As estudantes Luísa Silveira e Clariana Ribeiro chegaram juntas ao local onde farão o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em Brasília. No primeiro dia de provas, as adolescentes preferiram não arriscar e já estavam na porta da Universidade do Distrito Federal (UDF) faltando quase duas horas para a abertura dos portões. 

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Luísa Silveira, 17 anos, prefere não arriscar e chega ao local de prova com bastante antecedência – Foto Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Luísa tem 17 anos e cursa o 2º ano do ensino médio. Vai fazer a prova como treineira e sonha com uma vaga na área de saúde – medicina ou enfermagem. Semanas antes, a jovem precisou ficar 45 dias internada em razão de uma pneumonia. Chegou a desistir do Enem, mas, ao receber alta alguns dias antes, decidiu que faria o exame.
“Já tinha até ligado pro Inep [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira] pra não sair como faltante. Tinha desistido. Parei de estudar porque não tinha previsão de alta. Mas saí do hospital dia 3 e minha expectativa é fazer pra valer. Estudei muito.”
A amiga Clariana tem 18 anos e cursa o 3º ano do ensino médio. A jovem deixou pai, mãe, irmão, avós e padrinhos em Vitória da Conquista (BA) para estudar em Brasília.
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A estudante Clareana Ribeiro, 18 anos, relata preparação para as provas do Enem – Foto Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
“Minha expectativa é passar. Estou tranquila. Me preparei muito este ano. Estudei muito. Quero dar orgulho pra minha família que ficou na Bahia”.
A jovem veio para a capital federal em fevereiro, quando passou a morar com os tios por parte de pai.
“Vim sozinha. Não conhecia nada nem ninguém. Deixei toda a minha família pra estudar. Quero cursar medicina. Tinha medo de me atrasar e essa é a prova da minha vida. Não tem como perder o Enem. Por isso, saímos de casa às 10h.”
O estudante Kernus Aleksander Marques, 18 anos, cursa o 3º ano do ensino médio e também optou por chegar com um pouco de antecedência. Ele busca uma vaga no curso de ciência da computação. “Minha expectativa, tanto pra esse dia quanto para o segundo, é que seja tranquilo. Estou bem preparado. Sem pressão”.
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O estudante Kernus Aleksander, 18 anos, fala de sua expectativa no primeiro dia de prova – Foto Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Sobre a rotina de estudo, Kernus conta que o próprio colégio onde estuda mantém um esquema de treinamento para a prova, mas que ele ia além.
“À tarde, aproveitava pra pegar os conteúdos e estudar mais um pouco, dar uma revisada. Também já fiz o Enem como treineiro e aproveitei essas provas do ano passado. Por dia, estudei umas quatro horas, desde abril.”
Fé e oração
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Grupo de oração Legião de Maria, da Paróquia Nossa Senhora das Dores, do Cruzeiro Velho, oferece benção e oração para candidatos – Foto Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
No mesmo local onde os estudantes aguardam a abertura dos portões, o grupo Legião de Maria, da Paróquia Nossa Senhora das Dores, no Cruzeiro Velho, montou um cantinho para atender os alunos que farão a prova. Acompanhados apenas de uma imagem de Nossa Senhora das Graças sobre uma mesa com um forro branco, eles oferecem benção e orações aos alunos.
“Todo ano, já há quatro ou cinco anos, quando tem Enem, a gente monta o altar e oferece orações. O pessoal passa por aqui e pede oração. Convidamos pra rezar uma Ave Maria com a gente. Pra tentar acalmar o coração mesmo. E pedir que Deus os ilumine com sabedoria para que possam ir bem na prova”, explicou o economista Leandro Corder, 40 anos, que integra o grupo.
São Paulo
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Na unidade da Universidade Paulista (Unip) da Vila Mariana, uma fila que já se formava entrou no prédio assim que o relógio marcou meio-dia, horário de abertura dos portões. À frente da Unip, um grupo de jovens cristãos, formado majoritariamente por meninas, exibe cartazes com frases como “Boa prova! Deus te abençoe!”. De dentro de um carro, uma mãe pede à filha para avisá-la que chegou bem em casa, após realizar o teste.
Ariane Rodrigues, de 18 anos, já testou seus conhecimentos anteriormente, como treineira, ocasião em que não teve bom desempenho, o que não a preocupou, uma vez que ainda não iria iniciar a graduação. “Eu só fui me lembrar da prova no dia”, diz, rindo.
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Na companhia da avó, a estudante Ariane Rodrigues afirma que pretende fazer fisioterapia. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Moradora da Vila Mariana, bairro de classe média da zona sul da capital paulista, ela sempre estudou em colégios da rede privada, com bolsas que garantiram descontos na mensalidade.
Do lado de fora do local de prova, na companhia da avó e de um primo, que tem a sua idade e também fará o Enem, Ariane conta que pretende cursar fisioterapia. A vontade surgiu ao acompanhar a rotina profissional de sua irmã. “Eu gosto da área de geriatria, dos velhinhos”, disse.
Como segunda opção de curso, a jovem pretende indicar estética. Interessada em disciplinas como história, ela comenta que são “apenas hobbies” e as desconsidera como critério de escolha da graduação.
“Fiz alguns simulados e, no primeiro semestre, cursinho [preparatório] à tarde, mas acabei saindo porque queria focar mais na escola, no segundo semestre. Me drenava muito o cursinho”, afirmou a estudante, que preferiu melhorar suas notas.
Também residente na zona sul, no bairro Vila Guarani, Maria Clara Lima, de 17 anos, decidiu fazer enfermagem. A decisão foi, na realidade, uma mudança de planos, ocasionada por uma fatalidade: ela sofreu um acidente grave em dezembro, em que o carro de trás capotou e atingiu o que ela estava.
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Maria Clara (centro) ao lado da amiga Leticia (esq) e Joselia (dir.) aguarda entrada para fazer o Enem. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Maria Clara teve ferimentos graves em um dos pés, precisando passar por sessões de fisioterapia para recuperar os movimentos. Todo o seu tratamento foi feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo a cirurgia. A exceção foi a retirada de pontos. “Abriu a lateral do meu pé e fiquei sete meses sem andar”, detalha.
Ao contrário de Ariane, Maria Clara estudou a vida toda na rede pública de ensino. Seu objetivo é terminar enfermagem e, depois, entrar na faculdade de medicina, para se formar como pediatra. “É uma coisa mais pra frente, agora é enfermagem.”
A estudante ressalta que profissionais de enfermagem são bastante desvalorizados pela sociedade, algo que a sensibilizou até mesmo para tentar atenuar em pequenos gestos que estavam ao seu alcance, enquanto paciente. “Tinha enfermeira que estava lá cansada e questionava: ‘Alguém reconhece [meu trabalho]?’. Eu agradecia por todos os procedimentos e elas diziam que não é todo mundo que faz isso, que tem paciente que trata mal.”
“Teve tratamento de médicos de que gostei, enfermeiras que cuidaram de mim com carinho, que tiveram delicadeza. Tem gente que trabalha na área só pelo dinheiro e eu quero por ser apaixonada mesmo”, resume.
Inscrições confirmadas
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Estudantes chegam para o primeiro dia de provas do Enem na Unip, em São Paulo. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Na edição do Enem deste ano, o estado de São Paulo tem 751.648 inscrições confirmadas, das quais 249.406 são egressos da rede pública de ensino.
A maioria delas, 59,21%, é de candidatas mulheres, ante 40,79% de homens. Em relação à faixa etária, os grupos predominantes são o de candidatos com 17 anos, que totalizam 216.996 pessoas, e de 18 anos, 199.416. A parcela de candidatos cursando o último ano do ensino médio é de 345.268 alunos.
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), três grupos identificados a partir da divisão por traços étnico-raciais têm mais inscrições pagas do que gratuitas: as de candidatos brancos (248.468), de amarelos (10.005) e dos que não declararam suas características ao preencher a inscrição.
Candidatos brancos, pardos e pretos estão em maior número nesta edição. A porção com menor representação é a de indígenas, que somou aproximadamente 28 mil candidaturas em todo o Brasil, das quais 3 mil foram no estado de São Paulo.
Na relação de municípios com maior número de inscrições confirmadas aparecem a capital paulista e as cidades de Guarulhos, Campinas, Ribeirão Preto e São José dos Campos. No outro extremo, estão Rosana, Cândido Mota, Eldorado, Mirante do Paranapanema e Barra do Turvo.
*Matéria atualizada às 13h32 de hoje (9/11)





