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Entenda o que é o Fórum China-CELAC 2025 e quais os benefícios para a América Latina

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Entenda o que é o Fórum China-CELAC 2025 e quais os benefícios para a América Latina

O Fórum China-CELAC foi anunciado em julho de 2014 e oficialmente criado em janeiro de 2015, a partir da primeira reunião de cúpula do grupo em Pequim (China), para estabelecer agendas de desenvolvimento e investimentos entre a China e os 33 países-membros da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). Em sua segunda reunião de cúpula, realizada em 2018 em Santiago (Chile), todos os membros da CELAC foram formalmente convidados para integrar a Belt and Road Initiative (BRI) (também conhecida como ‘Nova Rota da Seda’). Organizado em reuniões trienais, o Fórum teve mais duas reuniões com Chefes de Estado, Governo e seus representantes, sendo a terceira, em 2021, realizada remotamente devido à pandemia, e a quarta em maio de 2025, em Pequim.

Como funciona o fórum

O fórum possui diferentes mecanismos de cooperação para além das reuniões ministeriais, como comitês, diálogos e subfóruns para temas específicos, nos quais são criados grupos de trabalho para as diferentes temáticas de cooperação. É o caso dos subfóruns de infraestrutura, agricultura, mineração e think tanks. Uma das principais características de fóruns capitaneados pela China, como o Fórum China-CELAC, é a celebração de acordos de cooperação e investimento em setores como transporte, comércio, indústria, ciência, tecnologia e infraestrutura, envolvendo centenas de bilhões de dólares.

A saber, ainda na primeira cúpula, os membros concordaram em ampliar o comércio China-CELAC para US$ 500 bilhões e os investimentos chineses na região em US$ 250 bilhões até 2025. Em 2024, a promessa de alcançar os US$ 500 bilhões em comércio entre a China e a América Latina e o Caribe em uma década foi superada, atingindo US$ 515 bilhões. Quanto à meta de investimentos, em 2023, o valor de US$ 250 bilhões não só foi alcançado, como largamente ultrapassado, atingindo a cifra de US$ 600,8 bilhões, se tornando a segunda região na qual a China mais investe globalmente após a Ásia.

Como foi a última reunião?

Em meio às recentes tensões geopolíticas entre China e EUA provocadas pela guerra comercial iniciada por Donald Trump, a cúpula de 2025 tomou novos contornos, algo que o Presidente Xi Jinping adereçou em seu discurso na cerimônia de abertura da Cúpula:

“Não há vencedores em guerras tarifárias ou comerciais. A intimidação ou o hegemonismo só levam ao autoisolamento. A China e os países da América Latina e do Caribe são membros importantes do Sul Global. A independência e a autonomia são nossa gloriosa tradição. O desenvolvimento e a revitalização são nossos direitos inerentes. E a equidade e a justiça são nossa busca comum”.

Dentre os avanços e acordos firmados na cúpula, o Presidente Xi anunciou cinco programas voltados para o desenvolvimento e revitalização da região:

1) Programa de Solidariedade: ao longo dos próximos três anos irá convidar, anualmente, 300 membros de partidos políticos de países da CELAC para visitas à China voltadas para cooperação em melhores práticas de governança.

2) Programa de Desenvolvimento: Provisão de uma nova linha de crédito no valor de RMB 66 bilhões (equivalente a cerca de US$ 9,18 bilhões) para o desenvolvimento da região, além do aumento da importação de produtos latino-americanos e caribenhos e a expansão da cooperação em áreas como 5G, economia digital e inteligência artificial.

3) Programa Civilizacional: Conferências de artes e diálogos civilizacionais, projetos conjuntos em áreas de patrimônio cultural como sítios arqueológicos, conservação e restauração de locais antigos e históricos e exposições em museus.

4) Programa de Paz: Treinamento de policiais com base nas necessidades dos membros da CELAC, cooperação em cibersegurança, contraterrorismo, controle de narcotráfico e estabelecimento da Zona de Paz e Declaração dos Estados Membros da Agência para a Proibição de Armas Nucleares na América Latina e no Caribe.

5) Programa de Conectividade entre Pessoas: Nos próximos três anos, a China pretende prover:

● Mais de 4 mil bolsas de estudo para alunos e professores

● 10.000 oportunidades de treinamento

● 300 oportunidades de treinamento para os profissionais dos Estados-membros da CELAC especializados em redução da pobreza

● 1.000 vagas nos acampamentos de verão e de inverno Ponte Chinesa (“Chinese Bridge”)

● 30.000 exemplares de livros didáticos e materiais de ensino de chinês.

● 300 projetos “small and beautiful” de subsistência

● 10 dramas de TV e programas audiovisuais premium anualmente traduzidos mutuamente entre China e os membros da CELAC

Isenção de visto de turismo para entrada na China para nacionais da Argentina, Brasil, Chile, Peru e Uruguai.

Benefícios para a América Latina

A relação da China com os países latino-americanos e caribenhos se caracteriza pelo pragmatismo, foco em negócios, bem como o reconhecimento da “Política de Uma Só China” em oposição ao reconhecimento de Taiwan, e o princípio de não intervenção em assuntos domésticos dos Estados-membros da CELAC. Para os países da região, o investimento chinês representa não somente uma oportunidade, mas uma necessidade, uma vez que para atingirem os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável até 2030, ainda têm de enfrentar um déficit de US$ 2,2 trilhões em infraestrutura em setores como água e saneamento, energia, transporte e telecomunicações.

Para suprir as demandas de investimento em infraestrutura e ampliar o comércio, nações latinas e caribenhas passaram a integrar a Nova Rota da Seda, sendo a primeira o Panamá, em novembro de 2017. Em 2018, após o convite formal para adesão dos países da CELAC à BRI, Antígua e Barbuda, Bolívia, Chile, Costa Rica, Equador, El Salvador, Granada, Guiana, Suriname, Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela aderiram à iniciativa. Já em 2019, Barbados, Cuba, Jamaica e Peru uniram-se ao grupo. Argentina e Nicarágua somaram-se em 2022. Em 14 de maio de 2025, a Colômbia assinou o memorando de entendimento para integrar a iniciativa.

O Panamá, primeiro país da região a participar da Belt and Road, foi também o primeiro a informar a sua saída do acordo, em fevereiro de 2025, sob pressão de Donald Trump.

Em um cenário de ataques ao multilateralismo praticados por Trump, ausência de anúncios de novos investimentos estadunidenses na América Latina e Caribe e a necessidade por dinheiro estrangeiro para a retomada econômica e redução da pobreza, a região se aproxima da China de maneira pragmática. Enquanto os Estados Unidos estabelecem tarifas e ameaçam o congelamento de empréstimos, a China surge querendo fazer negócios sem interferência interna, oferecendo uma oportunidade a países historicamente alinhados a Washington.

O fórum não representa um alinhamento acrítico aos chineses, mas sim uma forma de barganharmos com aqueles que nos oferecem o que os estadunidenses não estão dispostos: dinheiro. Cabe a nós, latino-americanos e caribenhos, aproveitarmos as janelas que nos foram abertas para sairmos da estagnação econômica que enfrentamos entre 2015 e 2024.

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