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O que o jornalismo da paz significa para jornalistas na África Oriental?

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O que o jornalismo da paz significa para jornalistas na África Oriental?

Este artigo de Meagan Doll foi originalmente publicado pela Peace News Network em 8 de setembro de 2025. Uma versão editada foi republicada na Global Voices como parte de um acordo de parceria de mídia.

No cenário de diversos conflitos prolongados no mundo todo – como no Sudão do Sul, Ucrânia, e Gaza, entre outros – reportar conflitos é a prioridade de profissionais de mídia e mediadores. Afinal, o jornalismo é celebrado há muito tempo pela sua habilidade em revelar verdades ocultas, cobrar responsabilização, e contar histórias do interesse público. Apesar dessas promessas, no entanto, a pesquisa existente sobre o papel das mídias durante conflitos mostra um cenário menos encorajador. A maior parte do trabalho demonstra que esse tipo de reportagem tende a ser emocionada e sensacionalista, muitas vezes resultando em cinismo e sentimentos negativos contra grupos marginalizados.

O jornalismo da paz já foi proposto como uma abordagem jornalística alternativa. Desenvolvido pelo sociólogo norueguês e pesquisador da paz Johan Galtung, o jornalismo da paz foca nas causas estruturais do conflito, interações multilaterais, e oportunidades de pacificação através de atenção cuidadosa à escolha de palavras e ao enquadramento de narrativas. É claro, essas estratégias não são normalmente comunicadas uniformemente nos cursos de jornalismo nem necessariamente aprendidas no trabalho.

Em vez disso, princípios do jornalismo da paz são frequentemente ensinados a profissionais da mídia através de treinamentos especializados ou workshops, muitos dos quais são oferecidos nos países da África Oriental. Mas o que os jornalistas que participam desses treinamentos tiram deles, e quais são as implicações disso para a reportagem de conflitos?

O que o jornalismo de paz significa para jornalistas na África Oriental

Sobre o que o jornalismo da paz significa para jornalistas da paz na África Oriental, a resposta curta é: depende. Um estudo baseado em entrevistas de profissionais que participaram de treinamentos de jornalismo no Quênia, Ruanda, Sudão do Sul e Uganda revelou que os jornalistas tendiam a entender o jornalismo da paz de duas formas: a reportagem focada em comunidades impactadas pelo conflito ou em políticas para manejar o conflito. Essas percepções variavam de acordo com a precaridade da posição profissional de cada um. Por exemplo, jornalistas em início de carreira ou repórteres trabalhando em áreas remotas com relativamente poucos recursos estavam mais propensos a enfatizar aspectos do jornalismo de paz relacionados com vítimas de conflitos e reconciliação. Em contraste, profissionais de mídia já mais estabelecidos e aqueles que trabalham em empresas maiores e com mais recursos tendiam a focar em recomendações de políticas para audiências de elite, incluindo intervenções de terceiros.

Percepções do jornalismo da paz

O que estas diferentes percepções do jornalismo da paz significam para a reportagem e a mediação de conflitos?

Primeiro, vale a pena reconhecer que o jornalismo da paz compreende mais do que uma dezena de práticas popularmente reconhecidas, e interpretações variadas deveriam ser reconhecidas e talvez esperadas. Histórias com soluções de políticas e impacto comunitário contribuem para a narrativa do jornalismo da paz, e um não é necessariamente superior ao outro. Ao contrário, estes entendimentos diferentes enfatizam a necessidade de orientações de treinamento que levem os limites dos jornalistas profissionais em consideração.

Os workshops de reportagem de conflitos mais adequados ou efetivos, por exemplo, deveriam ensinar a produção de conteúdo para o tipo de posições que os profissionais de mídia ocupam, reconhecendo as diferentes realidades desse trabalho. Isso pode incluir, por exemplo, workshops de jornalismo da paz focados em edição para supervisores que principalmente supervisionam o trabalho de outros, enquanto jornalistas em campo se beneficiariam de ferramentas de jornalismo da paz mais tangíveis, como orientações de segurança ou treinamento para entrevistas. Essas considerações podem se expandir para incluir identidades sociais e culturais dos jornalistas, enquanto certas práticas podem adquirir novos significados ou desafios para mulheres ou em certos contextos religiosos.

Implicações mais amplas para a mediação de conflitos

Em relação às implicações mais amplas para a mediação de conflitos, a variação no entendimento dos jornalistas sobre o jornalismo da paz realça uma verdade fundamental nos estudos da paz e resposta à conflitos: o jornalismo é apenas uma peça no quebra-cabeça.

Participantes de muitos setores devem se comprometer com a não violência e a justiça na longa jornada para paz duradoura e transformadora. Alguns criticam o jornalismo da paz baseando-se em interpretações erradas do que a mídia pode ou deveria ter como responsabilidade ao falar dos conflitos. A fluidez no entendimento de e engajamento com jornalismo da paz dos jornalistas então serve como lembrete de que não deveríamos ter o jornalismo da paz como uma solução definitiva que pode trazer paz ou encerrar conflitos sozinha.

A responsabilidade primária do jornalismo em qualquer sociedade é informar, não engajar em negociações políticas complexas nem desenvolver planos de paz, mesmo que a forma como os profissionais de mídia relatam esses assuntos possa certamente influenciar como as audiências percebem seu valor e viabilidade.

Até agora, a diversidade de percepções e experiências que os jornalistas trazem para a reportagem de conflitos não deveria ser vista como um obstáculo para jornalismo da paz compreensivo ou ético. Em vez disso, essas perspectivas devem ser aproveitadas para relatar de uma variedade de ângulos e pontos de vistas, que juntos ajudam forças de mediação de conflitos, agentes públicos, e organizações multilaterais em pensar em soluções criativas para a resolução de conflitos.

Levando isso ao extremo, quanto mais jornalistas estiverem reportando um determinando conflitos, mais histórias e enquadramentos únicos podem ser produzidos em nome de evitar armadilhas comuns do jornalismo de guerra convencional. Na verdade, poucos conflitos foram resolvidos com soluções únicas, então essa diversidade de percepções e entendimentos pode muito bem ser a chave para resolver o que de outra forma seriam conflitos insolúveis ao redor do mundo.

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