As mudanças ocorridas no governo dos Estados Unidos (EUA) em relação às políticas imigratórias e às questões de gênero, sancionadas pelo presidente Donald Trump, impactaram diretamente as bibliotecas públicas do país. Essas instituições, que historicamente desempenham um papel fundamental na integração social, estão desafiadas a adaptar seus serviços para atender às novas realidades impostas pelas decisões governamentais.
Ao longo do tempo, principalmente após as crises econômicas globais dos anos 1990, as bibliotecas públicas dos Estados Unidos perceberam que uma parte significativa de seu público passou a ser composta por imigrantes que ingressaram no país em busca de melhores condições de vida, trabalho e oportunidades.
Diante dessa demanda, muitas bibliotecas, especialmente aquelas localizadas em grandes cidades como Nova York, Washington e Los Angeles, desenvolveram projetos educativos com o objetivo de acolher esses imigrantes e oferecer uma série de serviços que os auxiliem na integração à sociedade norte-americana.
Entre essas iniciativas, encontram-se diversas ações que vão desde programas de ensino da língua inglesa para imigrantes até atividades como contação de histórias, rodas de conversa e exploração de acervos relacionados às histórias e culturas dos diferentes povos que compõem esse novo panorama migratório nos Estados Unidos.
A Biblioteca Pública de Nova York (NYPL), por exemplo, tem uma longa história de apoio a imigrantes, oferecendo uma variedade de serviços para ajudar esses grupos a se integrarem à sociedade americana. Uma das iniciativas mais notáveis é o Immigrant Services Program, que visa fornecer recursos educacionais, apoio cultural e acesso à informação para imigrantes de diversas origens. Dessa forma, as bibliotecas desempenham um papel fundamental na construção de um ambiente mais inclusivo e na promoção do pertencimento desses indivíduos à sociedade norte-americana.
Programas em risco
Para o desenvolvimento dessas ações, as bibliotecas públicas receberam uma série de incentivos governamentais e privados com o intuito de fomentar iniciativas que promovam a integração dos diferentes povos à organização social dos Estados Unidos. No entanto, o cenário atual levanta questionamentos sobre a continuidade dessas políticas voltadas para os imigrantes e sobre como as bibliotecas irão se posicionar diante das mudanças implementadas após a posse do presidente Donald Trump.
Além das políticas imigratórias, um outro ponto relevante nesse contexto diz respeito às iniciativas voltadas para a representatividade. Essa discussão também vem sendo amplamente debatida dentro das bibliotecas públicas dos Estados Unidos, que têm promovido diversas ações para garantir maior inclusão e visibilidade a diferentes grupos sociais.
Dentre essas iniciativas, destacam-se programas voltados para a integração de pessoas trans na sociedade, além do incentivo ao debate sobre representatividade em relação à raça e à sexualidade nas bibliotecas públicas norte-americanas. Muitas dessas instituições realizam rodas de conversa, mesas de debate e atividades como contação de histórias para crianças, abordando de maneira educativa e acessível a diversidade de identidades.
Embora estejamos tratando da realidade norte-americana, ainda não é possível prever quais serão os desdobramentos dessas políticas a longo prazo. No entanto, é inevitável refletir sobre como essas transformações podem ecoar em outras partes do mundo, incluindo o Brasil.
O que acontece com as bibliotecas nos Estados Unidos pode servir de alerta para outras nações, demonstrando como políticas governamentais e mudanças de valores na sociedade podem impactar diretamente essas instituições. Diante disso, a forma como as bibliotecas lidam com esses desafios hoje pode oferecer subsídios para compreender os possíveis revezes que bibliotecas em outros países também poderão enfrentar em cenários políticos e sociais em transformação.