Espécies de lêmures pendurados em uma árvore seca devido à falta de chuvas em Madagascar. Captura de tela do vídeo “Mudanças climáticas e desmatamento ameaçam a biodiversidade de Madagascar” no Canal do YouTube em inglês da Al Jazeera. Uso justo.
Este artigo foi publicado como parte da formação de justiça climática na África.
Embora Madagascar seja um país insular muito rico em biodiversidade, continua particularmente vulnerável aos danos causados pelo aquecimento global. Este dano tem um impacto devastador nos ecossistemas e nas comunidades locais.
Devido à sua localização geográfica e seu isolamento, Madagascar abriga algumas espécies de flora e fauna únicas. Mais de 80% de suas espécies são endêmicas, conforme indica a publicação Brut Nature no X (anteriormente Twitter):
C’est l’un des paysages les plus spectaculaires de Madagascar : un immense labyrinthe de calcaire où prospèrent une faune et une flore exceptionnelles.
Voici la réserve naturelle intégrale du Tsingy de Bemaraha pic.twitter.com/bdrpFUZHyG
Esta é uma das paisagens mais espetaculares de Madagascar: um imenso labirinto de calcário onde se ostenta uma flora e uma fauna excepcionais.
Aqui está a Reserva Natural Integral do Tsingy de Bemaraha pic.twitter.com/bdrpFUZHyG
— Brut nature FR
No entanto, o aumento das temperaturas, as interrupções nos padrões de chuva e o aumento da frequência de desastres naturais colocam em sério risco essa biodiversidade única e os meios de subsistência das comunidades locais.
Ecossistemas em risco e setor agrícola perturbado
Os ecossistemas florestais malgaxes estão particularmente em risco. As secas prolongadas e os incêndios florestais, alimentados pelo aquecimento global, reduziram rapidamente os habitats naturais.
O desmatamento, como a agricultura de corte e queima (chamada de marinha) e a extração ilegal de madeiras preciosas, contribuem para a extensa perda de florestas. Em janeiro de 2021, o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) publicou o relatório científico “Frentes de desmatamento: Impulsionadores e respostas em um mundo em mudança”, oferecendo uma análise detalhada das causas do desmatamento e as possíveis soluções globais. Este relatório identifica 24 “frentes de desmatamento” em todo o mundo, regiões onde o desmatamento é particularmente intenso e onde as florestas remanescentes estão criticamente ameaçadas. Madagascar está entre as 24 frentes críticas.
Entre 2004 e 2017, a ilha perdeu cerca de 700 mil hectares de floresta, principalmente nas áreas leste e oeste. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, foram registrados mais de 60 mil focos de incêndio em áreas florestais de Madagascar em 2020. Entre 2002 e 2023, Madagascar perdeu cerca de 1,08 milhão de hectares de suas principais florestas tropicais.
No âmbito socioeconômico, as mudanças climáticas afetam significativamente as comunidades locais. A agricultura, que contribui com um quarto do produto interno bruto do país, é o principal meio de subsistência para a maioria da população. Utiliza cerca de 80% das pessoas empregadas no país e é particularmente vulnerável às variações climáticas. As secas mais frequentes prejudicam a produtividade das culturas alimentares e ameaçam a segurança alimentar. De acordo com um relatório do WWF publicado em 2019, 53% das áreas protegidas terrestres de Madagascar são particularmente vulneráveis às mudanças climáticas. Isso se deve principalmente à perda de habitats naturais causada pelo desmatamento.
Além disso, o acesso à água potável está se tornando cada vez mais difícil, especialmente em regiões como o sul de Madagascar, agravando o risco de doenças. A poluição do ar também afeta a saúde humana.
Além disso, os recifes de coral, vitais para a saúde dos ecossistemas marinhos e da pesca local, são bastante afetados pelo branqueamento de corais; quando a temperatura da água aumenta mais do que os corais podem tolerar, eles expulsam as algas, revelando seu esqueleto branco, daí o termo “branqueamento”. Os recifes de coral atuam como habitats incubadores para várias espécies de peixes. A sua degradação reduz a biodiversidade marinha e afeta a segurança alimentar das comunidades costeiras.
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Ameaças diretas à biodiversidade
Muitas vezes descrito como um “hotspot de biodiversidade“, devido à sua biodiversidade excepcional e flora e fauna únicas, as principais ameaças ambientais de Madagascar pesam fortemente sobre seus recursos naturais.
A atividade humana ameaça a diversidade biológica ao danificar habitats naturais e interromper os ciclos de vida. Madagascar é um local onde vivem várias espécies emblemáticas, como lêmures, camaleões e baobás. Das florestas tropicais no leste até as regiões áridas no sul, os manguezais no oeste e os recifes de coral, seus ecossistemas variados desempenham um papel vital na manutenção do equilíbrio ecológico e dos meios de subsistência locais. No entanto, estão enfrentando ameaças sem precedentes, e receberam uma pontuação de 4,69 em 5 no Relatório de Ameaças Ecológicas de 2024.
Um vídeo do Le Monde Afrique intitulado “Em Madagascar, 95% das espécies de lêmures estão em extinção” destaca essa ameaça:
Uma das maiores ameaças à biodiversidade é o uso excessivo de agrotóxicos. Os pesticidas contaminam o solo e a água, ameaçando assim os polinizadores e outras espécies essenciais. Além disso, o aquecimento global e a poluição química, plástica e sonora criam um ambiente hostil para várias criaturas vivas, aumentando o risco de extinção.
A perda de espécies endêmicas malgaxes também tem um papel desestabilizador pois cada espécie está envolvida em interações vitais. Tal perda exerce uma influência direta e severa na humanidade, afetando vários aspectos do cotidiano dos cidadãos malgaxes.
Finalmente, a perda de biodiversidade tem um impacto social e econômico em vários setores, como o turismo e a pesca, que dependem da rica diversidade dos ecossistemas.
Soluções e ações para preservar a biodiversidade
Uma ação abrangente e política é essencial para combater as perdas de biodiversidade. Em 1995, Madagascar ratificou o Convênio sobre Diversidade Biológica (CDB), que promove a conservação dos ecossistemas e a proteção de áreas marinhas e terrestres. Esses acordos incentivam os países a tomarem medidas para preservar habitats naturais e conter práticas nocivas.
Dadas as ameaças que o desmatamento representa para os recursos naturais do país, foram adotadas medidas inovadoras. Esta reportagem da Tv5monde explica:
#Madagascar est un haut-lieu de la biodiversité mondiale. 80% de sa faune et de sa flore sont endémiques. Mais la déforestation menace cette richesse naturelle. Reportage dans la forêt d’Anjozorobe où des paysans ont choisi l’apiculture comme alternative à la coupe de bois. pic.twitter.com/HHJ4XmQVWW
— Le journal Afrique TV5MONDE (@JTAtv5monde) January 17, 2021
#Madagascar é um lugar importante para a biodiversidade do mundo. Mais de 80% de sua flora e fauna são endêmicas. No entanto, o desmatamento ameaça seus recursos naturais. A reportagem sobre a floresta de Anjozorobe conta como os agricultores escolheram a apicultura como alternativa à exploração madeireira. pic.twitter.com/HHJ4XmQVW
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A atual situação ambiental de Madagascar destaca a necessidade urgente de uma ação local e internacional para mitigar o impacto do aquecimento global. Embora o principal desafio seja encontrar soluções que protejam os ecossistemas malgaxes, garantir meios de subsistência resilientes para seus cidadãos também é importante.