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“O que está acontecendo em Gaza é um genocídio”: o presidente brasileiro Lula da Silva reforça as críticas a Israel na América do Sul

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No Cone Sul, governos estão divididos entre críticas e suporte total ao governo de Israel durante a guerra

Em 2023, depois dos ataque do Hamas e da guerra, cidadãos brasileiros foram repatriados de Gaza. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil, usado com permissão

Em uma coletiva de imprensa no dia 3 de junho de 2025, um jornalista pediu para o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, para comentar sobre o depoimento feito pelo embaixador israelense no país, que afirmou que o grupo nacionalista palestino Hamas mente sobre a situação atual em Gaza para “alimentar o antissemitismo pelo mundo”. O depoimento foi divulgado depois de Lula chamar o que está acontecendo na região de genocídio.

Respondendo à pergunta, ele reforçou sua posição:

Vem dizer que é antissemitismo? Precisa parar com esse vitimismo e saber o seguinte: o que está acontecendo na Faixa de Gaza é um genocídio. É a morte de mulheres e crianças que não estão participando de guerra. É a decisão de um governo que nem o povo judeu quer. Não dá para, como ser humano, não é nem como presidente do Brasil, mas como ser humano, aceitar isso como se fosse uma guerra normal.

A desaprovação de Lula sobre a guerra em Gaza, após os ataques do Hamas em 7 outubro de 2023, não é novidade. Junto com o chileno Gabriel Boric, ele tem sido um crítico ferrenho das ações tomadas pelo governo de Benjamin Netanyahu desde os primeiros dias do conflito, uma posição que não é unânime entre os seus vizinhos no Cone Sul, o que ajuda a fomentar narrativas de polarização política na região.

Por exemplo, o antecessor de Lula, Jair Bolsonaro, um aliado próximo de Netanyahu durante seu mandato, foi convidado a visitar Israel em 2024, alguns dias depois de Lula ser declarado “persona non grata” por conta de suas críticas. Entretanto, por estar sob investigação por tentativa de golpe de Estado, o passaporte de Bolsonaro está atualmente apreendido pelas autoridades.

Confira como os países da região se posicionaram sobre a guerra em Gaza:

Brasil

Em 2010, durante o segundo mandato de Lula como presidente, o Brasil reconheceu o Estado da Palestina com as fronteiras estabelecidas até 1967. Veio a ser um dos primeiros países da América Latina a fazê-lo. Enquanto critica o que está acontecendo em Gaza atualmente, dizendo que “não é uma guerra, mas um exército matando mulheres e crianças”, ele continua se posicionando a favor de dois Estados como solução.

O governo também se dirigiu ao assunto oficialmente no dia 1º de junho, quando publicou uma declaração contra a criação de 22 novos assentamentos na Cisjordânia, anunciados por Israel alguns dias antes:

O Brasil repudia as recorrentes medidas unilaterais tomadas pelo governo israelense, que, ao imporem situação equivalente a anexação do território palestino ocupado, comprometem a implementação da solução de dois Estados.

Reafirma, ainda, seu histórico compromisso com um Estado da Palestina independente e viável, convivendo em paz e segurança ao lado de Israel, nas fronteiras de 1967, incluindo a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, com capital em Jerusalém Oriental.

A Conib (Confederação Israelita do Brasil) declarou que o presidente estava novamente atacando pessoas judias e arriscando sua segurança.

Chile

O presidente Gabriel Boric, assim como Lula, criticou abertamente a guerra de Israel em Gaza. No dia 1º de junho, durante seu discurso anual, ele também rotulou o governo israelense como “genocida” e disse que ia mandar um projeto de lei para o Legislativo a fim de banir quaisquer importações dos territórios ocupados por Israel:

Considerando la permanente violación del derecho internacional por parte de Israel, mediante asentamientos ilegales en territorio palestino, y el reciente anuncio de expansión de esta política, he decidido que es de toda justicia patrocinar y poner urgencia al proyecto de ley que prohíbe la importación de productos producidos en territorios ilegalmente ocupados.

Considerando a contínua violação da lei internacional por parte do governo de Israel, a respeito dos assentamentos ilegais no território palestino e a seu anúncio recente sobre expandir essa política, eu decidi que é justo patrocinar e pedir urgentemente por um projeto de lei que proíbe a importação de produtos de territórios ocupados ilegalmente.

Boric também disse que ele demandava que o seu Ministro da Defesa desenvolvesse um plano para que eles pudessem parar de depender da indústria israelense em outras áreas.

Como reportado pela Reuters, o presidente chileno recentemente “chamou de volta os militares da embaixada do Chile no país e convocou o embaixador para um interrogatório”.

Uruguai

No dia 15 de maio de 2025, centenas de pessoas marcharam em Montevidéu, a capital do Uruguai, comemorando o aniversário de Nakba — uma data que marca o violento deslocamento dos palestinos de sua terra. O jornal La Diaria reporta que, além de pedirem pelo fim da guerra, os protestantes exigiam que o novo governo do presidente Yamandú Orsi cessasse relações com Israel.

Alguns dias depois, no dia 19 de maio, a ministra da Defesa, Sandra Lazo, encontrou o embaixador israelense Michal Hershkovitz. A reunião se tornou pública pelo representante israelense nas redes sociais, enquanto Lazo disse ter decidido não tirar a foto protocolar ao lado de Hershkovitz, sabendo que poderia “ferir sentimentos”.

Ela também alegou ter reforçado que o Uruguai reconhece a independência do Estado da Palestina desde 2011, e não concorda com esse “conflito completamente assimétrico”.

A coligação de esquerda de Orsi, Frente Ampla, através de seu secretariado executivo, emitiu uma resolução em 3 de junho, solicitando apoio para ações que defendem os direitos humanos do povo palestino. O documento diz:

Estas acciones comprenderán la movilización articulada con organizaciones sociales, culturales y de derechos humanos (…) y todas aquellas que de forma pacífica y organizada contribuyan a respaldar a nuestro gobierno nacional en la toma de medidas que aboguen por el fin de la masacre, el ingreso de ayuda humanitaria sin restricciones, el respeto de los Derechos Humanos.

Essas ações vão englobar a mobilização articulada com organizações sociais, culturais e de direitos humanos (…) e todos aqueles que, de uma forma pacífica e organizada, contribuírem para apoiar nosso governo nacional em todas as suas medidas que advogam pelo fim do massacre, a entrada de ajuda humanitária sem restrição, o respeito pelos direitos humanos.

A colocação também atraiu críticas da oposição, como do partido Colorado, que emitiu sua própria declaração dizendo que a postura da FA poderia promover ódio e a demonização de Israel e do povo judeu. O partido Blanco, também da oposição, declarou que Israel tem o direito de autodefesa, enquanto pede por respeito e princípios humanitários para prevenir que pessoas não envolvidas no conflito se machuquem.

O próprio Orsi disse, no dia 5 de junho, que a declaração veio de uma força política “e que o governo é algo a mais”. Ele também disse para jornalistas que as pessoas de Gaza precisam mais do que declarações e que planeja mandar para eles leite em pó e arroz, entre outros produtos.

Argentina

Javier Milei, o presidente argentino ultra liberal, é o maior apoiador assumido de Israel na região. O NY Times o chamou de “um presidente católico que consulta um rabino”, apontando que sua devoção pela fé judaica influencia nas suas políticas nacionais. No último mês de julho, o gabinete de Milei emitiu uma declaração oficial de que o Hamas era uma “organização terrorista internacional”:

El Presidente Javier Milei tiene el compromiso inquebrantable de reconocer a los terroristas por lo que son. Es la primera vez que existe voluntad política de hacerlo.

O presidente Javier Milei tem o inquebrável compromisso de reconhecer terroristas pelo que eles são. Essa é a primeira vez que existe uma vontade política de fazê-lo.

O suporte a Israel recentemente garantiu a Milei o prêmio Genesis, o “Prêmio Nobel Judaico”, que vale um milhão de dólares americanos.

Como reportado pela AP news, os realizadores do prêmio explicaram sua decisão como um agradecimento a “Milei por reverter a longa história de votos anti-Israel nas Nações Unidas por parte da Argentina, designando os grupos militantes Hamas e Hazbollah como organizações terroristas e reabrindo investigações sobre bombardeios de alvos judeus e israelenses na Argentina nos anos 1990.”

No ano passado, em uma entrevista com Ben Shapiro em seu canal do YouTube, Milei disse:

Es muy importante entender el vínculo de la libertad con Israel. Es fundamental porque es un pueblo que además ha logrado la conjunción entre lo espiritual y lo material. Y esa armonía espiritual y material genera progreso.

É muito importante entender o vínculo da liberdade com Israel. É fundamental, porque é um povo que atingiu a combinação entre o espiritual e o material. E essa harmonia entre espiritual e material gera progresso.

Paraguai

No último mês de dezembro, o país reabriu sua embaixada em Jerusalém, reconhecendo a cidade como capital de Israel, e foi o primeiro país a fazê-lo desde que o Hamas atacou no dia 7 de outubro de 2023. De acordo com o AP news, a manobra do presidente Santiago Peña, que compareceu pessoalmente à reabertura da embaixada, foi “uma rara vitória diplomática” para Israel.

Como reportado pela Reuters, Peña não mencionou a guerra de Gaza na ocasião, mas declarou: “Esse passo simboliza nosso comprometimento em dividir valores e o fortalecimento dos laços que constroem um futuro de paz, desenvolvimento e entendimento mútuo”.

Anteriormente, a embaixada do Paraguai esteve localizada em Tel Aviv, e passou por mudanças constantes desde 2018, em meio a alterações de governo, como também foi reportado pela agência de notícias.

Neste mês de abril, o ministro das Relações Exteriores israelense, Gideon Sa’ar, chamou o gesto de “amizade no momento mais difícil” de seu país.

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