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Novo dispositivo implantável e programa de acesso ajudam a salvar pacientes com insuficiência cardíaca

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Novo dispositivo implantável e programa de acesso ajudam a salvar pacientes com insuficiência cardíaca

Você algum dia imaginou que o conjunto das doenças que mais matam no mundo é consequência de maus hábitos? Sim, é verdade. A maioria das doenças que mais roubam vidas poderia ser evitada com mudanças no estilo de vida.

E o você faria se soubesse que é possível evitar fatores de risco relacionados a doenças cardíacas adquiridas, como a insuficiência cardíaca (IC), listada entre as que mais matam? Entre os principais agressores do coração estão o estresse, o tabagismo, o sedentarismo, a alimentação não saudável, a obesidade ou sobrepeso e o excesso de consumo de bebida alcoólica.

A insuficiência cardíaca se caracteriza por uma perda da capacidade do coração de bombear sangue para irrigar todo o corpo de forma eficaz. Há estágios da severidade da IC que vão de A até D (desde pacientes em risco de desenvolver IC a pacientes com IC avançada que necessitam de terapias especiais). As opções de tratamento tornam-se limitadas especialmente para pessoas em condição avançada e, por isso, à espera de um transplante cardíaco.

Recentemente, novos estudos revelaram uma nova possibilidade para esses pacientes em fase mais adiantada da doença. Um trabalho realizado pelo Centro de Cardiologia do Sírio-Libanês acompanhou, ao longo de dois anos, a evolução clínica de 20 pacientes diagnosticados com insuficiência cardíaca grave que receberam uma alternativa terapêutica ao transplante de coração: a implantação do Dispositivo de Assistência Ventricular Esquerda (DAVE).

Os resultados, publicados no periódico JHLT Open, foram impressionantes, com 90% dos pacientes sobrevivendo no primeiro ano após o implante e 80% mantendo-se vivos nos dois anos seguintes. Essas taxas são comparáveis às observadas nos melhores centros de tratamento internacional, o que evidencia a eficácia do DAVE como uma solução viável para pacientes em estado crítico.

A relevância do estudo desenvolvido pelo Centro de Cardiologia do Sírio-Libanês, coordenado pelo cardiologista Roberto Kalil e um dos mais avançados do mundo, é muito grande. Os resultados obtidos comprovam a eficácia da opção terapêutica para pacientes com insuficiência cardíaca avançada. Mostrou também a eficiência de um modelo de gestão inovador adotado pelo Centro de Cardiologia para garantir o acesso às tecnologias de ponta nas áreas mais afastadas dos grandes centros.

Como funciona o dispositivo

O dispositivo mecânico foi projetado para auxiliar o coração a funcionar melhor. Ele é especialmente indicado para pacientes com insuficiência cardíaca avançada, que não respondem a tratamentos convencionais. Desenvolvido por empresas norte-americanas e alemãs, o equipamento atua como uma ‘bomba d’água’ temporária ao melhorar a circulação sanguínea e permitir que órgãos vitais recebam a oxigenação necessária.

O seu funcionamento é simples. Uma vez implantado, ele se conecta ao ventrículo esquerdo do coração, retirando o sangue dali e bombeando para a aorta, que distribui o sangue para o restante do corpo. Esse processo alivia a carga do coração, melhorando sua eficácia e a qualidade de vida.

Esse foi outro benefício destacado no estudo. Durante o acompanhamento, 85% dos indivíduos conseguiram retomar atividades cotidianas, como trabalho e exercícios físicos leves. Esses dados demonstram que o DAVE prolonga a vida das pessoas com insuficiência cardíaca avançada, bem como ajuda a restaurar a autonomia e a qualidade de vida.

Novo modelo de gestão para ampliar acesso

A implantação do DAVE, embora revolucionária, é ainda limitada por causa do seu alto custo. Considerando o contexto desigual de acesso à saúde no país, a situação é ainda mais crítica quando há a necessidade de tecnologias médicas avançadas.

O financiamento do programa por meio de doações e incentivos fiscais permite que pacientes que não podem arcar com os altos custos desse tratamento tenham acesso à tecnologia inovadora. Ou seja, iniciativas como o Coração Novo democratizam o acesso a cuidados de saúde de qualidade.

O estudo também buscou validar o modelo hub-and-spoke de gestão do serviço de cuidados, em que as cirurgias para implantação do DAVE são feitas em um centro especializado de referência nacional e o acompanhamento é feito em hospitais regionais, oferecendo todo o acompanhamento pós-operatório. O Sírio-Libanês é o único centro no Brasil a oferecer esse tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), recebendo pacientes de diversas regiões do país.

O modelo Hub and Spoke é uma estratégia amplamente utilizada em setores como logística, saúde, tecnologia e políticas públicas. Sua estrutura consiste em um “hub” (núcleo central) responsável por gerenciar e distribuir recursos, informações ou serviços para várias unidades descentralizadas, conhecidas como “spokes” (ramificações ou satélites). Essa configuração facilita a organização, otimiza processos e melhora a eficiência operacional, garantindo que os “spokes” funcionem de maneira integrada ao centro.

O modelo de cuidado colaborativo facilita o acesso ao tratamento ao garantir que o acompanhamento pós-cirúrgico ocorra mais próximo da residência dos pacientes, reduzindo a necessidade de deslocamento para São Paulo. Isso torna o gerenciamento do paciente mais rápido e eficiente e promove uma gestão mais eficiente dos recursos de saúde. O processo beneficia os pacientes, o sistema como um todo e os profissionais de saúde, que também recebem capacitação especializada.

Embora os resultados do estudo sejam muito encorajadores, ainda existem desafios a serem enfrentados. A educação da população sobre os sintomas da insuficiência cardíaca e o acesso ao diagnóstico e opções de tratamento é fundamental para que mais pacientes possam se beneficiar de tecnologias como o DAVE.

Por outro lado, o sucesso e a crescente aceitação do modelo hub-and-spoke podem abrir portas para a implementação de outras tecnologias avançadas no sistema de saúde brasileiro.

A relevância do estudo desenvolvido pelo Centro de Cardiologia do Sírio-Libanês, um dos mais avançados do mundo, se justifica tanto pela eficácia da opção terapêutica para pacientes com insuficiência cardíaca avançada como pelo modelo de gestão inovador, viabilizado pelo programa Coração Novo, que permite a expansão do acesso a tecnologias de ponta em áreas mais afastadas dos grandes centros.

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