O próximo dia 5 de setembro é o Dia Mundial da Amazônia. Nesta semana que precede a data, o The Conversation Brasil publica uma série de artigos que discutem o passado, o presente e o futuro deste ecossistema que já é, há milhares de anos, o mais importante do mundo sob o ponto de vista geográfico e biológico. E que agora ganha ainda mais importância sob as cores da geopolítica, do abuso dos interesses econômicos, da necessidade de proteção dos povos originários e, sobretudo, da minimização dos efeitos das mudanças climáticas. No artigo abaixo, gerente Executivo de Meio Ambiente do Pacto Global da ONU defende a importância da participação do setor empresarial criativo e inovador para o sucesso da na COP 30, a COP da Amazônia, que ocorre em novembro em Belém.
Quando Belém do Pará for palco da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em 2025 (COP 30), o mundo voltará seus olhos para o coração da Amazônia. Mais do que uma escolha geográfica simbólica, a realização da COP 30 no Brasil representa uma convocação urgente e histórica para que o país assuma papel de liderança na construção de um futuro sustentável, justo e economicamente transformador. Diante dos desafios logísticos, como infraestrutura e preços elevados de algumas hospedagens, é compreensível o ceticismo de alguns. No entanto, é exatamente nesse contexto de adversidade que reside a maior oportunidade: mostrar ao mundo que o Brasil não apenas possui soluções reais para a crise climática, mas que já as está implementando.
O Pacto Global – Rede Brasil, com mais de dois mil participantes engajados, entre empresas e organizações não empresariais, está mobilizando o setor empresarial brasileiro para que a COP 30 seja muito mais do que um evento diplomático. A iniciativa pretende transformá-la em um catalisador de ações coletivas, inovação e justiça climática. Um dos pilares desse esforço é o Programa Pacto Rumo à COP 30, que articula um portfólio de 12 iniciativas estratégicas abrangendo desde descarbonização do transporte marítimo até resiliência hídrica, passando por economia circular e pela justiça climática nos setores de saúde e moda.
Além dos governos, empresas também têm compromissos na COP 30
Entre essas iniciativas destaca-se o Movimento Ambição Net Zero, que já conta com 130 empresas comprometidas em definir metas de redução de emissões alinhadas à ciência. Essas corporações demonstram que competitividade e responsabilidade climática não são opções excludentes, mas sim faces de uma mesma moeda: a inovação sustentável. Na mesma esteira de mobilização do setor empresarial, recentemente veio à tona o Sustainable Business COP (SB COP), grupo de empresas liderando forças-tarefa, aos moldes do G20, quando se abriu espaço ao Business 20, onde empresas apresentam soluções e firmam parcerias concretas. Apoiado pelo Pacto Global – Rede Brasil, o SB COP não é apenas uma vitrine, sim um laboratório de transformação, onde teoria encontra prática e a ambição se traduz em metas mensuráveis.
O Brasil tem vantagens comparativas únicas nesse cenário! A riqueza de sua biodiversidade, a maturidade de sua matriz energética renovável, com mais de 80% da eletricidade gerada a partir de fontes limpas, e o pioneirismo na produção de biocombustíveis posicionam o país como um ator-chave na transição energética global. O etanol de cana-de-açúcar, por exemplo, desenvolvido desde os anos 1970, é uma tecnologia comprovada de descarbonização rápida, de baixo custo e alto nível de sustentabilidade. É hora de desmistificar esse setor e garantir que ele seja reconhecido internacionalmente com base em critérios científicos objetivos.
Um palco de muitas iniciativas nacionais e internacionais
Além das grandes corporações que já confirmaram presença na COP, há movimentos poderosos liderados por micro e pequenas empresas. Empreendedores da bioeconomia, turismo sustentável e tecnologias verdes, estarão em Belém para apresentar soluções criadas a partir do conhecimento local, da floresta em pé e da sabedoria territorial. Há inúmeras “houses” (espaços dedicados para agregar empresas e/ou iniciativas) na cidade; há iniciativas internacionais também aterrissando no território paraense durante os 10 dias de conferência, como o TED, Goals House, Nature Hub, entre outros. Toda COP é única e diferente ao mesmo tempo; é o momento de conexão entre os países e as iniciativas globais.
Momento importante para o financiamento climático
A COP 30 também será um momento decisivo para o financiamento climático. Estima-se que sejam necessários US$ 1,3 trilhão anuais para viabilizar a transição global. No Brasil, a Taxonomia Sustentável Brasileira surge como um instrumento estratégico para direcionar esses recursos a projetos alinhados com a nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), que prevê a redução de 59 a 67% das emissões de gases de efeito estufa até 2035 (em relação a 2005), e o alcance do net zero até 2050. A Taxonomia, baseada em critérios científicos, pode ajudar a evitar o greenwashing e garantir que os investimentos realmente contribuam para a mitigação e adaptação climática.
Claro, os desafios são reais. A infraestrutura para COP30 ainda está em fase de aceleração, e os custos de logística preocupam. Mas essas dificuldades não devem ofuscar o potencial transformador do evento. A COP 30 pode ser o marco que consolida o Brasil como um líder global em soluções baseadas na natureza, inovação verde e transição justa. É uma oportunidade de mostrar ao mundo que a Amazônia não é apenas um patrimônio a ser protegido, mas um ativo produtivo, fonte de conhecimento, biodiversidade e esperança.
A COP 30 não será o fim de uma jornada, mas o início de uma nova era, com o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental no centro. O Brasil tem tudo para liderar essa transformação.