Depois de anos de ameaças, tensões e ataques indiretos, Israel e Irã finalmente entraram em confronto direto. Nos últimos dias, Israel lançou ataques aéreos contra alvos militares e nucleares iranianos. O Irã respondeu com mísseis e drones. O conflito está apenas começando, mas já levanta dúvidas urgentes: até onde essa guerra pode ir? Quem mais pode ser envolvido? E que impactos ela pode ter fora do Oriente Médio?
Cinco cenários principais ajudam a entender o que pode acontecer nos próximos dias e semanas.
O primeiro é uma saída rápida do Irã, que faria alguns ataques para mostrar força e, em seguida, aceitaria um cessar-fogo intermediado por potências internacionais, principalmente os Estados Unidos. Essa saída permitiria a Teerã afirmar, internamente, que reagiu, mas evitaria uma escalada que poderia desestabilizar ainda mais o país. Essa estratégia foi usada pelo Hezbollah em 2024, quando sofreu uma série de ataques de Israel, perdeu parte de seu arsenal, mas preferiu recuar antes de ser totalmente destruído.
O segundo cenário envolve uma guerra mais equilibrada. O Irã conseguiria atingir alguns alvos em Israel ou lançar ataques por meio de grupos aliados em países vizinhos. A pressão internacional para um cessar-fogo aumentaria, especialmente entre aliados europeus de Israel, como França e Reino Unido. Nesse caso, o governo israelense poderia reduzir os ataques antes de atingir todos os seus objetivos, para evitar perder apoio político e diplomático.
O terceiro cenário seria uma escalada regional. Se o Irã atacar tropas ou bases de esses países, a guerra pode se espalhar rapidamente. O governo iraniano já acusou os EUA de apoiar os bombardeios israelenses, e há grupos armados aliados do Irã no Iraque, Líbano e Iêmen que podem ser ativados. A entrada dos Estados Unidos tornaria o conflito ainda mais grave. Já há relatos de que a Jordânia interceptou mísseis (presumivelmente) iranianos em seu espaço aéreo. Caso se torne um conflito de grandes proporções, os efeitos seriam sentidos no mundo inteiro.
O quarto cenário seria uma guerra prolongada, mas com menor intensidade. Mesmo que os grandes bombardeios acabem, os ataques cibernéticos, sabotagens, assassinatos de líderes militares e explosões pontuais podem continuar por meses. Esse tipo de guerra indireta já foi adotado por Israel nos últimos anos, com operações secretas no Irã. Teerã, por sua vez, poderia tentar reconstruir seu programa nuclear em segredo, usando a guerra como justificativa.
Por fim, há um cenário mais ambicioso e arriscado: a tentativa de provocar uma mudança de regime no Irã. Embora não seja declarado oficialmente, esse objetivo tem ganhado força em setores do governo israelense. A ideia seria enfraquecer tanto a estrutura militar e política iraniana que o regime atual acabasse colapsando. No entanto, esse caminho é cheio de riscos. Um colapso interno no Irã poderia gerar uma guerra civil, aumentar o número de refugiados e criar um vácuo de poder difícil de controlar.
Todos esses cenários envolvem diretamente os Estados Unidos, que têm adotado uma postura ambígua. O presidente Donald Trump tem defendido uma nova negociação com o Irã, mas também apoia firmemente o governo israelense. A depender do andamento da guerra e do impacto nos Estados Unidos, ele pode tanto intensificar a ofensiva quanto pressionar por um acordo. As decisões de Trump devem considerar tanto a política internacional quanto a necessidade de mostrar força ao eleitorado.
O Brasil, mesmo distante da região, pode ser afetado de várias maneiras. O aumento no preço do petróleo, a instabilidade nos mercados financeiros e a tensão nas cadeias logísticas já são consequências visíveis. Nosso país ocupa, neste momento, uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. Isso significa que o país pode ter um papel importante nos esforços diplomáticos para reduzir as tensões. A diplomacia brasileira, historicamente ligada ao multilateralismo, será testada mais uma vez.
Também há implicações mais amplas. O conflito levanta questões sobre o futuro do programa nuclear iraniano, os limites da resposta militar de Israel e a fragilidade dos mecanismos internacionais de mediação. Ao mesmo tempo, chama a atenção para o enfraquecimento de atores regionais tradicionais, como o Hezbollah, e para a dificuldade crescente em manter alianças estáveis em uma região tão polarizada.
Um ponto quase ausente do debate internacional é o fato de que Israel quase seguramente possui armas nucleares, embora nunca tenha reconhecido oficialmente. Estima-se que o país mantenha um arsenal de cerca de 80 a 90 ogivas, sem estar sujeito a inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) nem a pressões reais para desarmamento. Enquanto o programa iraniano é alvo constante de sanções, ameaças e negociações multilaterais, o poder atômico de Israel segue intocado, reforçando a assimetria e alimentando percepções de impunidade na região.
Seja qual for o desfecho, o conflito entre Israel e Irã mostra que o equilíbrio geopolítico no Oriente Médio está mudando rapidamente. E essas mudanças não ficam restritas à região: afetam economias, alianças políticas e decisões estratégicas em várias partes do mundo – inclusive no Brasil.