Neste domingo, 22 de fevereiro, a Alemanha realizará eleições legislativas antecipadas, que definirão os possíveis candidatos ao posto de chanceler – ou seja, o chefe do próximo governo alemão. A atual legislatura, que deveria estender-se até o final deste ano, terminou com a convocação de eleições antecipadas após o colapso da coalizão “semáforo” – nome derivado das cores dos partidos que a compunham: o Partido Social-Democrata (SPD), o Partido Verde e os Liberais (FDP).
A aliança política se desfez devido a divergências em relação ao orçamento para 2025. De um lado, estavam os verdes e os social-democratas, que defendiam maior flexibilidade fiscal; do outro, os liberais, ferrenhos defensores da austeridade, recusaram-se a apoiar a proposta orçamentária e decidiram deixar o governo em novembro de 2024. Com um governo minoritário, o atual chanceler, Olaf Scholz (SPD), convocou eleições para este mês. Nesse contexto, surge a pergunta: quais são os cenários possíveis para o pleito deste domingo?
A ascensão da CDU e a mudança de rumo na centro-direita
Todas as pesquisas indicam uma vitória quase certa da oposição tradicional, composta pela União Democrata-Cristã (CDU) e sua aliada na Baviera, a União Social-Cristã (CSU), ambas de centro-direita. O líder da CDU e provável futuro chanceler, Friedrich Merz, não é conhecido pela moderação. Pelo contrário, tem sido um crítico vocal de Angela Merkel, última chefe de governo de seu partido, principalmente em relação à sua política de portas abertas a refugiados em 2015-2016.
Merz adota uma retórica inflamada sobre imigração e promete endurecer as regras para a entrada de estrangeiros na Alemanha. Esse posicionamento levou-o a votar, junto com a extrema-direita (Alternativa para a Alemanha – AfD), a favor de uma moção parlamentar não vinculante para endurecer as leis migratórias. Essa atitude rompeu o chamado Brandmauer (literalmente, “muro contra o fogo”), um compromisso histórico dos partidos majoritários de não colaborar com a extrema-direita no nível federal.
A postura de Merz contrasta com a de Merkel, que sempre buscou distanciar-se do extremismo da AfD. Em 2018, a CDU aprovou uma resolução reafirmando explicitamente sua rejeição a coalizões ou qualquer forma de cooperação com a AfD e o partido de esquerda radical Die Linke (A Esquerda).
O avanço da extrema-direita
As pesquisas apontam que a AfD deve ocupar o segundo lugar no pleito. O partido aposta fortemente em sua presença nas redes sociais, especialmente no TikTok, onde busca atrair eleitores mais jovens. Seu domínio eleitoral é mais expressivo no leste da Alemanha, território da antiga República Democrática Alemã.
Na Turíngia, a AfD foi o partido mais votado, apesar de seu candidato, Björn Höcke, ter sido condenado por uso de um slogan neonazista. Na Saxônia, a legenda ficou em segundo lugar. No entanto, em ambos os estados, a CDU preferiu formar coalizões com partidos de esquerda – na Saxônia, com o SPD; na Turíngia, com o SPD e a recém-criada Aliança Sarah Wagenknecht – para impedir que a extrema-direita chegasse ao poder executivo.
A líder da AfD, Alice Weidel, tem ganhado projeção, em grande parte devido ao apoio internacional. Recentemente, ela recebeu um endosso significativo do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e de seu governo. Elon Musk, agora à frente do recém-criado Departamento de Eficiência Governamental da administração Trump, entrevistou Weidel em uma transmissão ao vivo na plataforma X (ex-Twitter) e até discursou em um comício da AfD, criticando o que chamou de “culpa histórica” dos alemães em relação ao passado nazista.
Apesar do crescimento da AfD, a chanceleria parece fora do alcance de Weidel. O partido nunca ultrapassou a CDU nas intenções de voto e as pesquisas atuais indicam uma diferença de aproximadamente 10 pontos percentuais entre as duas siglas. Além disso, no nível federal, a CDU dificilmente romperá o Brandmauer, tendo optado por evitar colaborações com a extrema-direita mesmo em estados onde a AfD teve bom desempenho.
O declínio do SPD e dos Verdes
Os dois partidos mais à esquerda na atual coalizão de governo, o SPD e os Verdes, vêm perdendo popularidade. O governo Scholz enfrentou crises externas, como a invasão russa à Ucrânia e a consequente crise energética europeia, além de turbulências internas, incluindo o colapso da coalizão devido à discordância sobre o orçamento de 2025.
Scholz é amplamente visto como um burocratasem carisma, incapaz de lidar com uma Alemanha que já não desfruta da estabilidade econômica e política dos anos Merkel (2005-2021). As pesquisas indicam que o SPD deve obter cerca de 15,5% dos votos – um declínio significativo em relação aos 25,7% conquistados em 2021.
Os Verdes, liderados pelo Ministro da Economia e Ação Climática, também enfrentam dificuldades. O partido tem perdido apoio entre os jovens, que foram fundamentais para sua ascensão em 2021. No entanto, suas intenções de voto permanecem próximas de 13%, pouco abaixo dos 14,1% obtidos na eleição anterior, mas insuficientes para colocá-los entre as três principais forças políticas na próxima legislatura.
Possíveis arranjos para o novo governo
Dado o cenário atual, a formação de uma “Grande Coalizão” entre CDU e SPD parece ser a solução mais provável para o próximo governo alemão. Embora juntos eles possam não alcançar 50% dos votos, a distribuição das cadeiras no parlamento alemão – que adota um sistema eleitoral misto, combinando representação proporcional e distritos majoritários – pode garantir uma maioria suficiente.
Caso essa opção não seja viável, uma coalizão tripartite, incluindo os Verdes ou os Liberais, não pode ser descartada, embora seja considerada menos provável.