Embora muitas vezes sejam erroneamente considerados misteriosos ou difíceis de entender, os gatos são, na verdade, excelentes comunicadores. De fato, em colônias de gatos que vivem em liberdade, as brigas físicas são reduzidas ao mínimo por meio do uso inteligente de posturas corporais, troca de odores e vocalizações.
Os gatos também adaptaram sua comunicação para os humanos. Por exemplo, gatos adultos geralmente não miam uns para os outros. Mas quando estão perto de pessoas, os gatos miam muito, sugerindo que adaptaram essa vocalização para se comunicarem com os humanos.
E não é apenas o miado. Os gatos têm um amplo repertório vocal para transmitir diferentes significados, mesmo para pessoas específicas. Gatos e humanos que têm um vínculo forte muitas vezes desenvolvem seus próprios repertórios de comunicação, semelhantes a um dialeto único.
Os gatos também conseguem entender a comunicação humana. Estudos mostram que os gatos conhecem seus próprios nomes e os nomes de seus companheiros e podem reconhecer as emoções humanas, chegando até a mudar seu próprio comportamento em resposta a elas.
Apesar de tudo isso, os humanos ainda rotineiramente interpretam mal os gatos. Nosso novo estudo, publicado na Frontiers in Ethology, mostra o quão pouco as pessoas entendem os sinais que os gatos dão.
O que fizemos
Pedimos a 368 participantes australianos que assistissem a vídeos de interações lúdicas entre humanos e gatos. Mas nem todos os vídeos mostravam “brincadeiras” para o gato. Apenas metade dos gatos estava brincando, enquanto a outra metade mostrava sinais de que não queria brincar ou se sentia estressada com a interação.
Após cada vídeo, os participantes foram questionados se achavam que a interação era, em geral, positiva ou negativa para o gato, com base apenas no comportamento do gato. Em seguida, foram questionados sobre como eles interagiriam com o gato no vídeo que acabaram de assistir.
O que nosso estudo descobriu?
Os resultados mostraram que os participantes tiveram dificuldade em reconhecer sinais negativos que indicavam desconforto ou estresse nos gatos.
Nos vídeos de gatos que não estavam brincando e mostravam sinais negativos sutis (como tensão repentina no corpo ou evitar o contato físico), os participantes reconheceram os sinais negativos apenas na mesma proporção que o acaso (48,7%).
Mesmo quando os participantes assistiram a vídeos de gatos mostrando sinais negativos evidentes, como sibilar, morder ou tentar fugir, eles ainda assim categorizaram esses sinais incorretamente como positivos em 25% das vezes.
Reconhecer quando um gato está estressado é apenas o primeiro passo. Também precisamos saber como responder a esses sinais.
Mesmo quando os participantes reconheceram com sucesso os sinais negativos, muitas vezes optaram por interagir com o gato de maneiras que causariam mais estresse e aumentariam o risco de ferimentos em si mesmos, como acariciar, esfregar a barriga e brincar com as mãos.
O estresse não é saudável
O estresse pode ter consequências graves. Gatos que sofrem estresse regular ou prolongado (incluindo interações indesejadas, como as dos vídeos negativos) correm maior risco de problemas de saúde, como inflamação da bexiga.
Eles também são mais propensos a desenvolver comportamentos que as pessoas consideram problemáticos, como aumento da agressividade ou urinar fora da bandeja sanitária. Por sua vez, esses comportamentos aumentam o risco de o gato ser eutanasiado ou realocado.
O estresse do gato também é ruim para os humanos. Se uma pessoa não prestar atenção aos sinais de alerta precoces, o gato pode morder ou arranhar, depositando bactérias e microrganismos profundamente na pele. Uma infecção rápida ocorre em 30% a 50% das mordidas de gatos. Se não for tratada prontamente, pode levar a complicações graves, incluindo sepse, problemas crônicos de saúde e até mesmo a morte. Mordidas e arranhões de gatos também podem transmitir doenças zoonóticas, como a Doença da Arranhadura do Gato (DAG).
Como brincar com gatos de forma segura
Fique atento aos sinais de alerta precoce de que um gato não está se divertindo e pare se notar algum. Quando os sinais ficam óbvios, os gatos já estão sentindo desconforto.
Os sinais de alerta precoce incluem virar-se, esquivar-se ou bloquear tentativas de toque, recuar, tensão corporal, orelhas para trás ou para o lado, lamber os lábios/nariz e bater com a cauda, dar patadas ou encolher-se.
Toque
Evite áreas sensíveis, como a barriga, as patas ou a base da cauda. Os gatos preferem ser tocados na cabeça e no pescoço.
Evite usar as mãos para brincar. Isso ensina aos gatos que as mãos são brinquedos e aumenta o risco de ferimentos acidentais. Em vez disso, use brinquedos que mantenham seu rosto e suas mãos afastados, como um brinquedo com cabo longo.
Cauda
Os movimentos da cauda nem sempre são um sinal negativo – eles apenas significam que o gato está emocionalmente estimulado, o que pode ser devido ao estresse ou à excitação. Os gatos também usam a cauda para se equilibrar. Portanto, é melhor considerar a cauda em combinação com todo o corpo e o contexto.
Mudanças nos movimentos da cauda também podem dar pistas importantes sobre o humor do gato. Geralmente, quanto maior o movimento, mais intensa é a emoção. Portanto, se os movimentos começarem a ficar maiores ou mais rápidos durante a brincadeira, ou se a cauda passar de relaxada para agitada quando você a tocar, isso pode ser um sinal para se afastar.
Orelhas
As orelhas dos gatos são como antenas que giram e se ajustam para localizar sons, mas também podem nos dar uma pista sobre como eles estão se sentindo. Se as orelhas se moverem por um momento e depois voltarem a uma posição relaxada, isso geralmente significa que eles estão ouvindo o mundo ao seu redor. Se as orelhas permanecerem achatadas e para trás, isso é um sinal de angústia.
Vocalizações
Trinados e chilros sugerem um gato brincalhão, enquanto sibilos, rosnados e miados indicam estresse. Ronronar pode parecer positivo, mas pode indicar que o gato está estressado e tentando se acalmar.
Deixe-os em paz
Quando os sinais de alerta não funcionam, os gatos podem mostrar sinais evidentes, como sibilos, rosnados, tremores, esconder-se e, por fim, morder ou arranhar.
Se você notar sinais de alerta, dê bastante espaço ao gato. Quando estão estressados, os gatos não gostam de ser tocados ou de ter pessoas muito próximas. Se o gato voltar e reiniciar o contato, é um bom sinal de que está confortável, mas fique atento ao retorno dos sinais de alerta.
Se você prestar atenção ao comportamento do seu gato e lhe der espaço quando ele precisar, com um pouco de prática você poderá se tornar “fluente em gato”.







