Cerca de uma em cada dez mulheres na perimenopausa ou menopausa se masturbam para aliviar seus sintomas, de acordo com um estudo que gerou interesse da mídia em todo o mundo.
A atenção se deve provavelmente ao fato de a masturbação ser uma estratégia nova (e possivelmente um tanto lasciva) para aliviar esses sintomas, e as mulheres mais velhas serem frequentemente vistas como assexuadas.
Então, a masturbação realmente alivia os sintomas, como sugere o estudo publicado na revista científica Menopause? Vamos ver se as evidências se confirmam.
Benefícios da masturbação para a saúde
O estudo foi realizado nos Estados Unidos e liderado por pesquisadores do Instituto Kinsey da Universidade de Indiana, um dos institutos de pesquisa especializados em sexo e relacionamentos mais conhecidos do mundo. O estudo foi financiado pela empresa de brinquedos sexuais Womanizer.
Os pesquisadores entrevistaram uma amostra representativa de 1.178 mulheres na perimenopausa e menopausa com idades entre 40 e 65 anos.
As mulheres que relataram alterações em seus períodos menstruais, mas ainda tiveram pelo menos um período menstrual no ano anterior, foram classificadas como perimenopáusicas. As mulheres que disseram não ter tido um período menstrual em um ano ou mais foram classificadas como menopáusicas.
Cerca de quatro em cada cinco mulheres disseram que já se masturbaram. Dessas, cerca de 20% disseram que a masturbação aliviou seus sintomas até certo ponto.
Para as mulheres na perimenopausa, os sintomas que mais melhoraram foram as dificuldades para dormir e a irritabilidade. Para um pequeno número de mulheres na menopausa, a masturbação ajudou principalmente com dores vaginais, inchaço e dor ao urinar.
Os resultados são consistentes com pesquisas anteriores que mostram que masturbar-se até o orgasmo pode ajudar a reduzir a ansiedade e o sofrimento psicológico, melhorar o sono e reduzir a dor vaginal.
No entanto, as pesquisas sobre os benefícios da masturbação para a saúde, a vida social ou os relacionamentos, incluindo o alívio da menopausa, são escassas.
Em particular, não podemos ter certeza de como exatamente a masturbação pode melhorar os sintomas. Mas os pesquisadores propõem que os efeitos relaxantes do orgasmo e a liberação de endorfinas podem melhorar o humor, ajudar a dormir e reduzir a dor. A estimulação sexual também pode induzir a lubrificação vaginal e o fluxo sanguíneo para a área genital, o que pode ajudar a manter a função vaginal.
Um pequeno número de mulheres no estudo disse que a masturbação piorou seus sintomas, embora não esteja claro o motivo.
Estigma em torno da masturbação
A masturbação já não é, na sua maioria, considerada pecaminosa ou perigosa. Mas ainda carrega um certo estigma.
As mulheres, em particular, costumam associar a masturbação à vergonha sexual e tendem a não falar abertamente sobre seus hábitos de masturbação.
Portanto, o estigma e a invisibilidade da masturbação significam que ela raramente é objeto de pesquisas clínicas que investigam seus benefícios.
Como resultado, temos muito poucas evidências sobre sua eficácia no alívio dos sintomas da menopausa, especialmente em comparação com outras intervenções não médicas, como atividade física ou alívio do estresse.
O estudo norte-americano mostrou que as mulheres eram substancialmente mais propensas a controlar os sintomas da menopausa por meio de estratégias baseadas em evidências de atividade física, dieta ou redução do estresse do que com a masturbação.
Mas muitas mulheres no estudo podem nunca ter considerado a masturbação para aliviar seus sintomas.
A masturbação não é para todas
A masturbação é gratuita, relativamente fácil e, para a maioria das mulheres, agradável. Não há razão para que não seja promovida como uma estratégia acessível de alívio da menopausa que pode beneficiar algumas mulheres. No entanto, nem sempre é tão simples assim. Pode haver barreiras para algumas mulheres.
Nem todas as mulheres se masturbam ou gostam de se masturbar. O estudo norte-americano mostrou que quase uma em cada cinco mulheres pesquisadas nunca se masturbou. Esse número foi maior entre mulheres mais velhas, na menopausa, talvez refletindo uma mudança geracional nas atitudes em relação à masturbação. Algumas mulheres no estudo indicaram uma resistência moral ou religiosa à masturbação.
Outros estudos mostraram de forma semelhante que várias mulheres não se masturbam. Pode haver muitas razões para isso, desde a falta de desejo até a privacidade limitada ou falta de “tempo sozinha”. Mulheres mais velhas podem enfrentar barreiras físicas complexas, incluindo perda de libido ou destreza e flexibilidade limitadas.
O silêncio e o estigma em torno da masturbação também podem tornar difícil para os profissionais de saúde discutirem o assunto com as mulheres. Isso ficou evidente no estudo americano, com quase todas relatando que nunca haviam falado com um médico sobre masturbação por qualquer motivo.
Muitas mulheres, porém, estavam abertas a essas conversas, com cerca de 56% das mulheres na perimenopausa indicando que se masturbariam com mais frequência para tratar os sintomas da menopausa se o médico recomendasse.
Masturbação como uma nova estratégia
Embora não haja garantia de que a masturbação alivie os sintomas da menopausa em todas as mulheres, sugerir que elas experimentem não deve causar nenhum dano. É a prática sexual mais segura que existe.
Não falamos muito sobre masturbação, especialmente entre mulheres mais velhas. Mas, ao demonstrar que a maioria das mulheres mais velhas se masturba e que isso pode oferecer benefícios à saúde, este estudo recente é inovador e valioso.
