Peixe-sapo (e outras criaturas marinhas), Michael Norman. Foto do autor. Usada com permissão.
Equipamentos de pesca abandonados, perdidos e descartados (ALDFG, na sigla em inglês) representam uma ameaça global. As redes de pesca, em particular, continuam a capturar peixes e outras criaturas marinhas — fenômeno frequentemente chamado de “pesca fantasma”.
De acordo com o World Wildlife Fund (WWF):
It’s estimated that ghost gear makes up at least 10% of marine litter. This roughly translates to between 500,000 and 1 million tons of fishing gear abandoned in the ocean each year. Ghost gear impacts marine mammals, seabirds, sea turtles, and more, and is the type of debris that has proven to be the most lethal.
Estima-se que os equipamentos de pesca fantasma representem pelo menos 10% do lixo marinho. Isso equivale a aproximadamente entre 500 mil e 1 milhão de toneladas de equipamentos de pesca abandonados nos oceanos a cada ano. Esse tipo de resíduo afeta mamíferos marinhos, aves marinhas, tartarugas e muito mais, sendo o tipo de detrito mais letal já identificado.
Um dos destaques da Feira de Arte Indígena de Cairns (CIAF) de 2024 foi a exposição de obras feitas com redes fantasmas. Essa forma de arte utiliza redes de pesca abandonadas e outros materiais descartados encontrados nas praias.
Artes em Redes Fantasmas CIAF 2024: À esquerda: Doçura da Raia por Florence Gutchen, 2024; À direita: Lagosta no recife – Eric’s Home Reef por Jimmy John Thaiday, 2024. Imagens de cortesia do CIAF. Usadas com permissão.
É uma forma de arte que vem crescendo desde o início dos anos 2000. A GhostNets Australia foi criada em 2004 e faz parte dos programas da Ocean Earth Foundation. Desde então, vem promovendo soluções para o problema.
Este vídeo mostra a dimensão do problema e o trabalho realizado com as comunidades de Erub e Darnley, no Estreito de Torres:
A CIAF também realizou uma oficina de grande sucesso — a Ghost Nets Masterclass — com Lavinia Ketchell, do Erub Arts.
Museus australianos têm apresentado essas obras de arte com frequência. O Museu Marítimo Nacional da Austrália organizou uma coleção na exposição Au Karem Ira Lamar Lu — Ghost Nets of the Ocean (Redes Fantasmas do Oceano). Este vídeo acelerado mostra a instalação da exposição em 2018:
O Museu Australiano, em Sydney, possui esculturas feitas com redes fantasmas em sua coleção.
A Ocean Earth Ghost Nets Australia vem promovendo a arte com redes fantasmas há mais de 20 anos. Seu vídeo, The Young Man and the Ghost Net (O menino e a rede fantasma), mostra o primeiro espetáculo de marionetes realizado no Estreito de Torres e também ilustra como as redes estão causando danos ao meio ambiente na região:
Não é difícil encontrar materiais para a criação artística. Esta armadilha de caranguejo abandonada foi achada nas passarela dos manguezais, próxima ao aeroporto de Cairns, em 2024:
Armadilha de caranguejo abandonada em Cairns, julho de 2024. Foto do autor. Usada com permissão.
Mylene Holroyd, do Centro de Artes e Cultura de Pormpuraaw, usou uma rede semelhante nesta obra exibida abaixo na CIAF 2024. Ela retrata totens locais feitos com linha e escamas de salmão. Um totem é um elemento natural que possui um significado especial para os aborígenes.
Tartaruga-marinha em rede fantasma por Mylene Holroyd. Foto do autor. Usada com permissão.
Esta grande escultura, Nga’a Pinporro, foi criada pela Comunidade Aborígene de Pormpuraaw e está localizada no Barramundi Discovery Centre, em Karumba, na costa do Golfo de Carpentária.
Nga’a Pinporro – Barramundi Discovery Centre, Karumba, Queensland. Foto do autor. Usada com permissão.
Existem projetos em outros países que também transformam resíduos oceânicos em arte. O Washed Ashore foi fundado em Oregon, EUA, em 2010 por Angela Pozzi. Desde então, o projeto já criou mais de 66 esculturas de grande porte, como esta mostrada no Instagram:
Advinha? Nossa mais nova exposição foi inaugurada no Clearwater Marine Aquarium, em Clearwater, na Flórida, famoso por resgatar e reabilitar a golfinho Winter, do filme Winter, o Golfinho (Dolphin Tale)!
Não deixe de dar um mergulho por lá na sua próxima visita à cidade!
A arte com redes fantasmas não só chama a atenção para o problema ambiental, como também ajuda a apoiar financeiramente artistas e suas comunidades, além de fornecer recursos para iniciativas de remoção de resíduos do meio ambiente. Um desses projetos é o programa Oceans Art, da Hunter Gatherer Network, que apoia “mulheres artistas aborígenes, fornecendo equipamentos e programas de treinamento para recuperação, reaproveitamento e reciclagem de detritos marinhos”. Ele é financiado pela Plastic Collective, em parceria com a Charles Sturt University (CSU) e teve um estande no Mercado de Arte da CIAF.
Hunter Gather Network — Dr. Anwaar Ulhaq (CSU), Lousie Hardman, Jeremy Sheehan (Hunter Gatherer Network) — na Feira de Arte Aborígena de Cairns. Foto do autor. Usada com permissão.
As redes são encontradas nas praias mais remotas da Austrália. A Chilli Beach fica na costa leste de Cape York. Mesmo há 12 anos, lixo abandonado estava marcando a costa e contribuindo para a disseminação de microplásticos:
Existem muitos outros esforços para livrar os oceanos dos detritos de pesca, especialmente iniciativas globais como a Ocean Conservancy. Seu programa Trash Free Seas mobiliza voluntários, realiza pesquisas e campanhas de conscientização pública. Também atua de forma proativa na prevenção:
We prevent trash from entering the waters by working with everyone from individuals to businesses to change the products, practices and behaviors that lead to ocean trash.
Nós evitamos que o lixo entre nas águas trabalhando com todos, desde indivíduos até empresas, para mudar os produtos, práticas e comportamentos que levam lixo aos oceanos.