Hoje, sabe-se muito sobre a toxicidade de alguns elementos químicos da tabela periódica, como rádio, mercúrio, chumbo ou arsênico. Mas foi necessário muito tempo para que os avanços da ciência evidenciassem seus verdadeiros efeitos sobre nossa saúde. Um impacto que nem sempre foi percebido como nocivo, muito pelo contrário.
Quais eram os usos desses elementos nas sociedades antigas e quais eram as crenças em torno deles?
Rádio: uma descoberta digna do Prêmio Nobel
Este elemento radioativo foi descoberto em 1898 por Marie e Pierre Curie quando estudavam o urânio e suas propriedades, uma descoberta pela qual ambos os cientistas receberam o Prêmio Nobel.
O rádio é o único metal alcalino-terroso radioativo, e o mais raro. Ele se forma em pequenas quantidades quando átomos de metais mais comuns, como o urânio ou o tório, se desintegram. Embora atualmente se saiba que o rádio causa, entre outros efeitos adversos, anemia, catarata, fratura dos dentes, câncer e morte, ainda se desconhece a relação entre a quantidade e o tempo necessários para provocá-los.
Tendo em conta o quão nocivo este metal pode ser, é surpreendente que no início do século XX fosse utilizado com tanta frequência. Entre muitos exemplos, as tintas luminosas, como as utilizadas nos mostradores dos relógios que brilhavam no escuro, continham rádio, o que costumava causar câncer nas pessoas que trabalhavam com elas.
Ainda mais surpreendente é saber que, até a década de 1940, acreditava-se que sua radioatividade era benéfica, fortalecendo quem o ingerisse e proporcionando energia. Por isso, eram comercializados frascos com um de seus compostos (o cloreto de rádio), bem como cremes elaborados com esse metal para melhorar a pele. Tal era o desconhecimento sobre seus efeitos nocivos que, no início do século passado, existiam bebedouros de rádio, que o adicionavam à água com o objetivo de torná-la “mais saudável”.
Um golinho de mercúrio para a eternidade
O mercúrio (Hg), único metal líquido à temperatura ambiente, é um mineral que pode ser muito prejudicial para os sistemas nervoso, digestivo e imune, bem como para os pulmões, rins, pele e olhos quando inalado ou ingerido.
O mercúrio é classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das 10 substâncias químicas mais perigosas para a saúde pública e, embora seu uso seja muito limitado atualmente, ele ainda é utilizado em algumas pilhas e lâmpadas fluorescentes compactas de baixo consumo.
A intoxicação por este metal líquido pode causar a “síndrome do chapeleiro maluco”, um quadro psicótico ou depressivo acompanhado de manifestações neurológicas (cefaleias, tremores, ataxia cerebelosa, etc.).
Apesar de sua toxicidade, na Antiguidade o mercúrio era usado em tratamentos para doenças como a lepra ou a constipação, e os alquimistas acreditavam que o seu consumo poderia prolongar a vida até alcançar a imortalidade. Além de suas aplicações na saúde, durante os impérios egípcio e romano era usado como elemento em bijuterias e pigmento em cosméticos.
Chumbo: da medicina à guerra
O chumbo é um elemento altamente tóxico e acumulativo que afeta principalmente o sistema nervoso de crianças e adultos. Também pode causar fraqueza nos dedos, pulsos ou tornozelos e anemia após exposição prolongada.
Atualmente, tem uma utilização muito limitada, destinada à fabricação de baterias para veículos, em blindagem radiológica (graças à sua capacidade de proteger contra radiação), bem como revestimento para cabos de telefone, televisão ou Internet.
Antigamente, era um material muito mais difundido. Por exemplo, séculos atrás era usado em folhas para escrever, na Roma antiga servia para fabricar tubos e na Idade Média era incorporado aos revestimentos da estrutura de madeira das flechas.
Vários compostos com chumbo também eram usados como adstringentes, em farmácia e medicina, para controlar a secreção de fluidos, bem como em tintas, tinturas de cabelo e inseticidas.
Arsênico: o elixir que curava doenças
O uso do arsênico (As) diminuiu consideravelmente devido às suas propriedades tóxicas, limitando-se à indústria para a fabricação de vidros e componentes eletrônicos. Mas, há aproximadamente 2.400 anos, ele era usado na preparação de produtos terapêuticos por médicos gregos tão importantes como Hipócrates e Dioscórides.
A popularidade deste metal como agente terapêutico atingiu o seu auge no início e meados do século XX, quando era utilizado para tratar diversas patologias, desde doenças venéreas como a sífilis, passando pela diabetes, até ser receitado como tônico (revigorante), fortificante e elixir. Até o início do século XIX, a mistura desse mineral com ouro era moída e adicionada a tintas; e as pontas das balas eram feitas com arsênico fundido com chumbo.
Sabendo já alguns detalhes sobre o uso desses quatro elementos ao longo da história, vale a pena prestar atenção a uma frase do famoso médico e alquimista renascentista Paracelso, considerado o pai da toxicologia: “tudo é tóxico dependendo da dose, da apresentação, da via de exposição e dos fatores ambientais”. Uma frase que poderia ser completada com uma observação: “e dos avanços científicos da época”.