Na minha juventude, passei uma quantidade excessiva de tempo questionando por que ser bom em química era um pré-requisito para cursar a faculdade de Medicina. Por que química era tão essencial quanto biologia? Por que eu precisava aprender sobre elétrons e entropia? Finalmente entendi quando meus professores, bastante brilhantes, chamaram minha atenção para a tabela periódica.
Cada átomo do nosso corpo pode ser encontrado na tabela periódica – do cloro ao cromo, do magnésio ao manganês. Na verdade, apenas seis elementos compõem cerca de 98,5% da nossa massa corporal: 65% de oxigênio, 18% de carbono, 10% de hidrogênio, 3% de nitrogênio, 1,5% de cálcio e pouco mais de 1% de fósforo. O 1,5% restante é composto por oligoelementos — potássio, enxofre, ferro, zinco, cobre e muitos outros —, todos com funções cruciais para nos manter vivos.
Talvez seja mais preciso descrever-nos como formas de vida baseadas em oxigênio, em vez de carbono.
Este 1,5% restante consiste nos chamados oligoelementos. Embora estejam presentes em quantidades menores, eles não são menos essenciais. Muitos deles vêm da nossa alimentação, e é por isso que é recomendável consumir refeições balanceadas, com vitaminas e minerais suficientes.
Mas o que exatamente devemos comer para atender a essas necessidades – e é possível consumir demais algo que é bom?
Cálcio
Fundamental para ossos e dentes saudáveis, o cálcio é abundante em laticínios, nozes e verduras folhosas. Ele também desempenha um papel vital na função nervosa e muscular. Quando o corpo tem deficiência de cálcio, podem ocorrer dormência, espasmos musculares e até convulsões. Nestes casos, a suplementação alimentar com cálcio ou vitamina D, que ajuda na absorção do cálcio, torna-se necessária.
Mas o excesso de cálcio pode ser igualmente prejudicial. Em pessoas com câncer, tuberculose ou glândula paratireóide hiperativa, os níveis podem subir demais, levando à formação de cálculos renais, à depressão e ritmos cardíacos anormais.
Fósforo
O fósforo – o mesmo elemento usado na superfície de fricção das caixas de fósforos – é fundamental para a vida. É um componente essencial do DNA, o mapa genético do nosso ser, e do trifosfato de adenosina (ATP), a molécula que armazena e fornece energia às células.
A maioria de nós obtém fósforo mais do que suficiente através da nossa dieta – na carne, peixe, laticínios, grãos e nozes. Ele também é adicionado como fosfato a muitos alimentos processados e refrigerantes.
Magnésio
Do mesmo grupo periódico do cálcio, o magnésio desempenha um papel importante na função muscular e nervosa e contribui para a saúde óssea. Você o encontrará em alimentos de origem vegetal, como feijões e grãos.
Suplementos de magnésio estão amplamente disponíveis, mas a maioria das pessoas não precisa deles. Algumas pessoas correm um risco maior de deficiência de magnésio, incluindo aquelas com alcoolismo crônico ou distúrbios de má absorção.
Embora a toxicidade proveniente de fontes alimentares seja rara, o excesso de magnésio proveniente de suplementos pode causar diarreia, náuseas e, em casos graves, complicações cardíacas.
Sódio, potássio e cloro
O sódio e o potássio compartilham uma função na atividade elétrica dos neurônios e células musculares, incluindo as do coração. O sódio também regula o equilíbrio de fluidos no corpo.
O corpo mantém os níveis desses minerais dentro de uma faixa restrita para garantir o funcionamento ideal. O excesso de sódio ou potássio pode ser extremamente perigoso. Na verdade, o protocolo tradicional para a pena de morte por injeção letal nos EUA envolvia uma dose intravenosa de potássio para parar o coração.
A deficiência de sódio e potássio, por sua vez, pode causar vários problemas, incluindo fraqueza muscular, confusão e outros sintomas neurológicos.
As fontes alimentares ricas em potássio incluem bananas e batatas. Para o sódio e o cloro (este último também envolvido na regulação de fluidos e na produção de ácido estomacal), a fonte mais conhecida é o sal de cozinha. Precisamos de um pouco, mas não mais do que 6 g por dia. O consumo elevado de sal está associado à hipertensão arterial e a doenças cardiovasculares.
Enxofre
O cheiro de enxofre (ou, mais precisamente, de compostos que contêm enxofre) é familiar a qualquer pessoa que se lembre do odor acre dos laboratórios de química da escola: pense em ovos podres, repolho cozido demais e mau hálito. Não é de surpreender que o repolho, o alho e a cebola sejam ricos em enxofre.
O enxofre é encontrado em certos aminoácidos (blocos de construção das proteínas) e é essencial para o crescimento e o desenvolvimento. Uma dieta com proteínas magras e vegetais geralmente fornece tudo o que você precisa.
Oligoelementos
Até agora, analisamos os macrominerais, aqueles necessários em grandes quantidades. Mas os oligoelementos, necessários em quantidades menores, não são menos vitais.
Veja o ferro, crucial para a produção dos glóbulos vermelhos, que transportam oxigênio por todo o corpo. A deficiência de ferro (comum em crianças, mulheres menstruadas e pessoas com dietas restritivas) pode causar anemia, além de sintomas como fadiga, tontura e falta de ar. O ferro é abundante na carne vermelha, legumes e vegetais verdes.
Outros oligoelementos essenciais incluem o zinco, que ajuda a função imune, a cicatrização de feridas e o crescimento celular, e o iodo, necessário para a produção dos hormônios da tireoide, que regulam o metabolismo. O selênio, rico em castanhas-do-pará, atua como antioxidante e ajuda na saúde reprodutiva e da tireoide, enquanto o flúor ajuda a fortalecer o esmalte dos dentes e prevenir cáries.
Você também encontrará manganês, cromo e cobre no corpo, todos desempenhando papéis fisiológicos importantes. O manganês auxilia o desenvolvimento ósseo e ajuda o corpo a metabolizar aminoácidos e carboidratos. O cromo está envolvido na regulação da glicose, aumentando a ação da insulina. O cobre tem muitas funções diferentes, incluindo o metabolismo do ferro e a manutenção de tecidos conjuntivos e nervosos saudáveis.
Você também pode até encontrar traços de arsênio, chumbo ou ouro no corpo — e não apenas em tratamentos dentários. Esses elementos, porém, não são benéficos. Eles são tóxicos, e não terapêuticos. O chumbo pode se acumular nos ossos e órgãos, interferindo no funcionamento do sistema nervoso. O arsênico, dependendo da forma, pode ser cancerígeno e interromper a respiração celular — o processo que as células usam para converter oxigênio e nutrientes em energia —, essencialmente envenenando o suprimento de energia da célula.
Portanto, a tabela periódica não é apenas uma grade confusa de letras e números. É um mapa de você e do delicado equilíbrio no corpo de minerais que podem ser essenciais nas doses certas e perigosos nas quantidades erradas.