Esse artigo da Agência de notícias independente da Moldávia NewsMaker, apareceu pela primeira vez como parte da análise de várias ondas de emigração Moldava. A Global Voices reproduz uma versão traduzida e editada sob um acordo de parceria de conteúdo com a NewsMaker.
Os primeiros anos da Independência da Moldávia foram marcados pelo colapso da URSS, um conflito armado na Transnístria e reformas econômicas e políticas complicadas que criaram instabilidade e incerteza. Este foi o ambiente que provocou a primeira onda de emigração em massa do país.
Primeira onda (1990-1995) – Motivos étnicos e econômicos
Esta onda foi essencialmente de natureza étnica, embora fatores econômicos tenham ganhado importância rapidamente. Durante este período as saídas eram muitas vezes permanentes. Minorias étnicas formavam a maioria deste fluxo, aproveitando as novas oportunidades para repatriar ou se mudar para países de origem étnica. O êxodo da população judaica foi o de maior destaque: de 1990 a 1996, cerca de 40.000 judeus foram repatriados por Israel. Só em 1992, segundo o Instituto Nacional de Estatística da Moldávia, 3.441 pessoas emigraram, embora fontes internacionais sugiram que o número tenha sido ainda maior – cerca de 4.305.
Outros destinos importantes no chamado “exterior distante” (que representou até 97% da emigração durante este período) incluíam Alemanha (29,9%) e os EUA (25,4%), com fluxos significativos também para Rússia e Ucrânia.
O Dr. Alexander Makukhin sociólogo e especialista em migração, observou que desde 1987, a URSS permitiu o repatriamento de judeus étnicos para Israel:
Back then, it was extremely difficult. People could leave with no more than 40 dollars in foreign currency per person. But it had a significant impact on Moldova due to the substantial Jewish population. The first wave of emigration was primarily Jewish, followed later by other ethnic programs, such as late repatriation of ethnic Germans.
Naquela altura, havia extrema dificuldade. As pessoas podiam sair com no máximo 40 dólares em moeda estrangeira por pessoa. Mas houve um impacto significativo na Moldávia devido à expressiva população judaica. A primeira onda de emigração foi principalmente judaica, seguida posteriormente por outros programas étnicos, como o repatriamento tardio de alemães étnicos.
Embora esta onda de emigração tenha sido moldada em grande parte por fatores étnicos e oportunidades de repatriamento, ela desempenhou um papel importante, levando à saída de uma parte significativa da população e criando os primeiros canais de emigração e diásporas no exterior. Essas redes de contato e experiências iniciais provavelmente tornaram as futuras ondas de emigração, motivadas mais por razões econômicos, mais fáceis e menos arriscadas. Assim, a primeira onda serviu não apenas como um acontecimento isolado, mas como um prelúdio para a futura emigração econômica em massa.
Segunda onda (meados dos anos 1990-início dos anos 2000) – Aumento da emigração por trabalho
Em meados da década de 1990, a Moldávia havia mergulhado em uma profunda crise socioeconômica. Queda nos níveis de padrão de vida, fechamento de indústrias, desemprego e a inflação elevada criaram condições insuportáveis para parte da população. No final dos anos 1990, o país era considerado o mais pobre da região.
Padrões de emigração mudaram consideravelmente. O fator étnico perdeu força, dando lugar à emigração econômica e laboral em massa. O país começou a perder os seus cidadãos mais ativos e empregáveis, com a emigração se tornando uma espécie de estratégia de investimento para escapar da pobreza extrema. A emigração irregular cresceu, especialmente para países do sul da Europa, como Itália, Grécia, Espanha e Portugal. A natureza ilegal desta emigração dificulta avaliar a real dimensão, mas ela foi significativa, e embora a Rússia tenha permanecido como o principal destino, o foco também começou a mudar para o oeste.
Makukhin observou que a integração também começava a acontecer:
By 1998–99, many realized they wanted to settle in a new country, not just work there.
Em 1998-99, muitos perceberam que queriam se estabelecer em um novo país, não apenas trabalhar lá.
Este foi o início da fuga de cérebros da população mais ativa da Moldávia. Não se tratava tanto de uma emigração em busca de melhores oportunidades, mas sim de uma fuga da completa falta de perspectivas no país. A perda deste núcleo demográfico contribuiu para o surgimento de problemas persistentes da Moldávia; o envelhecimento da população e escassez da força de trabalho, problemas sentidos ainda hoje. Essa onda consolidou a emigração no imaginário popular não apenas como uma opção, mas uma necessidade de sobrevivência.
Terceira onda (início dos anos 2000-2014) – Entrada da Romênia na União Europeia
No início dos anos 2000, os padrões de emigração tornaram-se mais diversos. A emigração laboral ainda predominava, mas os países de destino se diversificaram. Apesar do declínio após a Rússia endurecer as regras de registro, ela continuou sendo um dos principais destinos, com mais de 190.000 moldavos até o ano de 2010. A Itália se tornou o segundo maior, com mais de 58.000 moldavos até 2010. Turquia, Israel, Ucrânia, Portugal e Alemanha também foram destino populares, e as anistias para emigrantes no sul da Europa permitiu que muitos legalizassem sua situação.
Um fator-chave foi a aquisição em massa da cidadania romena pelos moldavos, mais de 200.000 até 2010. Quando a Romênia entrou na União Europeia em 2007, isso garantiu acesso ao mercado de trabalho da UE, oferecendo aos imigrantes moldavos a livre circulação na UE, muito antes de a própria Moldávia iniciar os passos formais rumo à integração. Isso também revelou a prontidão dos moldavos em aproveitar as oportunidades legais de emigração para a UE, confirmando as projeções de um potencial aumento de emigração após a adesão.
Um novo tipo de padrão logo surgiu: a emigração por motivos familiares. Os moldavos naturalizados começaram a trazer seus filhos e parentes para se juntarem a eles no exterior, dando lugar também a uma perceptível feminização da migração, especialmente para a Itália. Muitos migrantes vieram de áreas rurais, embora a representação urbana tenha aumentado posteriormente.
Quarta onda (2014-presente) – Isenção de visto
A assinatura do Acordo de Associação da União Europeia e a introdução da isenção de vistos em 2014 marcaram um ponto de virada. Em 2022, as estatísticas oficiais das fronteiras mostraram que 241.448 pessoas deixaram a Moldávia, quase o dobro do número em 2014. De 2014 a 2024, a população permanente da Moldávia diminuiu em quase 400.000 pessoas.
Makukhin destacou um “rejuvenescimento” acentuado da emigração:
We are now losing our youngest and most active population. And there’s no longer the gender imbalance we saw earlier – both men and women are leaving.
Estamos agora perdendo nossa população mais jovem e ativa. E não há mais o desequilíbrio de gênero que observávamos anteriormente – homens e mulheres estão saindo.
As disparidades econômicas continuam a ser o principal motivo. Os países da UE, sobretudo Itália, França e Alemanha, ainda são os principais destinos, enquanto a emigração para a Rússia despencou de cerca de 600.000 para menos de 80.000 em 2022.
As turbulências externas marcaram este período. A pandemia da COVID-19 provocou um retorno temporário em massa (cerca de 316.000 pessoas de janeiro a setembro de 2020), embora a maioria tenha saído novamente quando as restrições diminuíram. A invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 trouxe refugiados ucranianos para a Moldávia, resultando também no retorno de migrantes moldavos da Rússia e da Ucrânia, embora os números exatos sejam incertos.
Remessas vs. fuga de cérebros
O impacto econômico da emigração é paradoxal. Por um lado, remessas são essenciais: entre 1,9 a 2 bilhões de dólares por ano, ou 12% a 16% do produto interno bruto da Moldávia. Isso apoia o consumo e reduz a pobreza, especialmente nas zonas rurais, ajudando as famílias a sobreviverem.
No entanto, a fuga de cérebros continua a ser um problema sério; não são apenas os trabalhadores não qualificados que partem, mas também profissionais com formação. A perda da Moldávia de seus cidadãos mais qualificados e com experiência tem impacto em setores essenciais como educação e saúde, onde há escassez de médicos.
Uma nação que está desaparecendo?
O resultado mais óbvio e alarmante das ondas de emigração da Moldávia é seu catastrófico declínio populacional.
Nas três décadas desde a independência, a Moldávia perdeu cerca de 40% da sua população: de 4,36 milhões em 1991 para 2,4 milhões no início de 2024, excluindo a Transnístria. Em média, entre 35.000 e 40.000 pessoas deixam o país a cada ano. A Moldávia tem atualmente uma das maiores taxas de emigração e declínio populacional no mundo
A emigração de jovens faz despencar as taxas de natalidade, agravando problemas econômicos e estimula futuras emigrações, enquanto o envelhecimento da população sobrecarrega o sistema de previdência e saúde e a diminuição da força de trabalho reduz a arrecadação de impostos.