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Novas tecnologias de captura de carbono são soluções urgentes enquanto petróleo permanecer na matriz energética

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Novas tecnologias de captura de carbono são soluções urgentes enquanto petróleo permanecer na matriz energética

Todo mundo adora odiar o petróleo. E, embora muitos exijam que paremos completamente sua produção e consumo, não podemos negar que o petróleo está em toda parte no nosso dia a dia — na sua TV, computador e comprimido de aspirina. Ele lubrifica nossos veículos e pele. Misturado ao asfalto, forma estradas e nos fornece o combustível para alcançar as estrelas. A internet, a inteligência artificial e toda a tecnologia da qual dependemos exigem um amplo suprimento de energia, que vem em parte do petróleo.

Portanto, gostemos ou não, ele continuará a fazer parte da matriz energética por alguns anos, apesar dos efeitos negativos do seu uso, que estão nas manchetes em toda parte: impactos ambientais severos, como o aumento da poluição e a intensificação da crise climática (sem falar nas mortes causadas por protocolos inseguros nas empresas de petróleo).

Apesar dos esforços para reduzir as emissões de CO₂ provenientes da queima de combustíveis fósseis, essas emissões aumentaram mais de 50% desde a Primeira Revolução Industrial. E é por isso que cientistas estão desenvolvendo novas tecnologias incríveis — que às vezes parecem boas demais para ser verdade — para solucionar os problemas do petróleo.

O petróleo no futuro: eliminar ou transformar?

No atual contexto de preocupação ambiental, várias soluções têm sido propostas em relação ao uso ou eliminação do petróleo e gás. Alguns movimentos sociais, como o do “decrescimento”, defendem a redução do consumo de energia e do crescimento econômico em setores menos essenciais, priorizando áreas estratégicas como a saúde. Promovem uma mudança cultural “do petróleo para o solo”, incentivando sociedades futuras a priorizarem relações humanas e ecológicas e conquistas não materiais.

Já a transição energética promovida pelo Acordo de Paris envolve o compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito estufa substituindo gradualmente os combustíveis fósseis por fontes de energia renovável — solar, eólica, geotérmica, entre outras. Para atingir esses objetivos, estão em andamento investimentos em pesquisa e na implementação de projetos de energia renovável.

Atualmente, mais de 30% da energia consumida no mundo para geração de eletricidade já é renovável. Mesmo assim, a transição energética enfrenta desafios, que abrangem vários aspectos:

Tecnológicos – construção de infraestruturas de distribuição de energia renovável em larga escala;

Econômicos – os investimentos iniciais na transição tecnológica são arriscados e podem exigir subsídios;

Sociais – é preciso combater a pobreza energética e garantir segurança e justiça energética, garantindo acesso igualitário à energia em todo o mundo; e

Ambientais – uso do solo para instalação de painéis solares, a reciclagem dos componentes tóxicos das baterias e a extração de metais para baterias, que causa danos ambientais.

A nova ciência do petróleo

Não é viável eliminar o petróleo hoje mantendo o mesmo nível de consumo energético global, pois as fontes renováveis ainda não são suficientes. Nesse contexto, diversas tecnologias estão sendo desenvolvidas para tornar a extração e o uso do petróleo mais limpos e sustentáveis. Cientistas estão trabalhando para modernizar e otimizar a extração e produção de petróleo e gás e o gerenciamento de reservatórios, reduzindo as emissões de CO₂ das empresas petrolíferas.

Reduzir as emissões de CO₂ é crucial, mas não é suficiente para tornar as empresas de petróleo tão sustentáveis quanto se espera. Em meio a controvérsias, tecnologias que parecem saídas da ficção científica estão surgindo: processos para capturar CO₂ da indústria do petróleo e gás, de indústrias de manufatura, de veículos e da própria atmosfera. Esses processos são conhecidos como Captura, Utilização e Armazenamento de Carbono (CCUS, na sigla em inglês) e Captura Direta de Carbono do Ar (DAC).

O estudo e o desenvolvimento de tecnologias de captura de carbono ainda estão em fase inicial. O processo geralmente envolve três etapas: captura, em que o CO₂ é separado de outros gases; transporte, em que o CO₂ é comprimido e transportado por dutos ou navios até o local de armazenamento; e armazenamento, em que o CO₂ é injetado por poços em formações rochosas específicas, a milhares de metros abaixo da superfície da Terra.

Alternativamente, esse CO₂ pode ser também utilizado na produção de tijolos, fabricação de metais e criação de diamantes em laboratório. Ou ainda ser injetado em reservas de petróleo (um processo chamado Recuperação Avançada de Petróleo – EOR).

Esses processos, no entanto, não estão livres de críticas. Algumas delas incluem:

Oposição às empresas petrolíferas: Ambientalistas temem que essa tecnologia vire um “passe livre” para as petroleiras continuarem poluindo, alegando que vão limpar a bagunça depois com captura de carbono.

Limitações tecnológicas atuais: A captura de carbono ainda é cara, não captura 100% do CO₂ e não lida com o metano, que também é liberado durante o uso de combustíveis fósseis e é ainda mais prejudicial ao clima.

Riscos do armazenamento de carbono: Alguns cientistas questionam a segurança de armazenar CO₂ no subsolo (devido ao risco de vazamentos) e os desafios de monitorá-lo por décadas ou séculos. Erros no armazenamento podem levar a vazamentos de CO₂, o que pode agravar a crise climática, causar sufocamento de pessoas e animais nas proximidades, contaminar águas subterrâneas, alterar o pH do solo e afetar ecossistemas locais. O armazenamento de CO₂ também pode provocar terremotos induzidos devido à pressão subterrânea.

Um passo de cada vez rumo ao futuro

É necessário lidar com as críticas ao desenvolvimento de tecnologias de CCUS e DAC. Como não está claro por quanto tempo ainda precisaremos dos combustíveis fósseis, investir em tecnologias que reduzam as emissões de carbono parece uma estratégia sensata.

Sobre as limitações tecnológicas atuais, é essencial considerar que a ciência se desenvolve de forma incremental. Não podemos prever todo o potencial de uma tecnologia em seus estágios iniciais. Ninguém imaginaria um smartphone olhando para o telefone de Graham Bell em 1886. Cada descoberta científica leva ao reconhecimento de limitações, que são então superadas, repetidamente. As tecnologias tendem a ser caras no início, até que modelos mais acessíveis sejam desenvolvidos.

Quanto ao armazenamento, a seleção cuidadosa de locais, o monitoramento, a supervisão e a comunicação transparente com as comunidades locais são essenciais. Diversos estudos mostram que o armazenamento seguro de CO₂ é possível. Por exemplo, desde 1996, a Equinor injeta CO₂ em um aquífero salino profundo sob o Mar do Norte. Esses aquíferos são formações rochosas porosas e vastas, saturadas com água altamente salina — imprópria para uso humano ou agrícola. Um extenso monitoramento sísmico tem mostrado consistentemente que a pluma de CO₂ se comporta como esperado, sem evidências de vazamentos.

O que esperar do futuro?

Está claro que as tecnologias de captura de carbono ainda estão em fase inicial, à espera de avanços metodológicos, teóricos e tecnológicos. Como em toda ciência, ninguém sabe qual será o próximo passo — ou até onde ele poderá nos levar. Atualmente, essa tecnologia gera debates entre cientistas: alguns acreditam em seu potencial para mitigar a crise climática; outros a consideram uma distração da verdadeira solução, a transição para energias renováveis.

Mas a ciência só evolui se a permitirmos. Ao longo da história, avanços científicos que pareciam improváveis ou impossíveis tornaram-se realidade. Não faz muito tempo, dividir um átomo parecia impensável. Viagens espaciais e a erradicação de doenças pareciam utopias. Talvez os desafios da indústria do petróleo sejam superados por pesquisadores visionários, criativos e ousados — como já aconteceu tantas vezes antes.

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