins.
Esses efeitos são mais comuns em pessoas com vulnerabilidades de saúde mental subjacentes ou que usam psicodélicos de forma irresponsável, e são menos prováveis de ocorrer quando usados dentro da segurança de um ambiente terapêutico ou clínico. Mas, ainda assim, precisamos ter muito cuidado com a forma como conduzimos essas conversas e relatamos pesquisas psicodélicas, dado que existe o potencial para uso indevido e efeitos colaterais perigosos.
Este artigo foi encomendado pela Videnskab.dk como parte de uma parceria com o The Conversation. Você pode ler a versão dinamarquesa deste texto aqui.