Authors
Disclosure statement
Kate Spencer recebe financiamento do NERC, da Lloyd’s Register Foundation e do programa Interreg IV da UE Preventing Plastic Pollution.
Nan Wu trabalha para a Queen Mary University of London e para o British Antarctic Survey. Nan Wu recebe financiamento da Lloyds Register Foundation, Reino Unido, Queen Mary University of London Principal Studentships, e do projeto EU INTERREG France (Channel) England ‘Preventing Plastic Pollution’, cofinanciado pelo European Regional Development Fund.
Partners
Queen Mary University of London provides funding as a member of The Conversation UK.
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DOI
Quando pensamos na poluição por plásticos no oceano, imaginamos garrafas e sacolas flutuando nas ondas, lentamente sendo levadas para o mar. Mas a realidade é mais complexa e muito mais persistente.
Mesmo que parássemos toda a poluição plástica hoje, nossa nova pesquisa mostra que fragmentos de plástico flutuante continuariam a poluir a superfície do oceano por mais de um século. Esses fragmentos se decompõem lentamente, liberando microplásticos que afundam na coluna d’água a um ritmo lento. O resultado é uma “correia transportadora natural” de poluição que liga a superfície ao fundo do mar.
Nosso novo estudo se propôs a entender o que acontece com grandes pedaços de plástico flutuante depois que entram no oceano. Desenvolvemos um modelo computacional para simular como esses plásticos se degradam, se fragmentam e interagem com as partículas suspensas pegajosas conhecidas como “neve marinha”, que ajudam a transportar matéria para o fundo do mar.
A neve marinha é a neve natural do oceano: pequenos flocos pegajosos de plâncton morto e outras partículas orgânicas que se aglomeram e afundam lentamente, levando tudo o que se cola a eles, como microplásticos, para as profundezas.
O novo modelo baseia-se em nosso trabalho anterior sobre o destino a longo prazo de microplásticos menores que 1 mm, que mostrou que os plásticos só interagiriam com partículas orgânicas finas em suspensão depois de se decomporem e atingirem um limite crítico de tamanho. Mas esse modelo simples e unidimensional não considerava outros processos físicos, como as correntes oceânicas.
Ao relacionar a degradação do plástico aos processos oceânicos, incluindo a sedimentação da neve marinha, agora fornecemos uma visão mais completa de como as pequenas partículas de plástico se movem pelo sistema oceânico e por que alguns plásticos flutuantes parecem desaparecer da superfície.
O problema do “plástico desaparecido”
Quando plásticos grandes, como embalagens de alimentos ou fragmentos de equipamentos de pesca, chegam ao oceano, eles podem permanecer flutuando por anos, sendo lentamente desgastados pela luz do Sol e pelas ondas e colonizados por biofilme marinho – comunidades microbianas que vivem na superfície do plástico.
Com o tempo, estes plásticos se quebram em pedaços cada vez menores, tornando-se eventualmente pequenos o suficiente para se fixarem à neve marinha e afundarem. Mas essa é uma transformação lenta. Após 100 anos, cerca de 10% do material original ainda pode ser encontrado na superfície do oceano.
Quanto ao restante, os cientistas há muito tempo notaram uma discrepância intrigante entre a quantidade de plástico que entra no oceano e as quantidades muito menores encontradas flutuando na superfície. Os plásticos flutuantes devem ser removidos da camada superficial do oceano por meio da degradação e do afundamento, mas até agora os números não batem. Nossas descobertas ajudam a explicar esse problema do “plástico desaparecido”.
Não somos os primeiros cientistas a relatar o afundamento de microplásticos. Mas, combinando trabalhos experimentais sobre como os microplásticos se associam a sedimentos finos em suspensão com nossa modelagem dos processos de degradação do plástico e sedimentação da neve marinha, fornecemos estimativas realistas de como os microplásticos são removidos da superfície do oceano, o que explica o plástico desaparecido.
A bomba biológica natural do oceano, frequentemente descrita como uma esteira transportadora, move carbono e nutrientes da superfície para o fundo do mar. Nossa pesquisa sugere que esse mesmo processo também move plásticos.
No entanto, há um custo potencial. À medida que a produção global de plástico continua a aumentar, a bomba biológica pode ficar sobrecarregada. Se muitos microplásticos se fixarem à neve marinha, eles podem interferir na eficiência com que o oceano armazena carbono — um efeito que pode ter consequências para os ecossistemas marinhos e até mesmo para a regulação climática.
Uma correia transportadora de poluição
A poluição por microplásticos não é um problema de curto prazo. Mesmo que conseguíssemos zerar o descarte de plásticos hoje, a superfície do oceano continuaria contaminada por décadas.
Para lidar com o problema de forma eficaz, precisamos pensar a longo prazo, não apenas em limpezas de praias ou oceanos. As políticas precisam abordar a produção, o uso e o descarte do plástico em todas as etapas. Entender como o plástico se move pelo sistema oceânico é um passo crucial para atingir esse objetivo.
Itens plásticos grandes e flutuantes se degradam ao longo de décadas, liberando microplásticos à medida que se desintegram. Esses minúsculos fragmentos podem eventualmente afundar para o leito do oceano, mas somente após passar por vários ciclos de fixação e liberação da neve marinha, um processo que pode levar gerações.
Isso significa que os plásticos perdidos no mar há décadas ainda estão se decompondo hoje, criando uma fonte persistente de novos microplásticos.
O oceano conecta tudo: o que flutua hoje um dia afundará, se fragmentará e reaparecerá em novas formas. Nossa tarefa é garantir que o que deixamos para trás seja menos prejudicial do que o que já deixamos à deriva.
This article was originally published in English
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