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Livro brasileiro reúne estratégias de resiliência para fazer frente a eventos climáticos extremos

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Livro brasileiro reúne estratégias de resiliência para fazer frente a eventos climáticos extremos

Face à tragédia do ano passado (foto), o projeto “RS: Resiliência & Sustentabilidade” – feito em cooperação entre a Secretaria Extraordinária para o Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul (SERS) e a Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), com financiamento da Open Society Foundations – convidou pesquisadores a desenvolver diagnósticos e sugerir caminhos para a prevenção e o enfrentamento de futuros eventos climáticos extremos. AP Photo/Carlos Macedo

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João Ferrer atua no setor de construção civil, foi secretário de Comunicação Social do Governo do Estado do Rio Grande do Sul em 2013/2014 e ocupou o cargo de Chefe de Gabinete na Secretaria Extraordinária da Presidência da República para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul (SERS-PR).

Marcelo Danéris atuou como Secretário Executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do RS (CDES-RS), oi durante a gestão Tarso Genro (2011-2014). Entre os anos de 2019 e 2021, foi vice-Diretor da Escola Superior de Gestão e Controle Francisco Juruena do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul (TCE-RS).

Pedro Romero Marques é economista e pesquisador, doutor em Economia pela Universidade de São Paulo (FEA/USP). Atual codiretor do Centro de Macroeconomia das Desigualdades (Made), sua atuação abrange macroeconomia, economia política e a economia brasileira, com foco na desigualdade e, mais recentemente, na transição climática.

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Passado quase um ano da tragédia climática que abalou o Rio Grande do Sul e o Brasil, é importante relembrar os fatos para tomá-los como referência para políticas e ações futuras.

Entre abril e maio de 2024, um volume descomunal de chuvas alterou o cotidiano de mais de 2 milhões de pessoas e gerou destruição da infraestrutura pública e privada em cerca de 478 dos 497 municípios gaúchos. Mais do que um desafio local, as inundações evidenciaram a urgência global de estratégias eficazes de adaptação climática. Nesse contexto, para além de respostas aos danos imediatos, tornou-se prioridade a reflexão de longo prazo em torno do fortalecimento do estado e do país frente a eventos climáticos extremos.

Evidentemente, essa é uma tarefa bastante complexa. Ela exige uma coordenação fina entre variáveis como a disponibilidade de recursos financeiros, o planejamento coordenado entre as esferas responsáveis e a formulação de conhecimento científico especializado, capaz de orientar a elaboração de soluções criativas e eficientes.

Foi nessa direção que estruturamos o projeto “RS: Resiliência & Sustentabilidade”, resultado da cooperação entre a Secretaria Extraordinária da Presidência da República para o Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul (SERS) e a Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), com financiamento da Open Society Foundations.

Entre agosto de 2024 e janeiro de 2025, o projeto perseguiu o objetivo de motivar a pesquisa universitária a assumir um papel de destaque na formulação de uma agenda de reconstrução voltada à adaptação e à resiliência climáticas como pilares para o desenvolvimento sustentável.

Com essa perspectiva, convidamos universidades federais sediadas no território do Rio Grande do Sul a indicarem equipes de pesquisadores capazes de comunicar diagnósticos e sugerir caminhos para a prevenção e o enfrentamento de eventos climáticos extremos.

O conhecimento gestado nessa ação com universidades federais foi sistematizado em breves artigos, compilados em uma publicação com o mesmo nome do projeto.

Com o intuito de reavivar a discussão em torno desses temas, os resultados e os textos gerados durante o semestre serão lançados e discutidos em um seminário científico no próximo dia 14 de março, em Porto Alegre, no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Um debate necessário

Alguns artigos discutem, por exemplo, as causas da inundação, seus impactos econômicos, sociais e ambientais. Além disso, trazem diretrizes para a elaboração de políticas públicas direcionadas a estratégias de resiliência. Outros oferecem metodologias para enfrentamento de desastres, como ferramentas de modelagem computacional, inteligência artificial para previsões meteorológicas e protocolos de gestão de crises. Há, por fim, discussões mais amplas sobre as perspectivas do desenvolvimento sustentável no Rio Grande do Sul, com destaque para o papel cumprido pela estrutura produtiva, para as nuances do planejamento urbano e regional e para a singularidade do bioma pampa para a economia e a ecologia do estado.

Diante das limitações do projeto, optou-se pela diversificação dos centros contemplados e das áreas temáticas tratadas, também com o intuito de reforçar a complexidade e a dimensão transdisciplinar da questão em foco. Não se espera, portanto, que o livro esgote o assunto.

Ao contrário, como indica a rápida realização da coletânea de textos, a prioridade é manter ativa a memória das inundações de 2024 e mobilizar um esforço contínuo e de longo prazo de produção de conhecimento acadêmico comprometido com a reconstrução do estado.

Os diagnósticos e debates realizados entre agosto de 2024 e janeiro de 2025 trouxeram à tona uma particularidade importante, evidenciada pelas inundações do ano passado: como previsto por especialistas, regiões que já eram suscetíveis ou vulneráveis a extremos climáticos seriam possivelmente expostas a estes com maior frequência e intensidade.

O caso do Rio Grande do Sul, portanto, soma-se a outras experiências globais para mostrar a desigualdade dos impactos gerados pelo aquecimento do planeta, seja em termos dos territórios atingidos, seja em relação as populações afetadas. Essa é uma face menos conhecida do debate em torno das mudanças climáticas.

É importante, por fim, lembrar que o episódio trágico das enchentes de 2024 colocou em evidência a solidariedade da população gaúcha, bem como de brasileiros de todo o país. Além disso, foi possível observar que respostas rápidas e estruturadas do poder público são capazes de minimizar significativamente os impactos negativos de eventos extremos como este.

A partir dessa visão, nosso intuito com a publicação é transformar essa mobilização nacional em um projeto permanente de busca por resiliência e sustentabilidade, alinhando esforços públicos e privados para redefinir a relação entre sociedade e meio ambiente.

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