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Lideranças femininas apresentam agenda de propostas e negociações para a COP 30

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Lideranças femininas apresentam agenda de propostas e negociações para a COP 30

Uma ação coletiva que já reúne mais de 300 mulheres ligadas à agenda do clima no Brasil acaba de finalizar sua primeira missão rumo à COP 30: a redação conjunta de quatro Notas Técnicas para serem apresentadas durante a conferência em Belém, e que terão os seguintes eixos temáticos: Transição e eficiência energética; Sustentabilidade no uso da terra; Financiamento para adaptação e mitigação, e Incidência nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e participação feminina na COP.

Essas notas farão parte do Capítulo Brasil do Women Leading On Climate (WLOC), uma carta internacional de recomendações que está em processo de elaboração e será entregue à Presidência da COP 30 pelas mãos de um grupo de mulheres com poder decisório para as negociações da conferência.

O grupo é liderado por Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). O objetivo é fortalecer a liderança de mulheres no centro das decisões da transição climática. E neste dia 15 de outubro, elas apresentaram, em Brasília, a Declaração das Mulheres Líderes pelo Clima, resultante de um esforço de consulta e mobilização realizado ao longo de seis meses.

Coletivo de profissionais qualificadas

A Rede Clima & Mulheres na COP (C&MC) discute especificamente a liderança feminina na ação climática (e não a questão de gênero de forma ampla) a fim de fortalecer a presença estratégica de mulheres nos espaços de decisão da Conferência, que este ano em Belém tem a missão clara de resolver pendências do passado e das últimas COPs.

Coordenada pelo Instituto Clima e Sociedade (ICS), com articulação do CEBDS e apoio da ÓGUI Consultoria, a Rede Clima & Mulheres atua na produção de Notas Técnicas que abordam temas estratégicos da transição climática.

Dividido em comunidades por pauta, a rede é um coletivo de profissionais qualificadas na agenda climática, que quer fortalecer o protagonismo e a representatividade feminina nacional e internacionalmente. Mais do que uma iniciativa, é um movimento de colaboração entre lideranças dos setores empresarial, público e da sociedade civil, que acreditam no poder das mulheres para construir soluções climáticas mais justas, inclusivas e eficazes.

A construção dessas recomendações presentes nas Notas Técnicas é coletiva, feita por mulheres que ocupam diferentes espaços e trazem perspectivas diversas sobre o enfrentamento da crise climática. E essa diversidade representa uma força importante num contexto bem adverso: o relatório “Panorama de Gênero 2025: Progresso nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” (Gender Snapshot 2025, produzido pela ONU Mulheres e pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU (UN DESA), alerta que, globalmente, as mulheres ocupam apenas 30% dos cargos de liderança, mesmo representando metade da população do mundo.

O relatório é a principal referência mundial em dados sobre igualdade de gênero da Agenda 2030, reunindo informações de mais de 100 fontes. No ritmo atual de progresso, alcançar a paridade de gênero na liderança levará quase um século.

A pesquisa que serviu de base para a composição da Nota Técnica “Transição e Eficiência Energética Justa, com enfoque em liderança de mulheres” chama a atenção para as questões urgentes e identifica os principais problemas vividos por diferentes instituições e profissionais do setor de energia, com enfoque em dois grupos de mulheres, as que trabalham no setor e as em vulnerabilidade, que consomem energia (“mulheres da ponta”). O estudo baseia-se em 12 entrevistas com profissionais, empresas e redes do setor energético.

O trabalho revelou a urgência de uma transição energética com equidade de gênero e justiça social, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste. Nas empresas, há baixa representatividade feminina, ambientes de trabalho hostis, machismo estrutural, desigualdade salarial e falta de políticas voltadas à saúde mental e ao cuidado.

Já entre as mulheres vulneráveis, sobressaem a dificuldade de acesso à energia renovável e de qualidade; altos custos nas contas de luz; barreiras de acesso a tarifas sociais e a fontes de energia renovável, comprometendo a inclusão energética; e ausência de políticas públicas inclusivas e falta de redes de apoio e capacitação.

Ações estratégicas propostas

A agenda de propostas das lideranças femininas apresenta ações estratégicas para orientar a formulação e a implementação de políticas públicas que promovam uma transição energética com enfoque na equidade de gênero e na inclusão social, com olhar para as lideranças femininas. E mostra os principais desafios enfrentados por mulheres na transição e eficiência energética no Brasil.

O trabalho recomenda ainda a realização de programas de apoio às mulheres; inclusão de critérios sociais nas políticas públicas de energia; implementação efetiva do Programa de Energia Renovável Social (Lei 14.300/2022); empregabilidade afirmativa, com cotas de gênero, raça, deficiência e neurodivergência, especialmente para cargos de liderança; e mecanismos de monitoramento e indicadores de impacto, como o número de mulheres beneficiadas, aumento da empregabilidade e participação em cargos de liderança, além do acesso ampliado a tarifas sociais e energias renováveis.

Ele traz ainda sugestões de indicadores a serem adotados e recomenda que esses indicadores sejam incorporados aos planos de ação e monitoramento da transição energética, com periodicidade definida, transparência nos dados e participação social na avaliação.

Essas informações permitem que o Brasil demonstre liderança global na construção de um modelo energético justo, inclusivo e sustentável, além de reforçar o compromisso com a Agenda 2030 – o plano de ação composto pelos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 5 da ONU – “Igualdade de gênero e empoderamento de todas as mulheres e meninas” – dificilmente será alcançado dentro do prazo (menos de 5 anos). Essa situação não é inevitável, mas segundo a ONU é resultado de negligência sistêmica, falta de investimentos e retrocesso nas políticas de igualdade.

Estamos na contagem regressiva para mudar o planeta. E as mulheres têm a força necessária para isso.

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