Entre estudantes do ensino médio e adultos, meninas e mulheres são muito mais propensas a usar algoritmos tradicionais passo a passo para resolver problemas matemáticos básicos — como alinhar números para somar, começando pela casa das unidades, e “transportar” um número quando necessário. Meninos e homens são mais propensos a usar atalhos alternativos, como arredondar os dois números, somar os valores arredondados e, em seguida, ajustar para remover o arredondamento.
Mas aqueles que usam métodos tradicionais em problemas básicos são menos propensos a resolver problemas matemáticos mais complexos corretamente. Essas são as principais conclusões de dois estudos que nossa equipe de pesquisa publicou em novembro de 2025.
Essas novas evidências podem ajudar a explicar uma aparente contradição nas pesquisas existentes — as meninas têm melhor desempenho em matemática na escola, mas os meninos têm melhor desempenho em provas de matemática de alta complexidade e são mais propensos a seguir carreiras que exigem muita matemática. Nossa pesquisa se focou não apenas em como obter respostas corretas na matemática, mas nos métodos que os alunos usam para chegar a elas. Descobrimos que meninos e meninas abordam os problemas matemáticos de maneiras diferentes, que persistem até a idade adulta.
Um possível paradoxo
Em um estudo de 2016 com alunos do ensino fundamental dos EUA, os meninos superaram as meninas em uma proporção de 4 para 1 entre os 1% com as melhores notas em uma prova nacional de matemática. E, ao longo de muitas décadas, os meninos têm sido cerca de duas vezes mais propensos que as meninas a estar entre os melhores colocados no SAT (o equivalente ao Enem americano) e nos exames AP de matemática (outro tipo de prova nacional de estudantes dos EUA).
As meninas, no entanto, tendem a ser mais diligentes no ensino fundamental e obter notas melhores em matemática ao longo de sua vida escolar. E meninas e meninos de todas as séries tendem a obter notas semelhantes nos exames estaduais de matemática, que tendem a estar mais alinhados com o currículo escolar e têm problemas mais familiares do que o SAT ou outros exames nacionais americanos.
Além das notas e dos resultados dos testes, as habilidades e a confiança adquiridas na escola vão muito além, chegando ao mercado de trabalho. Em profissões lucrativas da área de STEM (sigla em inglês para “Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática”), como ciência da computação e engenharia, os homens superam as mulheres em uma proporção de 3 para 1. Os pesquisadores consideraram várias explicações para essa disparidade, incluindo diferenças na confiança em matemática e valores ocupacionais, como priorizar ajudar os outros ou ganhar dinheiro. Nosso estudo sugere um fator adicional a ser considerado: diferenças de gênero nas abordagens aos problemas matemáticos.
Quando idosos pensam em matemática, eles podem se lembrar de memorizar tabuadas ou fazer o tedioso algoritmo de divisão longa. A memorização e o cumprimento de regras podem valer a pena em provas de matemática focadas em procedimentos ensinados na escola. Mas seguir regras tem seus limites e parece proporcionar mais recompensas entre os alunos com baixo desempenho do que entre os alunos com alto desempenho nas salas de aula.
A matemática mais avançada envolve resolver problemas novos e complexos em vez de seguir regras.
Estratégias diferentes
Ao analisar estudos anteriores com crianças pequenas, nossa equipe de pesquisa ficou impressionada com as descobertas de que meninos pequenos usam estratégias mais criativas em problemas de cálculo, enquanto as meninas usam com mais frequência algoritmos padrão ou contagem. Nós nos perguntamos se essas diferenças desaparecem após o ensino fundamental ou se persistem e se relacionam com as disparidades de gênero em resultados de matemática mais avançada.
Em um estudo anterior, pesquisamos alunos de duas escolas secundárias com características demográficas diferentes para ver se eles eram o que chamamos de ousados na resolução de problemas. Pedimos que classificassem o quanto concordavam ou discordavam de afirmações específicas, como “Gosto de pensar fora da caixa quando resolvo problemas matemáticos”. Os meninos relataram tendências mais ousadas de resolução de problemas do que as meninas. É importante ressaltar que os alunos que relataram tendências mais ousadas de resolução de problemas obtiveram pontuações mais altas em um teste de resolução de problemas matemáticos que aplicamos.
Nossos estudos mais recentes ecoam esses resultados anteriores, mas revelam mais detalhes sobre como meninos e meninas, e homens e mulheres, abordam problemas matemáticos básicos.
Algoritmos e agradar ao professor
No primeiro estudo, apresentamos três questões a mais de 200 alunos do ensino secundário: “25 x 9 = _ _ _”, “600 – 498 = _ _ _” e “19 + 47 + 31 = _ _ _”. Cada questão podia ser resolvida com um algoritmo tradicional ou com um atalho mental, como resolver 25 x 9 multiplicando primeiro 25 x 8 para obter 200 e depois adicionando os 25 finais para obter 225.
Independentemente do seu gênero, os alunos tinham a mesma probabilidade de resolver corretamente estes cálculos básicos. Mas havia uma diferença marcante entre os gêneros na forma como chegavam à resposta. As meninas eram quase três vezes mais propensas do que os meninos — 52% contra 18% — a usar um algoritmo padrão nas três questões. Os meninos eram muito mais propensos do que as meninas — 51% contra 15% — a nunca usar um algoritmo nas questões.
Suspeitamos que a tendência das meninas de usar algoritmos possa ter origem em uma maior pressão social para obedecerem, incluindo o cumprimento das expectativas tradicionais dos professores.
Portanto, também fizemos oito perguntas a todos os alunos para investigar o quanto eles tentam agradar seus professores. Também queríamos ver se o uso de algoritmos poderia estar relacionado a diferenças de gênero na resolução de problemas mais avançados, então demos aos alunos vários problemas matemáticos complexos de testes nacionais, incluindo o SAT.
Como suspeitávamos, descobrimos que as meninas eram mais propensas a relatar o desejo de agradar aos professores, por exemplo, completando o trabalho conforme as instruções. Aquelas que disseram ter esse desejo usavam o algoritmo padrão com mais frequência.
Além disso, os meninos da nossa amostra tiveram notas mais altas do que as meninas nos problemas matemáticos complexos. É importante ressaltar que, embora os alunos que usavam algoritmos nos itens de cálculo básico tivessem a mesma probabilidade de calcular esses itens corretamente, os usuários de algoritmos tiveram um desempenho pior nos problemas matemáticos mais complexos.
Continuando na idade adulta
Em nosso segundo estudo, apresentamos a 810 adultos apenas um problema: “125 + 238 = ___.” Pedimos que eles somassem mentalmente, o que esperávamos que os desencorajasse a usar um algoritmo. Mais uma vez, não houve diferença entre os sexos nas respostas corretas.
Mas 69% das mulheres, em comparação com 46% dos homens, relataram usar o algoritmo padrão para o cálculo mental, em vez de usar outra estratégia completamente diferente.
Também aplicamos aos adultos um teste de resolução de problemas mais avançado, desta vez focado no raciocínio relacionado à probabilidade, como as chances de que um dado de sete lados resultasse em um número par. Semelhante ao nosso primeiro estudo, as mulheres e aqueles que usaram o algoritmo padrão no problema de cálculo tiveram um desempenho pior no teste de raciocínio.
A importância da criatividade
Identificamos alguns fatores que podem influenciar essas diferenças entre os sexos, incluindo habilidades de raciocínio espacial, que podem ajudar as pessoas a desenvolver abordagens alternativas de cálculo. Ansiedade em relação a testes e o perfeccionismo, ambos mais prevalentes entre as mulheres, também podem ser um fator.
Também estamos interessados no poder das pressões sociais específicas de gênero sobre as meninas. Dados nacionais mostram que as meninas jovens apresentam um comportamento mais estudioso do que os meninos. E as meninas do ensino médio que estudamos eram mais propensas do que os meninos a relatar que faziam um esforço específico para atender às expectativas dos professores.
Definitivamente, são necessárias mais pesquisas para entender melhor essa dinâmica, mas nossa hipótese é que a expectativa que algumas meninas sentem de ser obedientes e agradar aos outros possa levar a tendências de agradar aos professores, resultando em meninas usando algoritmos com mais frequência do que meninos, que são mais socializados para assumirem riscos.
Embora o comportamento complacente e os métodos matemáticos padrão muitas vezes levem a respostas corretas e boas notas na escola, acreditamos que as escolas devem preparar todos os alunos — independentemente do gênero — para quando enfrentarem problemas desconhecidos que exijam habilidades criativas de resolução de problemas, seja na vida cotidiana, em provas de alta complexidade ou em profissões que exigem muito conhecimento matemático.






