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Microplásticos: Minúsculos no nome, gigantescos no problema

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Microplásticos: Minúsculos no nome, gigantescos no problema

Você talvez já tenha ouvido falar em microplásticos. A palavra remete a “plásticos pequenos”, o que não está longe da verdade. Mas quão pequenos são? Como se formam? Onde estão? Quais riscos oferecem?

Microplásticos e seu tamanho

Microplásticos são partículas plásticas com diâmetro entre 1 e 1000 µm (1 mm), e podem chegar a tamanhos inferiores a 0,1 µm (0,0001 mm), sendo então chamados de nanoplásticos. Nessa escala, a área superficial aumenta muito, intensificando sua reatividade e impacto ambiental.

Para comparar, areia grossa tem tamanho similar ao dos microplásticos. Já os nanoplásticos são menores que a espessura de um fio de cabelo (50–100 µm). Visualmente, uma formiga poderia representar um microplástico diante de uma garrafa PET (polietileno tereftalato), enquanto um vírus ilustraria um nanoplástico, conforme ilustrado na figura abaixo.

Figura 1. Escala comparativa: garrafa PET, microplásticos e nanoplásticos. Amanda F. Gouveia

Essas partículas se dispersam facilmente pelo ar, água e organismos vivos. Elas podem se acumular e causar efeitos ainda pouco compreendidos, mas potencialmente perigosos. Detectá-las exige microscópios e técnicas sofisticadas.

Como se formam os microplásticos

Existem diversos tipos de plásticos: PET (garrafas), poliéster (tecidos), PVC (policloreto de vinila – construção), entre outros. Os microplásticos são fragmentos desses plásticos maiores, que se degradam com sol, calor e atrito. Assim como uma laranja se divide em gomos, os plásticos se quebram em pedaços menores, perdendo a forma, mas mantendo características químicas do material original.

Com o tempo, esses fragmentos atingem tamanhos tão pequenos que são classificados como micro ou nanoplásticos. Quimicamente, deixam de ser polímeros inteiros e se tornam oligômeros, ainda reativos e poluentes, porém mais difíceis de controlar.

Não é só a degradação de plásticos grandes que gera microplásticos. Essas partículas entram nos sistemas de esgoto por fontes diversas. Por exemplo, produtos de higiene pessoal, como esfoliantes e pastas de dente, contêm microesferas plásticas. A lavagem de roupas sintéticas libera milhares de microfibras — uma única lavagem pode liberar mais de 1900 delas. Essas fibras são grandes poluentes aquáticos. Outra fonte significativa é o desgaste de pneus, cujas partículas são levadas pela água da chuva até os rios e mares.

Todos nós fazemos parte dessa cadeia de poluição, e pequenas ações, como evitar descartáveis, separar o lixo e preferir roupas de fibras naturais, podem ajudar a diminuir a quantidade de microplásticos liberados no ambiente.

O caminho dos microplásticos

A maioria das notícias sobre microplásticos está associada aos oceanos — tartarugas presas em plásticos ou praias contaminadas. Mas pensar que o problema se limita ao mar é um equívoco.

Para entender a disseminação dessas partículas, vale lembrar o ciclo da água: evaporação, condensação, precipitação, infiltração e escoamento. A água circula entre a atmosfera, o solo, rios e mares — e os microplásticos vão junto. Por isso, eles são encontrados em ambientes aquáticos, terrestres, atmosféricos e até no interior de organismos vivos, conforme ilustrado abaixo.

Figura 2. O caminho dos microplásticos: do descarte inadequado ao organismo humano. Amanda F. Gouveia

Sua dispersão depende do tamanho, formato e densidade. Partículas grandes e densas tendem a se depositar; pequenas e leves, a flutuar.

Microplásticos e saúde humana

Os microplásticos são silenciosos. Diferente da COVID-19, que gerou uma pandemia mundial, os microplásticos estão camuflados em nosso meio ambiente. Estão no ar (inalação), nos tecidos (contato com a pele) e nos alimentos (ingestão). A exposição contínua pode estar relacionada a doenças respiratórias, digestivas, distúrbios do sono, obesidade, diabetes, câncer, disfunções reprodutivas e imunológicas.

A figura abaixo resume as diferentes vias pelas quais os microplásticos podem entrar no corpo humano, bem como os modos de interação e as potenciais consequências para a saúde associadas.

Figura 3. Como os microplásticos entram no corpo humano, interagem com o organismo e podem afetar a saúde. Amanda F. Gouveia

Estudos encontraram partículas plásticas no tecido pulmonar humano em 13 de 20 amostras analisadas em autópsias. Os polímeros mais comuns foram polietileno (PE) e polipropileno (PP) e os autores apontam a necessidade urgente de se pesquisar sobre os efeitos desses materiais na saúde.

Outro estudo detectou microplásticos em fezes humanas: PP e PET foram encontrados em 100% das amostras, enquanto poliestireno (PS) e PE apareceram em mais de 95%.

Recentemente, Ghosal et al. observaram que microplásticos interagem com a proteína α-sinucleína, importante no sistema nervoso. Essa interação induz alterações estruturais da proteína, cuja agregação está relacionada ao desenvolvimento da Doença de Parkinson e outras doenças neurodegenerativas.

Microplásticos já foram encontrados em placentas humanas, levantando preocupações sobre possíveis efeitos em fetos e gestantes. Seu potencial tóxico inclui alterações hormonais, inflamação e danos celulares.

A ciência em busca de soluções

Assim como a tecnologia que usamos no dia a dia resulta de anos de pesquisa, a ciência também está avançando para enfrentar o desafio dos microplásticos. A remoção dessas partículas pode ocorrer em vários pontos — oceanos, águas pluviais, estações de tratamento de água e de esgoto. Identificar as principais fontes de descarte é crucial para aplicar a tecnologia mais eficaz.

Um dos grandes problemas está nas estações de tratamento de águas residuais, que embora removam até 98% dos microplásticos, falham com partículas muito pequenas, especialmente abaixo de 20 µm — e principalmente com os nanoplásticos. Essas partículas acabam na água potável e em efluentes tratados, oferecendo risco potencial à saúde.

Para buscar soluções, pesquisadores têm explorado métodos como oxidação avançada (por exemplo, radiação ultravioleta (UV), UV/peróxido de hidrogênio, ozônio), biodegradação, filtração, adsorção, separação magnética, degradação térmica, microrrobôs e nanorrobôs. A fotocatálise, que usa luz solar para degradar poluentes, destaca-se como alternativa promissora, alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. No entanto, é essencial monitorar os compostos formados, pois subprodutos tóxicos podem surgir.

Algumas dessas tecnologias de remoção são ilustradas abaixo.

Figura 4. Ilustração de tecnologias atuais e emergentes para remoção de microplásticos. Amanda F. Gouveia

O que podemos fazer?

Como cientistas, estamos direcionando nossas pesquisas para desenvolver materiais capazes de atuar em novos espectros da fotocatálise. A ideia é adaptar métodos já usados no tratamento de água para, futuramente, ajudar também na degradação de microplásticos.

É um caminho longo, que exige tempo e muito esforço. Enquanto isso, podemos, e devemos, agir também como cidadãs e cidadãos.

Um bom exemplo de mobilização foi a campanha global “Limpeza Costeira Internacional”, que em 2015 reuniu 791 mil voluntários em 92 países e recolheu mais de 8 mil toneladas de lixo. Os itens mais comuns? Bitucas de cigarro, garrafas, tampas, canudos e sacolas plásticas.

Atitudes simples, como descartar o lixo corretamente, já fazem diferença. Cada tampinha que não vai parar no chão é um resíduo a menos nos rios e mares. Quando juntamos pequenas ações do dia a dia com o conhecimento científico, damos passos importantes para cuidar do planeta. Isso inclui também cobrar políticas públicas mais eficazes no combate à poluição, à má gestão de resíduos e à proteção dos ecossistemas.

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