Ad image

Democratização do acesso ao conhecimento: Portal de Periódicos da CAPES faz 25 anos e consolida Brasil na ciência global

9 Min Read
Democratização do acesso ao conhecimento: Portal de Periódicos da CAPES faz 25 anos e consolida Brasil na ciência global

Em 2025, a institucionalização da pós-graduação brasileira completou 60 anos. Seis décadas de um sistema que se consolidou como um dos maiores patrimônios da ciência nacional e que tem sido fundamental para o desenvolvimento social, econômico e ambiental do país.

Desses 60 anos, pouco menos da metade foi marcada por uma política decisiva para o avanço da produção científica, a criação do Portal de Periódicos da CAPES (Coordenação de Pessoal de Nível Superior), que este ano completa 25 anos e tem sido responsável por democratizar o acesso amplo ao conhecimento científico internacional no Brasil.

O Portal nasceu da constatação simples, mas estratégica, de que sem acesso à informação científica atualizada, universidades, pesquisadores e instituições científicas brasileiras jamais seriam competitivas no cenário global.

A partir da sua criação, em 2000, o país deu um salto na capilarização do acesso à ciência internacional, assegurando a universidades e institutos de pesquisa, que ministram cursos de pós-graduação stricto sensu, independentemente do porte ou da localização geográfica, pudessem acessar bases e revistas científicas antes restritas aos grandes centros de pesquisa do Norte global.

Uma das maiores bibliotecas virtuais científicas mundiais

Hoje, o Portal reúne mais de 49 mil periódicos, 400 bases de dados e 130 mil livros eletrônicos, consolidando-se como uma das maiores bibliotecas virtuais científicas do mundo. É, ao mesmo tempo, uma política de democratização do conhecimento e de equidade territorial, pois rompeu barreiras históricas que concentravam o acesso e a produção científica nas regiões Sul e Sudeste que detêm as instituições mais antigas e são o berço dos primeiros cursos de mestrado e doutorado do país.

Até essa época, os pesquisadores conseguiam acesso à produção científica por meio de bibliotecas existentes em poucas instituições brasileiras, ou mesmo pelo correio, meses após terem solicitado as publicações aos autores.

25 anos de impacto

Os resultados dessa política e da expansão do sistema nacional de pós- graduação são mensuráveis. Segundo o relatório Panorama das Mudanças na Pesquisa no Brasil, da Clarivate, lançado em 2024, o Brasil mantém a 13ª posição mundial em produção científica. Vale destacar que este é um feito expressivo para um país do Sul global, com desafios estruturais históricos, como o investimento inadequado e intermitente em ciência e desigualdades regionais persistentes.

O estudo mostra ainda que o país apresenta níveis elevados de colaboração internacional. Estas cresceram de 28% em 2014 para 38% em 2023, além de avanços notáveis em áreas estratégicas como ciências ambientais, médicas, odontológicas e inteligência artificial.

São campos que dialogam diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas — como saúde, educação, igualdade de gênero e proteção ambiental — e refletem a capacidade de a ciência brasileira se engajar em agendas globais relevantes.

Essa trajetória só foi possível porque o país fez escolhas certas em momentos críticos. O Portal de Periódicos é um desses marcos, significando uma política de Estado que garantiu acesso público e equitativo ao conhecimento científico, criando as condições para que o Brasil deixasse de ser mero consumidor e passasse a ser produtor e exportador de ciência.

Novo ciclo da política de ciência aberta

Se o acesso ao conhecimento é condição importante para produzir ciência, o acesso à publicação é condição para que essa ciência tenha impacto global. É nessa perspectiva que a CAPES lançou uma nova política de pagamento de custos de publicação (do inglês, article processing charges, ou APCs) em revistas internacionais reconhecidas.

O objetivo é ampliar a visibilidade da produção científica brasileira e reduzir as barreiras financeiras que ainda limitam a publicação de pesquisadores de instituições públicas, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, devido às assimetrias regionais no investimento em pesquisa científica.

A nova política, que complementa a tradição de investimento no acesso à leitura, agora fecha o ciclo da política de ciência aberta, pois o Estado garante não apenas que os pesquisadores brasileiros possam consultar o que se produz no mundo, mas também que possam publicar e circular sua própria produção no mesmo patamar de igualdade.

Esse avanço significa investimento direto em ciência, tecnologia e inovação realizado pelo Ministério da Educação, uma vez que os recursos antes utilizados para pagamento das publicações podem ser utilizados pelos grupos de pesquisa na geração de conhecimento e formação de pessoal de nível superior no país inteiro.

Após quase dois anos do primeiro acordo transformativo com a American Chemical Society (ACS), o que permite publicações ilimitadas em acesso aberto e o pagamento dos APCs pela CAPES, os primeiros resultados positivos estão sendo coletados.

Nos anos anteriores a 2024, o Brasil publicava metade do número de artigos anualmente nas revistas da ACS, e apenas 10% das publicações eram em acesso aberto. A partir de maio de 2024 e em 2025, os pesquisadores brasileiros não apenas duplicaram o número de publicações anuais nas revistas da ACS, mas também passaram a publicar mais de 90% dos artigos em acesso aberto.

Esses dados demonstram, de maneira inequívoca, que os motivos para a não publicação nessas importantes revistas não estão relacionados à qualidade questionável da produção científica nacional.

Na realidade, identificamos o principal motivo: o gargalo financeiro ao qual os pesquisadores brasileiros que produzem conhecimento em estudos de alta qualidade são submetidos, o que os impede de publicar, mesmo quando os estudos são aprovados pelos pares em revistas de alto impacto.

Equidade e internacionalização

A decisão da CAPES de assumir parte dos custos de publicação tem, portanto, uma dupla natureza. É uma política de equidade, ao permitir que instituições com menor capacidade orçamentária participem plenamente da comunidade científica internacional. E é uma política de estratégia científica nacional. Ao ampliar o impacto e o alcance da ciência brasileira, fortalece a presença do país nas principais bases de dados, o que provavelmente promoverá aumento nos índices de citação.

De acordo com o relatório da Clarivate, o Brasil possui atualmente 19 pesquisadores altamente citados, número equivalente ao de países como Portugal, Índia e Nova Zelândia. Essa visibilidade pode crescer ainda mais com a ampliação da possibilidade de publicações de alto impacto — especialmente considerando que o país já apresentava aumento consistente das publicações em acesso aberto, que passaram de 36% para 41% entre 2019 e 2023.

Olhar para o futuro

A política de pagamento de custos de publicação simboliza um novo ciclo da política científica brasileira. Assim como o Portal de Periódicos ampliou o acesso ao conhecimento internacional, esta nova medida amplia o acesso do mundo à ciência brasileira.

Trata-se de uma política que reconhece o papel estratégico da ciência na construção de um país soberano, sustentável e integrado globalmente — e que reafirma o compromisso da CAPES com a qualidade, a equidade e a internacionalização da pós-graduação.

Ao completar 25 anos, o Portal de Periódicos mostra que políticas públicas consistentes, continuadas e com visão de futuro podem transformar estruturalmente o sistema de ciência e tecnologia de um país.

Agora, com a nova política de apoio às publicações, a CAPES dá mais um passo decisivo para assegurar que o conhecimento produzido no Brasil circule no mundo, fortalecendo a presença do país no mapa global da ciência.

Share This Article
Sair da versão mobile