“Libertad, libertad, libertad …” Milhares de vozes ecoaram em uma sinfonia de esperança em várias cidades ao redor do mundo no dia 17 de agosto, desde a Centennial Plaza em Edmonton, no Canadá, a Praça de Lourdes em Bogotá, na Colômbia, até as ruas da Venezuela. Esse foi o “Gran Protesta por la Verdad (Grande Protesto pela Verdade),” um protesto global contra a ditadura de Nicolás Maduro. Embora estejam separados por quilômetros, os manifestantes estavam unidos pelo mesmo desejo: liberdade.
Em 28 de setembro, eles se juntaram novamente no “Gran Protesta Mundial por la Libertad de Venezuela (Grande Protesto pela Liberdade da Venezuela)”, que incentivou pessoas do mundo inteiro a irem às ruas.
Em Edmonton, a atmosfera era eletrizante. Eu estava entre os manifestantes, sentindo a energia que pairava no ar. “Tinha tanto amor, alegria, diversão, e comunidade”, eu refleti posteriormente. Todos, até pessoas desconhecidas, estavam juntos em uma inegável demonstração de solidariedade. Gisela, que chegou ao Canadá 18 anos atrás, quando o regime de Chávez dispensou 23 mil petroleiros, incluindo ela, capturou esse sentimento perfeitamente: “Todo canto do mundo têm um pedacinho da Venezuela. Há uma conexão imediata entre venezuelanos, independentemente da cor da pele, classe social ou experiência de vida”.
O mesmo senso de comunidade estava presente em Bogotá. José, um jovem web designer que viveu ali por mais de 7 anos, descreveu o protesto como o mais próximo que se sentiu de casa em um bom tempo:
“Ouvir o hino nacional, os sotaques do meu país, foi incrível. Estávamos unidos com um único propósito: garantir que a voz da Venezuela ressoasse pelo mundo.”
Na Venezuela, Krisbel, uma enfermeira de 25 anos, compartilhou um momento poderoso: “Ver os idosos, até mesmo em cadeiras de rodas, gritando ‘¡Y va a caer!’ [“Ele vai cair!” referindo-se à queda de Nicolás Maduro] me encheu de fé”. Esses momentos refletem a conexão profunda e a unidade que transcende fronteiras e gerações na luta pela liberdade da Venezuela.
De julho a setembro: um convite para agir
Desde os protestos globais em 28 de julho e 17 de agosto, a luta só tem ganhado força. A determinação dos venezuelanos, tanto em casa quanto no exterior, também aumentou. O próximo grande evento, o “Gran Protesta Mundial por la Libertad de Venezuela,” aconteceu em 28 de setembro, dois meses após as eleições fraudulentas que mantiveram Maduro no poder.
Nos últimos meses, a repressão se intensificou. Os líderes da oposição María Corina Machado e Edmundo González Urrutía têm sido incessantemente perseguidos pelo regime. Após recusar-se a comparecer à uma audiência no Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela, González se refugiou na Espanha. “Eu tinha que estar livre para contar ao mundo o que está acontecendo na Venezuela”, ele disse. Seu exílio causou controvérsias entre os Venezuelanos, alguns temem que isso prejudique a candidatura à presidência da oposição em janeiro, enquanto outros estão aliviados que, aos 75 anos, González evitou o encarceramento e protegeu sua família.
Apesar de seu exílio, a luta continua, com María Corina Machado liderando a resistência de dentro da Venezuela. “Edmundo lutará no exterior com a nossa diáspora, e eu continuarei lutando aqui com vocês,” assegurou aos seus apoiadores. Para muitos, Machado é o símbolo da resistência, sua presença mantém viva a esperança da liberdade. “Nós apoiaremos María Corina até o fim”, diz Julia, costureira de 67 anos, que juntou-se aos protestos na Venezuela.
Héctor, que se mudou do norte da Venezuela para o Canadá em 2020, destaca o papel crucial da diáspora venezuelana em amplificar a mensagem de resistência: “Isso é um apelo para as organizações internacionais entenderem a escala das violações sistemáticas de direitos humanos na Venezuela. Devemos continuar espalhando a mensagem incansavelmente”. Para Héctor, essa luta é extremamente pessoal, visto que ele experienciou a perseguição e a perda dos seus direitos em sua terra natal.
Vozes da resistência: a luta que percorre três continentes
O protesto global em 17 de agosto foi mais que uma demonstração política, foi um poderoso ato cultural de resistência e reafirmação de identidade.
“A verdadeira força da Venezuela está dentro do seu povo”, disse Gisela em Edmonton. “Estou pronta para retornar e fazer o possível para reconstruir meu país.”
Luis, de 32 anos, é engenheiro de sistemas de Bogotá, que deixou a Venezuela há 7 anos, e compartilha da mesma vontade. “Quero voltar para ajudar a reconstruir a Venezuela, principalmente sua economia e educação”, disse. Embora não possa votar, seu desejo permanece o mesmo, e ele está ansioso para contribuir para a reconstrução do seu país.
Na Venezuela, a repressão do regime não afetou o espírito daqueles que ficaram. Julia descreve que seu desespero diante dos resultados fraudulentos da eleição transformaram-se em confiança durante os protestos: “As pessoas ficaram eufóricas, gritando, cantando e batendo em panelas em apoio à María Corina”. Para Julia, protestos pacíficos são o caminho certo: “Como María Corina diz, ir às ruas sem violência é a forma que reclamaremos nosso país”.
“Devemos manter a pressão dentro, fora e em cima da Venezuela. Apenas a união de todos venezuelanos pode trazer uma transformação de verdade”, Afirmou Krisbel, outra manifestante.
Direitos humanos e comunidade: A luta por liberdade
Nesse momento decisivo na história da Venezuela, eu reflito sobre os direitos humanos que todos nós merecemos: votar, se expressar livremente e protestar sem medo de repressão.
Na Venezuela, essas liberdades fundamentais estão sob ameaça crescente. Como Héctor explicou: “O governo acaba com qualquer voz dissonante de forma sistemática”. Entretanto, ao redor do mundo, a diáspora venezuelana se mantém uma frente poderosa, emprestando força àqueles que sofrem perseguição todos os dias.
O grito de “libertad” que reverberou em 17 de agosto foi apenas o início. Com o protesto de 28 de setembro, as vozes de resistência da Venezuela até os pontos mais distantes do mundo estão levantando-se novamente. Todo grito, todo protesto nos aproxima cada vez mais do dia em que a Venezuela será verdadeiramente livre.