As relações entre Washington e Bogotá vivem seu pior momento em décadas. Donald Trump, em seu segundo mandato, acusou o presidente colombiano Gustavo Petro de chefiar o “narcotráfico ilegal” e anunciou o corte da assistência dos Estados Unidos à Colômbia, além de tarifas adicionais sobre as exportações colombianas. O gesto rompe um vínculo estratégico que sustentou uma das parcerias mais relevantes na guerra contra as drogas desde o início do século XXI.
O Congresso norte-americano havia aprovado aproximadamente US$ 377,5 milhões para o país em 2024, destinados ao combate ao narcotráfico e ao desenvolvimento rural, verba que complementava a histórica cooperação do Plan Colombia. O valor seria destinado para a modernização das forças armadas e a estabilização de regiões antes dominadas por cartéis. A suspensão ameaça romper esse ciclo, deixando lacunas financeiras e logísticas de difícil compensação em curto prazo.
Dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) revelam que o cultivo de coca na Colômbia alcançou 253 mil hectares em 2023 — 10% acima do ano anterior — e a produção potencial de cocaína aumentou 53%. Em consequência, programas de substituição de cultivos e apoio a comunidades rurais seguem frágeis, principalmente em regiões de reduzida presença estatal.
Tiro no pé
A interrupç## Tiro no péão da ajuda internacional, que financiava infraestrutura, treinamento e assistência agrícola, representa um golpe profundo nesta estratégia.
O governo Petro defende um enfoque alternativo ao da erradicação forçada, com ênfase em transição econômica e participação comunitária.
Com o corte de recursos, esse modelo alternativo fica ameaçado, pois o investimento rural é essencial para criar oportunidades lícitas nas regiões produtoras de coca.
Impactos diplomáticos e econômicos graves
Elizabeth Dickinson, do International Crisis Group classificou o afastamento dos EUA do exército colombiano como “um contrassenso estratégico”, visto que a Colômbia mantém a única força regional com capacidade operacional consolidada contra organizações criminosas complexas. Sem esse apoio, programas militares e tendem a ser reduzidos, facilitando a expansão das redes de narcotráfico nas fronteiras amazónicas e litorais.
O impacto diplomático também é grave: Bogotá chamou seu embaixador em Washington, denunciando o “tom de hostilidade” da nova política americana. Além disso, a descertificação dos EUA retira da Colômbia o status de parceiro confiável no combate às drogas, prejudicando sua credibilidade internacional.
Os efeitos vão além da economia. A UNODC alerta que a produção de cocaína na América Latina bate recorde histórico, ampliando mercados consumidores e fortalecendo redes que exploram brechas regulatórias. Reduzir investimentos em segurança e desenvolvimento representa retrocesso diante do avanço do crime transnacional.
Ausência de diálogo gera novas ameaças
A ação de Trump reabre feridas políticas. A lógica punitiva de Washington tende a alimentar o nacionalismo em Bogotá e afastar antigos aliados. Para setores moderados, a ausência de diálogo compromete negociações em áreas sensíveis como migração, meio ambiente e comércio.
Para a sociedade colombiana, isso gera incerteza: agricultores perdem apoio e grupos armados disputam territórios sem resposta coordenada.
Historicamente, o pacto Colômbia-EUA manteve certo equilíbrio na luta antidrogas, mesmo sob críticas à militarização. A ruptura proposta rompe esse legado e provoca insegurança regional — países vizinhos como Equador e Peru dependem de mecanismos conjuntos de monitoramento e enfrentam o risco de aumento de fluxos ilegais, caso a cooperação se desfaça.
Uma política antidrogas eficaz requer constância e previsibilidade. Ao trocar o engajamento por sanção, Washington mina seu próprio objetivo de conter o narcotráfico. Os impactos atingem a economia rural, a segurança continental e a credibilidade dos EUA como ator comprometido com soluções sustentáveis.
A crise entre Trump e Petro comprova que as decisões geopolíticas movidas por impulsos locais afetam a um grande número de países. A descontinuidade de programas sociais, rurais e de segurança afeta a toda a arquitetura hemisférica das últimas duas décadas. Manter a cooperação seria requisito de sobrevivência para a política hemisférica de combate às drogas.





