A semana de ação pelo clima em Londres no final de junho deste ano reforçou um sentimento claro: o mundo precisa agir, e muito rápido. Diante de um planeta já aquecido em mais de 1,5°C, a COP 30 que ocorrerá em novembro no Brasil surge como uma oportunidade histórica – e certamente uma das últimas – para consolidar avanços concretos na agenda climática global, semelhantes aos estabelecidos pela Rio 92 há mais de três décadas.
Naquela ocasião, foram lançadas em escala mundial as bases para os principais acordos ambientais internacionais contra o aquecimento global e suas consequências, incluindo a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que originou as próprias COPs. Hoje, a COP 30 em Belém precisa ter potencial para ser igualmente transformadora, mas com foco finalmente na implementação real das metas, na mobilização de recursos e no protagonismo do setor privado aliado a políticas públicas robustas.
Não por acaso, um dos temas centrais debatidos em Londres foi o financiamento dos projetos internacionais pela defesa do clima. A promessa global de mobilizar pelo menos US$ 100 bilhões anuais até 2020 ainda enfrenta críticas quanto ao seu cumprimento e transparência. Agora, o desafio é ainda maior: alcançar US$ 1,3 trilhão por ano até 2030, como parte do novo pacto financeiro climático global.
Uma solução inovadora para salvar as florestas tropicais
Nesse contexto, o Brasil tem papel fundamental. O país vem apresentando iniciativas estratégicas, como o TFFF (Tropical Forest Forever Fund), um mecanismo inovador que prevê pagamentos previsíveis e baseados em desempenho para países com florestas tropicais, incentivando a preservação e recuperação desses ecossistemas. O TFFF será formalizado durante a COP 30 e pode se tornar uma referência global no financiamento climático baseado na natureza.
Além disso, há uma necessidade urgente de alinhar o sistema financeiro global às metas de clima. Dados chocantes mostram que, em 2023, os 65 maiores bancos do mundo destinaram US$ 900 bilhões a combustíveis fósseis. Para mudar essa realidade, especialistas defendem uma regulação financeira que integre os riscos climáticos nas decisões de investimento e subscrição de seguros.
Empresas também estão sendo chamadas a assumir responsabilidade: demandar transparência em carteiras de investimento, como a divulgação da exposição a ativos fósseis e engajar-se em coalizões. Outra tendência é que as empresas estejam cada vez mais alinhadas a compromissos climáticos embasados na ciência, com destaque para a transição energética e a geração de empregos verdes. Startups especializadas em monitoramento de cadeias produtivas, rastreabilidade e emissões vêm ganhando espaço, ajudando corporações a cumprirem requisitos regulatórios como a CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive) e as normas IFRS 1 e IFRS 2.
No Brasil, instituições têm estimulado laboratórios de inovação voltados à bioeconomia e restauração florestal. Além disso, iniciativas como o SB COP (Sustainable Business COP) estão integrando empresas diretamente nas negociações climáticas, com propostas práticas em áreas como agricultura regenerativa, economia circular, transição energética e sistemas alimentares sustentáveis. É um movimento que pode ganhar escala na COP 30, gerando impactos tanto ambientais quanto econômicos.
O mercado de carbono promete reduzir emissões
Uma ferramenta crucial para acelerar a descarbonização é a precificação de carbono. O Brasil está criando um mercado nacional de carbono, que entrará em vigor em 2026, visando penalizar emissores intensivos e recompensar setores de baixo carbono. O país também se comprometeu a cumprir suas metas sob a NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada): reduzir emissões em 48% até 2025 e 53% até 2030 em relação a 2005. Isso passa por:
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Uso da terra: combater o desmatamento ilegal e revitalizar o Fundo Amazônia
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Energia: expandir fontes renováveis (eólica, solar e hidrogênio verde), mantendo uma matriz energética 83% renovável
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Agricultura: implementar o Plano ABC+, que incentiva práticas de baixa emissão de carbono no campo
Para viabilizar essas transições, o Brasil tem apostado em instrumentos financeiros inovadores. Um exemplo é a emissão de títulos verdes, como o recente título de sustentabilidade de US$ 1 bilhão do BNDES, que financia projetos com impacto socioambiental positivo.
Há também a estratégia de financiamento misto, combinando recursos públicos (como os do Fundo Amazônia) para reduzir riscos de investimentos privados em infraestrutura climática inteligente. Mecanismos como os Climate Investment Funds (CIF), que emitem títulos a juros mais baixos demonstram o potencial de alavancagem financeira para países em desenvolvimento.
No entanto, a transição climática só será eficaz se for justa e inclusiva. Para isso, é necessário:
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Políticas trabalhistas: requalificar trabalhadores de setores fósseis, como os da Petrobras, para empregos em energias renováveis, especialmente em projetos de eólica offshore no Nordeste
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Proteções sociais: vincular projetos climáticos a benefícios locais, como a cadeia de bioeconomia da Natura na Amazônia, que gera 10 mil empregos e preserva florestas
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Governança inclusiva: fortalecer plataformas como o Observatório do Clima, garantindo que comunidades indígenas e marginalizadas participem da formulação de políticas
A floresta como solução para mudança do clima
A COP 30 chega num momento crucial. Assim como a Rio 92 definiu o rumo das políticas ambientais globais, essa nova edição pode firmar compromissos duradouros, especialmente no que diz respeito ao valor da natureza no sistema financeiro global. Não se trata mais de considerar florestas e biodiversidade como externalidades negativas, mas sim como ativos estratégicos no combate à mudança do clima.
Com o SB COP e outras plataformas colaborativas, o Brasil tem a chance de mostrar que é possível unir crescimento econômico e sustentabilidade, com protagonismo do setor privado e governança responsável. A expectativa é que a COP30 seja lembrada não só por seus discursos, mas por suas ações concretas.
A mensagem está clara: o mundo está preparado para ouvir o Brasil. Agora, cabe a nós entregarmos resultados.