É natural que, durante uma COP no coração do Pará, os olhos do mundo e as discussões que ocorrem sobre esse evento estejam voltados para o bioma amazônico, que tem uma inegável e célebre importância estratégica para o planeta e para o Brasil. Apesar disso, nosso país tem outros biomas que são também muito estratégicos, e que carecem de um olhar cuidadoso sobre os grandes desafios que todos eles enfrentam .
Para compreendermos melhor essa importância, faço aqui uma análise sobre as potencialidades e desafios de cada um dos nossos outros biomas, bem como a interdependência entre eles e com a própria Amazônia.
Cerrado
O Cerrado, segundo maior bioma do Brasil, é uma região de enorme importância ecológica, social e econômica. Conhecido como a “caixa d’água do Brasil”, sendo uma das savanas com maior biodiversidade do planeta. Sua importância ecológica, hídrica e socioeconômica o torna estratégico para a sustentabilidade nacional.
No entanto, essa riqueza natural tem sido severamente ameaçada por ações humanas predatórias, como o desmatamento e a expansão desordenada do agronegócio. Diante disso, torna-se necessário discutir tanto as potencialidades do Cerrado quanto os principais desafios para sua conservação.
O Cerrado é responsável pelo abastecimento de água de diversas regiões do país, a exemplo das bacias hidrográficas do São Francisco, Tocantins, Paraná e Araguaia, tendo um papel fundamental na regulação do ciclo da água no Brasil. A forte pressão da agricultura extensiva e monoculturas, o uso intensivo de agrotóxicos e técnicas que degradam o solo e os recursos hídricos.
Os desmatamentos afetam as nascentes e o fluxo dos rios. A redução da cobertura vegetal compromete o abastecimento de água e a recarga de aquíferos importantes como é o caso do Aquífero Guarani e o Aquífero Urucuia, responsáveis pela perenidade de muitos rios nos períodos de seca prolongada que é uma característica desse bioma.
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Mata Atlântica
A Mata Atlântica é um dos biomas mais importantes e ameaçados do Brasil. Originalmente ocupava cerca de 15% do território nacional, estendendo-se pelo litoral do país. Hoje, restam menos de 12% da vegetação original, o que faz dela um dos biomas mais devastados do mundo, apesar de sua imensa biodiversidade e importância para o equilíbrio ambiental e a vida de milhões de pessoas.
Apesar de ser considerado um hotspot mundial de biodiversidade, encontra-se bastante degradada em função do desmatamento histórico, restando apenas 12% de cobertura original. O que resta da Mata Atlântica encontra-se muito fragmentada com algumas ilhas de preservação, o que ameaça a sobrevivência de muitas espécies. Um outro aspecto importante é a densidade populacional, cerca de 70% da população brasileira vive nesse bioma, ocasionando uma grande pressão com expansão urbana e ocupação desordenada.
Caatinga
A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro, ocupa cerca de 10% do território nacional e está majoritariamente presente na região Nordeste. Apesar de suas condições climáticas adversas, esse bioma abriga grande diversidade de espécies vegetais e animais adaptadas ao semiárido, além de expressiva riqueza cultural.
Contudo, a Caatinga enfrenta sérios desafios, como o desmatamento, a desertificação e a falta de políticas públicas eficazes. Soma-se a isso a escassa proteção legal: menos de 2% do bioma está incluído em unidades de conservação, o que reflete o descaso histórico com a preservação desse bioma.
Mesmo sob clima seco, a flora adaptada, como o mandacaru e o umbuzeiro, é usada há séculos pelas populações locais, que desenvolveram práticas tradicionais de convivência com o semiárido. Além disso, o bioma possui potencial para atividades sustentáveis, como a agricultura adaptada, o extrativismo vegetal e o turismo ecológico e cultural, destacando-se como um importante ativo para o desenvolvimento regional sustentável.
Pantanal
O Pantanal é o maior ecossistema alagável do mundo e uma das maiores reservas de biodiversidade do planeta. Localizado principalmente nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, esse bioma desempenha papel crucial na regulação hídrica, climática e na conservação da fauna e flora. No entanto, apesar de suas múltiplas potencialidades ecológicas e econômicas, o Pantanal enfrenta graves desafios relacionados à degradação ambiental, como queimadas, desmatamento e mudanças climáticas.
O Pantanal abriga milhares de espécies de animais e plantas, muitas delas endêmicas ou ameaçadas de extinção, como a onça-pintada e a arara-azul. Além de sua função como berçário natural de peixes e aves migratórias, o bioma atua como regulador do ciclo das águas e do clima regional. Economicamente, ele sustenta atividades como a pecuária extensiva tradicional, o ecoturismo e a pesca artesanal, que, se bem manejados, podem gerar renda sem comprometer o equilíbrio ecológico. Também é importante destacar o valor cultural das comunidades pantaneiras, que desenvolveram modos de vida em harmonia com os ciclos naturais da região.
Pampa
O Pampa, presente exclusivamente no estado do Rio Grande do Sul, é marcado por extensas áreas de campos naturais e significativa diversidade de fauna e flora. Apesar de ser um dos biomas menos conhecidos e protegidos do Brasil, ele possui grande valor ecológico, cultural e econômico. No entanto, enfrenta sérios desafios, como a substituição dos campos nativos por monoculturas e a falta de políticas públicas eficazes.
E a Amazônia, é claro…
A Amazônia é a maior floresta tropical do planeta sendo fundamental para o equilíbrio ambiental por diversas razões. Podemos destacar a biodiversidade, este bioma abriga cerca de 10% de todas as espécies conhecidas do planeta, muitas espécies ainda não catalogadas, o que pode possibilitar novas descobertas.
Os recursos naturais como a riqueza de água doce, a regulação do clima, atuando como um dos principais reguladores do clima global, especialmente na produção de vapor d’água que gera os rios voadores os quais influenciam o regime de chuvas das regiões Centro Oeste, Sudeste e Sul do Brasil além de outros países da América do Sul. Um outro potencial extremamente importante é sequestro de carbono fazendo com que a proteção da floresta seja algo fundamental.
Além dos recursos naturais que Amazônia oferece algo que merece uma atenção especial, uma vez que esse bioma é o lar de centenas de povos indígenas e comunidades tradicionais como ribeirinhos e quilombolas. Essas comunidades detém um saber tradicional sobre o manejo sustentável da floresta e o uso dos recursos naturais.
Apesar do seu enorme potencial a Amazônia enfrenta grandes desafios como o desmatamento e a degradação ambiental, provocados pelo avanço da agropecuária, garimpo ilegal e extração predatória da madeira, fragmentação de habitats causando perda de biodiversidade. As pressões socioeconômicas que provocam conflitos fundiários e violência no campo, expansão desordenada das fronteiras agrícolas e vulnerabilidade das populações indígenas e tradicionais frente à grilagem e ao avanço do agronegócio, são alguns dos desafios a serem enfrentados.
Quais as ações necessárias?
A preservação dos biomas brasileiros é essencial para manter a biodiversidade, os serviços ecossistêmicos e o equilíbrio ambiental do país. Cada bioma tem características e desafios próprios, mas algumas ações estratégicas podem ser aplicadas de forma geral para garantir sua conservação e uso sustentável.
Dentre as principais ações a serem adotadas podemos destacar alagumas: Criação e ampliação de Unidades de Conservação, aplicação e fortalecimento da legislação ambiental, prevenção e combate ao desmatamento e às queimadas, educação ambiental e conscientização pública e Integração entre políticas públicas.
Todas essas ações exigem um forte investimento em pesquisa e tecnologia, nesse sentido torna-se urgente uma ação articulada entre academia, governo, organizações civis e instituições privadas no sentido de conhecer as pesquisas que estão sendo desenvolvidas pelos pesquisadores brasileiros em especial dentro das universidades.
Muitas são as iniciativas desenvolvidas no nosso país mas que encontram-se fragmentadas dentro de cada instituição, é necessário um trabalho de sistematização desse conhecimento para utilizá-lo na potencialização das ações citadas anteriormente. Proteger os biomas brasileiros não é apenas uma questão ambiental, mas também social, econômica e ética. O Brasil, por abrigar seis biomas com grande biodiversidade tem responsabilidade global na luta contra a degradação ambiental e as mudanças climáticas. Todos os seis biomas devem estar no foco das discussões, essa é a mensagem que deve estar presente na COP 30.












