Crianças brincam em frente a casas tradicionais na cidade de Suchitoto, El Salvador, que se tornou uma atração turística. Lon&Queta/Flickr (CC BY-NC-SA 2.0).
Nos últimos anos, os preços dos imóveis em El Salvador subiram a níveis sem precedentes, principalmente devido à melhoria da segurança; as ruas agora mais seguras tornaram as casas do país mais atraentes. No entanto, o aumento do valor das propriedades deixou muitos moradores locais para trás. A casa própria está se tornando cada vez mais distante para a maioria dos salvadorenhos.
O preço médio de um apartamento de tamanho moderado ou de uma casa em uma área de classe média nos arredores do centro da capital, San Salvador, varia de US$ 175.000 a US$ 250.000, enquanto uma casa comum em Sensuntepeque, uma cidade em Cabañas, um dos distritos mais pobres de El Salvador, custa entre US$ 60.000 e US$ 150.000. A moradia em Sensuntepeque era cerca de 40% mais barata há cinco anos; a maioria dos salvadorenhos não consegue mais pagar.
De acordo com a agente imobiliária Vilma Guerrero, os preços dos imóveis aumentaram significativamente em El Salvador devido à crescente confiança na estabilidade econômica e na segurança de longo prazo, o que atrai investimentos nacionais e estrangeiros. Centros turísticos, como El Zonte e El Tunco tiveram aumentos entre 200% e 500%.
Por que esse aumento?
Uma resposta simples para o aumento dos preços do setor imobiliário do país é a melhoria da segurança; El Salvador deixou de ser um dos países mais violentos da América Latina e passou a um dos mais seguros em termos de crimes de rua. Isso aumentou a confiança dos investidores e compradores de imóveis.
Os salvadorenhos no exterior investiram pesadamente no mercado imobiliário. Cerca de dois milhões e meio de salvadorenhos vivem nos Estados Unidos, o que representa 40% da população atual de El Salvador. Os salvadorenhos que vivem no exterior agora veem o potencial de investimentos imobiliários lucrativos no país para o qual muitos temiam retornar.
Os entusiastas do Bitcoin também se envolveram no setor imobiliário em El Salvador. Desde 2021, muitos começaram a comprar imóveis no litoral e em locais turísticos, o que fez com que os preços subissem nessas áreas. Eles são atraídos para El Salvador porque apoiam a economia do Bitcoin e têm uma atitude geralmente favorável em relação às criptomoedas.
Infraestrutura aprimorada
As autoridades salvadorenhas investiram milhões de dólares para melhorar a infraestrutura em áreas importantes, incluindo o centro de San Salvador, as regiões costeiras e a parte oriental do país.
Embora essas melhorias tenham aumentado os valores das propriedades, elas também tornaram a vida mais difícil para a população local. Os preços dos imóveis aumentaram tornando a moradia menos acessível. O distrito histórico de San Salvador, por exemplo, foi o primeiro a ser revitalizado, algo que os salvadorenhos buscavam há muito tempo. Não faz muito tempo, essa área, com seus edifícios icônicos, era uma das mais perigosas da capital.
As melhorias aumentaram os valores das propriedades nessa área histórica e atraíram turistas e investidores. Entretanto, como resultado, os preços dos imóveis na capital aumentaram, incluido Soyapango, uma área mais pobre com reputação de violência de gangues.
Como parte do projeto Surf City El Salvador, as áreas litorâneas também foram revitalizadas, aumentando o valor das propriedades e atraindo turistas e investidores. Agentes imobiliários informam que os valores das propriedades nos epicentros aumentaram em mais de 200%.
Os projetos de infraestrutura para a região leste de El Salvador incluem o novo Aeroporto do Pacífico e a autopista Gerardo Barrios. Embora ainda esteja em construção, e o aeroporto deva estar operacional em meados de 2027, os preços dos imóveis já começaram a subir.
Por que os salvadorenhos não podem comprar?
Os baixos salários e o acesso limitado a financiamentos acessíveis tornam quase impossível para o salvadorenho médio comprar um imóvel pelos preços atuais de mercado. Para começar, 70% da população trabalha no setor informal e não têm acesso a financiamentos tradicionais, enquanto apenas três em cada dez salvadorenhos, que também precisam lidar com salários baixos, se qualificam para hipotecas convencionais.
Para poder comprar um imóvel em El Salvador, uma pessoa deve ganhar pelo menos duas vezes o valor do salário mínimo do país, que atualmente é de US$ 408 por mês. Além disso, eles precisam se qualificar para um empréstimo hipotecário, que é difícil de obter. A maioria dos bancos exige que os candidatos devem ter pelo menos dois anos de emprego formal, bom crédito e uma relação dívida/renda que atenda aos padrões de referência estabelecidos pelas instituições financeiras globais. A maioria dos salvadorenhos não ganha o suficiente para atender a essa exigência, o que os impede de ter acesso a empréstimos habitacionais.
Para piorar a situação, a maioria das novas construções é voltada para compradores ricos, reduzindo a disponibilidade para aqueles com renda média ou baixa. Portanto, a maioria dos salvadorenhos continua alugando na ausência de moradias acessíveis e opções de financiamento razoáveis.
Reações a aumentos de preços
Conversas casuais com o salvadorenho médio revelam pensamentos mistos sobre o mercado imobiliário do país. Alguns veem o aumento dos preços como um bom sinal, acreditando que isso significa que o país está crescendo e melhorando. Para eles, moradias mais caras indicam progresso e oportunidades de investimento.
Outros, no entanto, estão preocupados com o fato de os preços altos apoiarem os interesses dos ricos. Eles acreditam que as políticas governamentais estão priorizando o acesso a imóveis para investidores e estrangeiros ricos em detrimento dos salvadorenhos, e afirmam que está cada vez mais difícil para os moradores locais comprarem casas em locais desejáveis.
Embora algumas pessoas aceitem as mudanças, por outro lado, outros se sentem abandonados, uma diferença de perspectiva que destaca a complexidade da situação. As pessoas querem desenvolvimento, mas também querem que ele seja justo para todos.