Estudar nos Estados Unidos às vezes implica esforços de uma comunidade inteira
Captura do vídeo “Por que a perda de estudantes indianos pode prejudicar profundamente os EUA | Proibição de visto americano para estudantes” em The Indian Express YouTube Channel
A nova medida da administração Trump de suspender vistos para estrangeiros que buscam estudar nos Estados Unidos também afeta países africanos, como o Togo.
O anúncio feito em 27 de maio de 2025, foi um grande retrocesso para estudantes que se preparam para estudar nos Estados Unidos. Marco Rubio, secretário de estado dos Estados Unidos, ordenou a suspensão da emissão de vistos para estudantes estrangeiros. Oficiais dizem que a pausa tem relação com as medidas recém-instituídas para checagem dos perfis em redes sociais dos estudantes. Em artigo publicado pelo canal global de notícias France24, Tammy Bruce, porta-voz do secretário de estado, explica:
It’s a goal, as stated by the president and Secretary Rubio, to make sure that people who are here understand what the law is, that they don’t have any criminal intent.
O objetivo, conforme declarado pelo presidente e pelo secretário Rubio, é garantir que as pessoas que estão aqui entendam o que é a lei, que elas não têm nenhuma intenção criminosa.
O porta-voz do secretário de estado afirma ainda que essas medidas se aplicam tanto aos estudantes já nos Estados Unidos quanto àqueles requerendo o visto:
If you’re going to be applying for a visa, follow the normal process, the normal steps, [and] expect to be looked at.
Se você for requerer um visto, siga o processo normal, as etapas normais, (e) espere ser verificado.
Pânico nos países africanos
No ano acadêmico de 2023–2024, 56.780 estudantes da África subsaariana matricularam-se em universidades americanas, tornando os Estados Unidos o destino mais popular para estudantes africanos.
Contudo, este ano, os estudantes permanecem sem saber suas chances de garantir o precioso visto para viajar e iniciar a tempo os cursos de outono. Em entrevista para a Global Voices a respeito dessa suspensão, um estudante togolês afirmou:
Il n’y aucune raison qui peut justifier ce retournement de situation de l’administration Trump envers les étudiants étrangers qui ne cherchent qu’à faire leurs études dans de bonnes conditions afin de rassembler toutes les chances de leur côté sur le marché de l’emploi. Mais je comprends que quiconque aime son pays est jaloux de le protége contre tout mal. Ma prière est que la situation s’améliore dans un bref délai.
Não há razão que justifique essa mudança repentina da administração Trump em relação aos estudantes internacionais, que querem apenas estudar em boas condições, a fim de garantir toda chance de sucesso no mercado de trabalho. No entanto, entendo que qualquer um que ama o seu país deseja protegê-lo de qualquer perigo. Minhas preces são para que a situação se resolva logo.
Para Marceline [um pseudônimo], uma jovem estudante beninense, a política de Donald Trump voltada para estudantes internacionais prejudica a reputação dos Estados Unidos, abrindo portas para outras universidades de prestígio ao redor do mundo. Ela disse à Global Voices:
La qualité des programmes scolaires et estudiantins des États-Unis explique cette envie de tous les étudiants du monde à vouloir poursuivre leurs études dans ce pays et ainsi profiter des meilleures opportunités. Mais il faut reconnaitre qu’à l’impossible, nul n’est tenu. En dépit de leur renommée, les étudiants étrangers apportent aussi une plus value à leur économie. J’explore actuellement d’autres horizons pour ne pas faire une année blanche.
A qualidade dos programas acadêmicos e escolares nos Estados Unidos explica porque os estudantes ao redor do mundo querem aproveitar as melhores oportunidades e estudar neste país. Porém, temos que admitir que ninguém pode conseguir o impossível. Apesar do seu renome, os estudantes estrangeiros também agregam valor a sua economia. Atualmente, estou explorando outras opções para não perder o ano.
Em vez dos Estados Unidos, muitos estudantes africanos preferiram continuar seus estudos em outros países, devido às oportunidades oferecidas por universidades no Canadá, Reino Unido, Alemanha, Bélgica, França, Irlanda, Brasil e até mesmo China.
Incerteza neste ano acadêmico
Para alguns, se a administração Trump não retirar a suspensão, os sonhos de uma comunidade inteira serão estilhaçados. Será o caso de Fatou Wurie, de Serra Leoa, doutoranda da T.H. Chan School of Public Health da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Para tornar o seu sonho realidade, toda a sua família e comunidade batalharam juntas para arrecadar US$ 200.000 para financiar seus estudos na universidade. Muito aborrecida, ela explicou para a BBC Afrique (África):
J’ai pris des prêts, travaillé tout au long de mon diplôme, et couvert des coûts sans fin — visas, logement, soins de santé. Au-delà de l’argent, il y a le coût émotionnel de naviguer constamment dans les systèmes d’immigration et de s’assurer que nous restons conformes et que nous honorons les lois des États-Unis. Chaque retard coûte plus que de l’argent — cela coûte de la concentration et de la tranquillité d’esprit.
Fiz empréstimos e trabalhei durante minha formação, cobrindo custos infindáveis, com vistos, acomodação e plano de saúde. Além do dinheiro, há o custo emocional de navegar pelo sistema de imigração e garantir que continuamos cumprindo e honrando as leis dos Estados Unidos. Atrasos não custam apenas dinheiro, mas também a paz de espírito.
Essa nova medida ameaça as chances de Fatou Wurie de ter o sinal verde para retornar aos Estados Unidos. Ela afirma:
Cela crée une profonde incertitude. En tant que doctorante […], mon travail dépend de la mobilité et de la continuité. Les retards ne perturbent pas seulement les études, ils bloquent un mouvement.
Isso gera uma grande incerteza. Como doutoranda […] meu trabalho depende de mobilidade e continuidade. Atrasos não apenas interrompem os estudos como também bloqueiam movimento.
Impacto a longo prazo
O impacto a longo prazo da política da administração Trump pode significar uma suspensão permanente, ou restrições de vistos para todos os estudantes internacionais. Fatou Wurie teme graves consequências para futuros pesquisadores africanos. Ela também disse a BBC Afrique:
Ça a fait mal. Pas seulement pour moi, mais pour ce que cela signifie. Les portes de l’éducation mondiale sont déjà étroites pour les étudiants africains. Quand elles se ferment, cela nous dit que notre présence est conditionnelle.
Isso é prejudicial, não apenas para mim, mas também para o que isso quer dizer. Os portões para a educação global já são restritos para os estudantes africanos. Fechá-los significa que nossa participação é incerta.
Enquanto aguarda a retirada ou confirmação da suspensão, a Universidade de Harvard continua em oposição à decisão de Trump. Em abril de 2025, a universidade declarou que não acataria as ordens da administração Trump. Desde então, Harvard tem aberto processos legais contra as medidas do governo. Um juiz decidiu a favor, bloqueando a ordem do presidente americano a respeito das matrículas.
Além das restrições que impactam diretamente os estudantes, Trump expediu uma medida de proibição de viagens de 12 países para os Estados Unidos, incluindo sete na África: Chade, República Democrática do Congo, Guiné Equatorial, Eritreia, Líbia, Somália e Sudão. Uma restrição parcial também foi imposta a outros sete países, como Burundi, Serra Leoa e Togo.