Este artigo foi escrito por Kelly Ho e publicado no Hong Kong Free Press em 26 de outubro de 2025. A versão editada abaixo foi publicada como parte de um acordo de compartilhamento de conteúdo com a Global Voices.
Se você der uma olhada rápida no perfil do Instagram de Steven Tang, talvez pense que ele é um influenciador de comida. A maioria de seus posts mostram pratos locais tradicionais de Hong Kong: arroz de carne assada, tortinhas de ovo, macarrão instantâneo com carne processada, e por aí vai.
Mas se você olhar mais de perto, vai se surpreender em perceber que eles são, na verdade, todos desenhados à mão pelo artista de 26 anos de Hong Kong.
Desde sua criação em 2018, a página do Instagram de Tang atraiu mais de 45.000 seguidores. Muitos comentaram que suas obras de arte faziam “salivar”, enquanto outros elogiavam a aparência realista dos seus desenhos.
Tang é um artista autodidata que nunca estudou arte formalmente. Ele disse ao Hong Kong Free Press (HKFP) que não esperava que desenhar com lápis coloridos fosse transformar seu hobby de infância em uma profissão.
Um “foodie”, Tang começou a divulgar a arte culinária como forma de dar vida aos seus pratos favoritos no papel. Sua primeira obra de arte a ganhar atenção do público foi publicada em 2018: uma tigela de macarrão de arroz no estilo Yunnan da popular rede de restaurantes local TamJai.
Desde então, foi convidado para participar de exibições coletivas, algumas com temáticas em torno da arte realista relacionada à culinária. Ele esteve presente no Art Central em 2023 e na Affordable Art Fair no ano passado.
Não é “real”
Apesar do quão realista o trabalho de Tang parece, ele disse, não é exatamente “real”.
O artista às vezes tira fotos de comida para servir de referência. Ou ele compra comida e leva para o seu estúdio para compor a versão “ideal” dos pratos. Ele às vezes faz mudanças na forma e estrutura do alimento para tornar o prato visualmente mais satisfatório.
Quando ele desenhou um prato de arroz siu mei (燒味飯), iguaria cantonesa feita com arroz cozido no vapor e carne assada, Tang adicionou um pouco de char siu (churrasco de porco 叉燒) sem ter comprado isso porque era muito difícil achar churrasco de porco visualmente perfeito, ele disse. Assim, seu desenho não seria definido pela forma como o chefe preparou o prato.
“Ter a habilidade de ‘inventar coisas’ depende da sua experiência, o que significa quantas vezes você desenhou aquele item antes”, ele disse, em cantonês.
Alguns dos pratos que Tang ama podem não aparecer no papel, como aqueles “lambuzados de molho”, porque podem não ser visualmente convidativos. Ele tem que considerar o que “pode vender” quando faz um desenho, o artista disse.
Capturando sabores em extinção
Tang se inspirou para criar desenhos da culinária popular de Hong Kong, em parte, para compartilhar sua paixão por comida com o mundo e, em parte, porque ele temia que alguns pratos pudessem “desaparecer” um dia, especialmente numa cidade onde o fechamento de lojas não é incomum.
Graduado na Universidade Chinesa de Hong Kong, ele fez um desenho de uma refeição com dois pratos de arroz na cantina do campus, onde ia o tempo todo quando cursava o bacharelado em Ciência da Computação. Desde então, a cantina fechou, e ele nunca mais encontrou o mesmo sabor em outro lugar.
“Algumas pessoas vão dizer que tirar uma foto é suficiente, mas eu acho que fazer um desenho torna a coisa mais memorável. Eu acho que é bastante significativo capturar os sabores que podem estar desaparecendo por meio dos meus desenhos”, ele disse.
Desafios criativos
Um desenho dos pratos tradicionais de Hong Kong dim sum pelo artista local Steven Tang. Imagem: Kyle Lam/HKFP. Usada com permissão
Depois de divulgar a arte culinária realista por mais de sete anos, Tang admite que, às vezes, tem dificuldade em pensar sobre modos criativos de apresentar a comida popular de Hong Kong. Ele já desenhou o famoso “arroz da montanha de hambúrguer de porco” (肉餅山飯) de um restaurante local, Man Shing Restaurant (民聲冰室), no formato da montanha Lion Rock, assim como dim sum em espetinhos.
Manter a sua criatividade fluindo não é fácil, Tang disse. Além de compor meticulosamente o desenho, ele também gasta mais tempo e esforço planejando a apresentação do seu trabalho nas redes sociais.
Tang costumava postar vídeos em time-lapse documentando seu processo criativo, o que gerava bastante engajamento quando ele começou sua jornada criativa.
No entanto, com os algoritmos de conteúdo mudando ao longo dos anos, Tang acha mais difícil promover o seu trabalho. Para fazer sua arte ficar mais interessante, ele tem incorporado utensílios reais, como palitos de bambu e hashis, quando faz vídeos curtos para atrair mais atenção no Instagram.
O maior desafio de Tang ainda é encontrar tempo para gerenciar seu próprio estúdio de desenho e dar aulas. Ele costumava passar horas em suas obras, sacrificando o sono, mas agora ele se sente muito cansado com frequência.
Tang disse que muitos artistas em tempo integral trabalham em parceria com uma galeria e dedicam todo o seu tempo à criação de novas obras, em vez de dar aulas.
Ele entende que este pode ser o passo que precisa dar para avançar em sua carreira como artista, mas ainda não está pronto para deixar de dar aulas, especialmente porque não sabe se conseguirá se sustentar financeiramente apenas com a venda das obras.
“O mercado de arte pode não necessariamente gostar do meu trabalho, então é uma aposta”, ele disse.
Não ameaçado pela IA
O artista tem grandes planos para o ano que vem, quando terá sua primeira exposição solo, em setembro. Ele terá que criar mais de dez desenhos para a mostra.
Tang também quer reviver seu canal de YouTube em língua cantonesa, que esteve parado por mais de cinco anos, e continua fazendo tutoriais de desenho.
Conforme a tecnologia de inteligência artificial (IA) continua a avançar, muitos computadores têm sido capazes de recriar imagens baseadas em prompts pedindo por estilos de artistas específicos. Quando perguntado se ele sente que a ascensão da IA ameaça o seu trabalho, Tang está confiante de que artistas bem-sucedidos não vão perder o seu valor.
O que artistas emergentes como ele precisam fazer hoje em dia é construir uma marca pessoal única que permita ao público distinguir o seu trabalho daqueles gerados por IA, disse ele.
“A IA pode talvez gerar uma pintura do Van Gogh, mas você não vai pensar que o trabalho dele perdeu valor por causa da IA”, ele disse. “Eu espero que um dia, quando as pessoas falarem de artistas de lápis colorido em Hong Kong, eu vou ser o primeiro nome de que elas se lembram”.







