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Interestelar, sem rumo e sem risco: astrônomo explica o que é o 3I/ATLAS, que invadiu o Sistema Solar e a nossa imaginação

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Interestelar, sem rumo e sem risco: astrônomo explica o que é o 3I/ATLAS, que invadiu o Sistema Solar e a nossa imaginação

Na mitologia grega, Atlas é o nome do titã que foi condenado por Zeus a sustentar o céu por toda a eternidade. Por esta associação direta com a esfera celeste, é considerado por alguns estudiosos das lendas antigas como o fundador da Astronomia. Além disso, é tido como o patrono da Geografia e, não por acaso, um conjunto de mapas é, hoje, conhecido como atlas.

O oceano Atlântico e o lendário continente de Atlântida têm seus nomes derivados de Atlas. E outro nome que remete ao titã é a sigla em inglês do “Derradeiro Sistema de Alerta para impactos Terrestres de Asteroides” _(Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System, ATLAS_). Este ATLAS é um conjunto de cinco observatórios espalhados pela Terra, mantidos pela NASA, cuja função é monitorar objetos celestes que possam, eventualmente, entrar em rota de colisão com o nosso planeta. Dois desses observatórios estão localizados no Havaí; um está na África do Sul; outro está em Tenerife, uma ilha espanhola na costa da África; e, por fim, há um localizado no Chile, em Rio Hurtado (foto).

Pois justamente o telescópio chileno descobriu um objeto que tem atraído a atenção da grande mídia: o 3I/ATLAS (originalmente batizado de A11pl3Z). E porque tanta atenção para este corpo celeste de nome tão complicado? Simplesmente porque estamos diante de um objeto interestelar, algo que não pertence ao nosso Sistema Solar!

(Não! Não é uma nave espacial. Não estamos sendo invadidos. Esse objeto não passa de um cometa, um bloco de gelo sujo, perdido por aí…)

Descoberto em 1º de julho de 2025, quando já estava no que chamamos de “sistema solar interior” (a região do Sistema Solar onde está a Terra e os demais planetas rochosos), o A11pl3Z entrou imediatamente em um protocolo de acompanhamento, para o cálculo de sua trajetória e a avaliação, por diferentes grupos de pesquisadores, se haveria algum risco de colisão futura com o nosso planeta.

Não há.

Terceiro objeto interestelar descoberto na história

Mas esse escrutínio todo levou a uma descoberta surpreendente. Por causa de sua órbita hiperbólica, com velocidade estimada de 220 mil km/h, e de seu tamanho reduzido (no máximo 5 km de extensão), logo ficou claro para diferentes equipes envolvidas em acompanhar esse objeto que ele simplesmente não estava gravitacionalmente ligado ao Sol. Ou seja, o A11pl3Z era um objeto que não fazia parte do nosso Sistema Solar.

Por ser o terceiro objeto interestelar descoberto, ganhou a singela sigla de 3I. E, claro, o apêndice ATLAS no nome, para ficar registrado qual equipe tinha feito a descoberta. E assim o A11pl3Z virou 3I/ATLAS.

Mas o que define um objeto interestelar? Simples: ele não pode estar ligado gravitacionalmente a nenhum corpo que pertença ao Sistema Solar. É assim com o 1I/ʻOumuamua (descoberto em 2017) e com o 2I/Borisov (descoberto em 2019).

E a pergunta seguinte é: como esse objeto veio parar aqui, na nossa vizinhança? Puro acaso, claro! Sabemos, por sua trajetória atual, que esse objeto entrou em nosso Sistema Solar vindo da direção da constelação de Sagitário (isso quer dizer que ele veio da direção do centro da nossa galáxia, a Via Láctea).

Tão antigo quanto o próprio universo

Estudos preliminares indicaram que o 3I/ATLAS teria entre 7 e 14 bilhões de anos. Ou seja, ele pode ser tão velho quanto o próprio Universo! Refinamentos nos dados nos levam a algo em torno de uns 5 bilhões de anos, que é aproximadamente a idade do nosso Sistema Solar. Mas por existir há tanto tempo isso quer dizer que não há muita esperança em descobrirmos a sua origem, pois a probabilidade nos diz que a estrela à qual ele originalmente estava ligado já deve ter se extinguido.

Em resumo: temos um pequeno fragmento de um sistema estelar que muito provavelmente nem existe mais, lançado ao acaso pelo espaço, viajando por bilhões de anos em uma direção aleatória que, ocasionalmente, o trouxe até aqui.

Uma boa pergunta para o futuro (próximo ou distante, depende da evolução da tecnologia) é: isso é raro ou é comum? Quando os primeiros planetas extrassolares foram descobertos, a comunidade científica pendeu para o lado da raridade. E à medida que novas técnicas foram inventadas e novos equipamentos foram construídos, mais e mais exoplanetas foram descobertos. Hoje sabemos que são a norma, e não a exceção.

Quem sabe os avanços tecnológicos não nos mostrem que o nosso Sistema Solar está repleto de “entulho” de outros sistemas? Ou, justamente o oposto, nos façam apreciar a raridade de termos um objeto interestelar passando por aqui. Só o futuro poderá dizer se o que vemos agora é raro ou comum. Mas por ora, vale o sentimento de perplexidade frente a esse “visitante” recém descoberto.

Só não vale chamar de nave espacial.

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