Quando se fala em guerra no Oriente Médio, muitos brasileiros tendem a imaginar um conflito distante, com efeitos limitados àquela região marcada por tensões históricas. No entanto, os ataques de Israel às instalações energéticas do Irã já têm reflexos concretos sobre o custo de vida no Brasil — e esses efeitos podem se aprofundar caso a guerra se intensifique.
Os alvos dos bombardeios israelenses não foram apenas militares: entre eles estão refinarias, centros de processamento de gás natural e depósitos de combustível, elementos-chave da matriz exportadora iraniana. Essa mudança de alvo representa uma nova etapa no conflito e, segundo a Agência Internacional de Energia, coloca as infraestruturas energéticas no centro da disputa.
Isso importa para o Brasil por uma razão simples: o petróleo é uma mercadoria global. Quando o preço do barril sobe por medo de escassez, todos os países importadores — como o Brasil (que compra do exterior petróleo leve, gasolina e diesel) — sentem o impacto, mesmo que continuem comprando de fornecedores tradicionais. Nestes últimos dias, o barril de Brent, referência internacional, subiu quase 20%. O gás natural também disparou, afetando tanto a indústria quanto o consumidor doméstico.
Os brasileiros já conhecem bem o ciclo: o aumento do petróleo eleva o preço da gasolina e do diesel. Isso encarece o transporte público, o frete, etc. e, por consequência, os produtos no supermercado. O gás de cozinha, amplamente usado pelas famílias brasileiras, especialmente nas regiões mais pobres, também tende a subir.
Essa pressão inflacionária preocupa especialmente num momento em que o país ainda busca estabilizar sua economia após os choques provocados pela pandemia e pela guerra na Ucrânia (logo no início do conflito, o preço do barril de petróleo subiu cerca de 25–30%, elevando os combustíveis e pressionando o IPCA em aproximadamente 0,3 a 0,4 pontos percentuais; simultaneamente, o Brasil importava cerca de 85%-87% dos fertilizantes, muitos vindos da Rússia, e o choque no mercado, devido às sanções internacionais, provocou aumento de até 140% nos preços desses insumos agrícolas, encarecendo a produção de alimentos). Com o conflito Israel-Irã, o Banco Central talvez seja forçado a aumentar ainda mais a taxa Selic (já elevada no dia 18 de junho a 15% ao ano), o que dificultará a recuperação do crédito e do consumo.
Além dos ataques pontuais, há um temor maior pairando sobre os mercados: o fechamento do Estreito de Ormuz, um canal por onde passa cerca de um terço de todo o petróleo transportado por mar no mundo. O Irã já ameaçou, em crises anteriores, bloquear essa via estratégica. Caso decida fazê-lo como resposta aos bombardeios, o choque de oferta seria imediato e brutal e Estados Unidos atuaria com assertividade.
De fato, o próprio governo norte-americano já começou a preparar escoltas navais para proteger petroleiros na região, e armadores de navios-tanque estão evitando aceitar pedidos que envolvam o Golfo Pérsico. A consequência natural é o aumento dos custos de transporte e seguro — mais uma pressão sobre os preços globais. Em poucas palavras: o conflito afeta tanto o tanque quanto a mesa do brasileiro.
Curiosamente, os países mais prejudicados pela alta dos combustíveis são, em geral, aliados tradicionais de Israel. Embora governos ocidentais venham pedindo contenção, o apoio político e militar ao governo de Benjamin Netanyahu continua firme. As alianças militares e a inteligencia avançada (agricultura, armamentos, programas informáticos de espionagem, etc.) são um ás na manga de Israel há muitos anos.
O Brasil, por sua vez, tenta manter uma posição equilibrada (a condenação do Ministério de Relações Exteriores aos ataques perpetrados por Israel foi bastante tímida), mas a diplomacia brasileira tem alertado para os riscos de escalada. A postura de Teerã ainda é incerta, mas há sinais de que, se pressionado, o Irã poderá recorrer a medidas mais radicais — o que agravaria ainda mais os efeitos econômicos globais. A propósito, a China apoia a Irã.
É preciso entender que vivemos em uma economia interconectada. Quando refinarias são bombardeadas no Irã, o aumento do custo pode chegar rapidamente ao caminhão que abastece os mercados brasileiros. O conflito entre Israel e Irã, portanto, não é uma questão distante — é um fator de pressão real sobre o custo de vida das famílias brasileiras, especialmente as mais vulneráveis.
Em um país onde milhões vivem com orçamentos apertados, qualquer centavo a mais na bomba de combustível ou na conta do botijão representa um desafio. Por isso, acompanhar o desenrolar do conflito no Oriente Médio é muito mais que um mero exercício de interesse internacional — é uma necessidade para entender o que acontece com o nosso próprio bolso.