O grupo feminino japonês HANA foi recentemente selecionado para a prestigiosa lista “30 Under 30” (30 abaixo de 30) da Forbes Japão, que destaca jovens inovadores que estão moldando o futuro. Embora o reconhecimento celebre a crescente influência do HANA na indústria musical, sua história também reflete mudanças culturais e sociais mais amplas no Japão — especialmente em relação à forma como as jovens entendem e abraçam o feminismo.
O problema enraizado da desigualdade de gênero no Japão
A sociedade japonesa é patriarcal, marcada por uma desigualdade de gênero profundamente arraigada, com origem no feudalismo. De acordo com o Índice Global de Desigualdade de Gênero de 2025 , o Japão ficou em 118º lugar entre 148 países. As maiores disparidades aparecem nas oportunidades de emprego, na renda e na representação política, e a maioria dos japoneses permanece engajada nas normas de gênero convencionais, nas quais se espera que as mulheres conciliem o trabalho doméstico não remunerado com empregos precários, enquanto os homens arcam com o ônus de sustentar a família.
Varias gerações de mulheres japonesas buscaram desafiar o código de gênero por meio do movimento sufragista feminino após a Segunda Guerra Mundial e, posteriormente, por meio de reformas institucionais, legais e políticas, incluindo a introdução da Lei da Igualdade de Gênero em 1999 e a criação do Departamento da Igualdade de Gênero em 2001.
No entanto, desde o início dos anos 2000, o movimento feminista para promover a igualdade de gênero no governo e nas instituições públicas provocou, sem querer, uma reação adversa, à medida que as redes sociais começaram a proliferar. Misóginos e conservadores online costumam rotular, de forma pejorativa, as mulheres que defendem a igualdade de oportunidades e se opõem ao papel feminino convencional como “tias feministas” (フェミニストおばさん), sugerindo que elas são “perdedoras” nas relações heterossexuais.
Ao mesmo tempo, as mulheres jovens relutam em abraçar o feminismo, em parte porque o interpretam como uma autovitimização que retrata as mulheres como oprimidas e, em parte, porque abraçam imagens femininas mais diversificadas, que incluem imagens sensuais, frequentemente criticadas pelas feministas da geração mais velha como “objetificação da mulher”.
Para as jovens japonesas, as imagens das mulheres no programa de TV “No No Girls” — que acabou dando origem ao grupo feminino HANA — não apenas desafiaram o papel de gênero conservador, mas também foram percebidas como mais empoderadoras do que as imagens estereotipadas de mulheres assexuadas e profissionais promovidas pela geração anterior.
No No Girls e HANA: Desafiando estereótipos de gênero
Na verdade, Chanmina, uma jovem artista nipo-coreana e produtora do programa, explicou o significado de “N0” (Não) da seguinte forma:
No Fake=本物であれ
No Laze=誰よりも一生懸命であれ
No Hate=自分に中指を立てるな
Sem falsidade: Seja autêntico — expresse-se, mostre sua vida e sua verdade.
Sem preguiça: trabalhe mais do que qualquer outra pessoa, reconheça e assuma o controle do seu crescimento.
Sem ódio: Não desista de si mesmo; acredite no seu valor e na sua voz.
O programa recrutou meninas que haviam sido rejeitadas pela indústria do entretenimento, pela sociedade ou por elas mesmas. Sua mensagem central era que as mulheres poderiam ser poderosas não por atenderem às expectativas externas, mas por afirmarem sua individualidade e resiliência, como disse Chanmina:
身長、体重、年齢はいりません。ただ、あなたの声と人生を見せてください。
Não nos importamos com sua altura, peso ou idade. Apenas nos mostre sua voz e sua vida.
A música-tema do programa, “NG”, transmite mensagens semelhantes ao ridicularizar o julgamento constante do corpo das mulheres e ao incentivar a autoaceitação. Você pode assistir ao vídeo abaixo.
Ao colocar a diversidade — de tipo físico, de personalidade e de estilo — como tema central, o programa desafiou diretamente as noções tradicionais de beleza que têm dominado a cultura pop japonesa por muito tempo. As 30 participantes do programa falaram abertamente sobre suas inseguranças e dificuldades, transformando a vulnerabilidade em força.
Para muitos espectadores, essa autenticidade foi transformadora, conforme refletido no seguinte comentário de um espectador:
オーディション番組が苦手だったけど、ROSEを聞いて全部拝見しました。素晴らしいオーディションでした。ガラスの靴を履くために、足を変形させ時には指を切り落とし血まみれですまし顔してるような、そんな女の子を見るのが本当に嫌だった。それを努力と言う風潮が嫌だった。見るたびに痩せている子、最初の歌声が失われている子、いつの間にかオーディション番組に嫌悪感しか感じなくなりました。ノノガにはそんな子ひとりも居なかった。自分の靴で駆け上がる姿の美しさったらない。本当に素晴らしいものを見せて頂きました。
Eu costumava detestar programas de audição, mas depois de ouvir “ROSE”, assisti ao programa inteiro. Foi realmente marcante. O que eu odiava antes era ver garotas forçadas a usar um “sapato de cristal” — como se tivessem que se deformar, até mesmo sorrir apesar da dor, e chamar isso de “esforço”. Quanto mais magras ficavam, mais suas vozes enfraqueciam, até que os programas de audição só me deixavam com nojo. “No No Girls” foi totalmente diferente. Não havia nada além de beleza na maneira como as participantes avançavam como elas mesmas. Foi realmente incrível ter testemunhado algo tão inspirador.
Sete concorrentes — Chika, Naoko, Jisoo, Yuri, Momoka, Koharu e Mahina — venceram a audição do No No Girl e formaram um novo grupo feminino, o HANA. Sua música de estreia, “ROSE”, reflete os valores do programa e redefine a beleza de uma rosa com seus espinhos. Abaixo, o clipe da canção.
Para muitas jovens ouvintes, foi empoderador ver um grupo feminino cantar sobre sobreviver e prosperar em seus próprios termos, e não para agradar aos outros.
Embora as integrantes do HANA e seus produtores raramente usem explicitamente a palavra “feminismo”, sua imagem e suas músicas são repletas de temas feministas: enfrentam estereótipos de gênero, celebram a irmandade, a individualidade e a diversidade. E o público recebe essas ideias com a mente aberta.
HANAやべ〰️〰️〰️❤️🔥❤️🔥❤️🔥❤️🔥❤️🔥❤️🔥
初披露の曲やったよ😭✨
コレオはHANAチャン達が考えたそうです
もうHANAやばい
女の強さが思いっきり出てて
カッコ良かった〰️🙌🙌🙌🙌🙌— 🫧🍬🐨ひとチャン🐨🍬🫧 (@HitoShunto) May 3, 2025
A HANA estava incrível! ❤️❤️❤️🔥❤️❤️🔥❤️🔥❤️🔥❤️🔥❤️🔥
Elas acabaram de apresentar sua música de estreia e, meu Deus, a coreografia foi feita pelas próprias meninas?!
A energia, a força — era pura energia feminina e muito, muito legal!! 🙌🙌🙌🙌🙌
No entanto, à medida que o grupo feminino se torna mais popular, alguns temem que a mídia dominante possa comprometer sua imagem rebelde. @agitator_0320, do X, observou que o recente lançamento do grupo, “Blue Jeans”, está repleto de motivos heterossexuais estereotipados:
HANAのBlue Jeans、すごく楽しみにしてたけど、異性愛規範すぎてちょっと見るの辛かった。終始徹底して男と女、っていう2つがハッキリ分かれた表象が詰め込まれていてしんどかった。そういう「No」とは闘ってくれないんだなって残念に思っちゃった。ちょっと期待しすぎたね。
— 厄介 (@agitator_0320) July 14, 2025
Eu estava realmente ansiosa para assistir a “Blue Jeans” do HANA, mas achei muito heteronormativo e, sinceramente, difícil de assistir. A performance foi repleta de representações rígidas de masculino/feminino do começo ao fim, o que foi exaustivo. Me senti decepcionada, como se eles não estivessem dispostos a desafiar esse tipo de “Não”. Acho que minhas expectativas estavam muito altas.
No entanto, como modelo em foco por parte da grande mídia, HANA ainda pode influenciar a forma como as indústrias culturais – desde o design de moda até a publicidade – representam as mulheres e como o discurso público sobre gênero evolui. Pelo menos, a aceitação da necessidade de as meninas lutarem contra os “nãos” da sociedade poderá ter impacto no desenvolvimento do feminismo no Japão.





