O ensino superior pode desempenhar um papel central na promoção da mobilidade social. Infelizmente, indivíduos de famílias de baixa renda permanecem significativamente sub-representados nas universidades seletivas. Essa sub-representação contribui para a desigualdade persistente nos resultados do mercado de trabalho pós-faculdade. Para abordar essa disparidade, muitas universidades implementaram políticas de ação afirmativa que visam aumentar a matrícula de estudantes de baixa renda e minorias.
Pesquisas existentes mostram que a ação afirmativa reduz efetivamente as desigualdades em universidades moderadamente seletivas, permitindo que estudantes desfavorecidos frequentem instituições com maiores recursos e taxas mais altas de graduação. Essas oportunidades aumentam a probabilidade dos estudantes obterem um diploma universitário e melhoram seus resultados profissionais.
No entanto, os efeitos da ação afirmativa podem diferir em instituições de elite, onde todos os alunos admitidos são altamente qualificados, e os alunos não admitidos normalmente obtêm diplomas de outras escolas seletivas. Isso levanta uma questão importante: Qual papel as políticas de ação afirmativa em larga escala desempenham nas universidades de elite?
Contexto institucional: A política de ação afirmativa na UERJ
Nossa pesquisa examina essa questão analisando os impactos acadêmicos e profissionais de uma importante política de ação afirmativa em uma das universidades públicas mais prestigiadas do Brasil, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). No início dos anos 2000, a UERJ implementou uma mudança substancial na política, reservando 45% de suas vagas para candidatos de baixa renda e minorias. Essa iniciativa transformou dramaticamente a composição racial e socioeconômica de seu corpo discente.
Combinando dados sobre inscrições e matrículas com registros de emprego, analisamos como os estudantes se saíram tanto durante a faculdade quanto no início de suas carreiras. Nossa análise focou em dois grupos distintos: estudantes admitidos através do programa de ação afirmativa e estudantes que teriam sido admitidos independentemente da política.
Os benefícios para os estudantes-alvo: Aumento de ganhos e acesso a empresas com salários mais altos
Ao comparar estudantes logo acima e abaixo do ponto de corte para admissão, descobrimos que a política de ação afirmativa gerou impactos positivos para seus beneficiários pretendidos. Estudantes admitidos através da ação afirmativa ganhavam 14% mais no início de suas carreiras do que estudantes similares que ficaram logo abaixo do ponto de corte para admissão.
Notavelmente, esse ganho salarial não veio de uma maior probabilidade de se graduar na faculdade, mas sim de conseguir empregos em empresas com altos salários onde outros graduados da UERJ trabalhavam. Essa descoberta sugere que um benefício chave da matrícula em universidades de elite para estudantes desfavorecidos é o acesso a valiosas redes profissionais.
No entanto, esses benefícios salariais e de networking diminuíram conforme os estudantes da ação afirmativa progrediram em suas carreiras. O aumento nos ganhos diminuiu ao longo do tempo e foi menor para grupos posteriores de estudantes. Esse padrão sugere que, embora a admissão em universidades de elite possa ajudar estudantes desfavorecidos a conseguir uma oportunidade inicial em empresas com altos salários, eles podem enfrentar barreiras persistentes para o avanço na carreira que não são totalmente abordadas por essa vantagem inicial.
Os efeitos indiretos sobre outros estudantes
Quando comparamos programas acadêmicos que tinham mais versus menos estudantes de ação afirmativa antes e depois da implementação da ação afirmativa, descobrimos que a política teve efeitos negativos sobre os estudantes com melhor desempenho —aqueles cujas notas nos testes teriam garantido sua admissão independentemente da política. Esses estudantes altamente classificados experimentaram ganhos mais baixos que persistiram até 13 anos após se candidatarem à faculdade.
Investigamos três possíveis razões para esse declínio nos ganhos:
1) mudanças nas características dos melhores estudantes; 2) mudanças nas oportunidades de networking profissional; 3) mudanças no aprendizado durante a faculdade.
Encontramos poucas evidências de que os tipos de melhores estudantes mudaram em termos de idade, gênero ou notas nos testes. Em vez disso, os efeitos negativos parecem derivar de dois fatores principais.
Primeiro, os melhores estudantes em programas com maior matrícula de ação afirmativa tornaram-se menos propensos a conseguir empregos em empresas com altos salários onde os graduados da UERJ normalmente trabalhavam.
Segundo, esses estudantes tiveram desempenho pior em testes padronizados realizados na graduação, sugerindo que aprenderam menos durante a faculdade, possivelmente porque os professores ajustaram seu ensino para acomodar um corpo discente mais diverso.
Conclusões: Equilibrando mobilidade social e valor institucional
Nossas descobertas revelam que as universidades de elite enfrentam o difícil compromisso de expandir o acesso para estudantes desfavorecidos e sem reduzir o valor de seus diplomas. A política de ação afirmativa em larga escala da UERJ promoveu com sucesso a mobilidade social para estudantes desfavorecidos, mas reduziu os resultados de aprendizagem, oportunidades de networking e ganhos de longo prazo de outros estudantes.
Embora nossa pesquisa não aborde outros benefícios da diversidade no campus, ela demonstra que os impactos da ação afirmativa em larga escala em universidades de elite podem diferir substancialmente daqueles em instituições menos seletivas.