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Pesquisa mostra que sofrer com eventos extremos não é suficiente para mudar opinião das pessoas sobre ações climáticas

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Pesquisa mostra que sofrer com eventos extremos não é suficiente para mudar opinião das pessoas sobre ações climáticas

As mudanças climáticas tornaram mais frequentes e prováveis eventos climáticos extremos como incêndios florestais e inundações nos últimos anos, e a tendência é que isso continue. Esses eventos causaram mortes de pessoas e animais, prejudicaram a saúde física e mental e danificaram propriedades e infraestrutura.

A experiência em primeira mão desses eventos pode mudar a forma como as pessoas pensam e agem em relação às mudanças climáticas, fazendo com que os problemas pareçam mais imediatos e locais do que distantes ou futuros?

As pesquisas até agora oferecem um quadro misto. Alguns estudos sugerem que enfrentar condições climáticas extremas pode tornar as pessoas mais propensas a acreditar nas mudanças climáticas, se preocuparem com elas, apoiar políticas climáticas e votar em “partidos verdes” (ambientalistas). Mas outros estudos não encontraram tais efeitos nas crenças, preocupações, ou comportamento das pessoas.

Uma nova pesquisa liderada por Viktoria Cologna, da ETH Zurich, Suíça, pode ajudar a explicar o que está acontecendo. Usando dados de países ao redor do mundo, o estudo sugere que a simples exposição a eventos climáticos extremos não afeta a visão das pessoas sobre as ações climáticas – mas associar esses eventos às mudanças climáticas pode fazer uma grande diferença.

Opinião global, clima global

O novo estudo, publicado na revista científica Nature Climate Change, analisou a questão do clima extremo e a opinião sobre o clima utilizando dois conjuntos de dados globais.

O primeiro é a pesquisa Trust in Science and Science-related Populism (TISP)), que inclui respostas de mais de 70.000 pessoas em 68 países. O levantamento mediu o apoio público às políticas climáticas e até que ponto as pessoas acreditam que as mudanças climáticas estão por trás do aumento na frequência de eventos climáticos extremos.

O segundo conjunto de dados estima quanto da população de cada país foi afetada a cada ano por eventos como secas, inundações, ondas de calor e tempestades. Essas estimativas são baseadas em modelos detalhados e registros climáticos históricos.

Apoio público às políticas climáticas

A pesquisa mediu o apoio público às políticas climáticas perguntando às pessoas o quanto elas concordavam com cinco ações específicas para reduzir as emissões de carbono. Essas ações incluíam aumentar os impostos sobre o carbono, melhorar o transporte público, usar mais energia renovável, proteger florestas e terras e tributar alimentos com altas emissões de carbono.

As respostas variaram de 1 (de forma alguma) a 3 (muito). Em média, o apoio foi bastante forte, com uma classificação média de 2,37 nas cinco políticas. O apoio foi especialmente alto em partes do sul da Ásia, África, Américas e Oceania, mas menor em países como Rússia, República Tcheca e Etiópia.

Exposição a eventos climáticos extremos

O estudo descobriu que a maioria das pessoas em todo o mundo passou por ondas de calor e chuvas intensas nas últimas décadas. Os incêndios florestais afetaram menos pessoas em muitos países da Europa e da América do Norte, mas foram mais comuns em partes da Ásia, África e América Latina.

Os ciclones afetaram principalmente a América do Norte e a Ásia, enquanto as secas atingiram grandes populações na Ásia, América Latina e África. As enchentes fluviais foram generalizadas na maioria das regiões, exceto na Oceania.

As pessoas em países com maior exposição a eventos climáticos extremos demonstram maior apoio às políticas climáticas? Este estudo descobriu que não.

Na maioria dos casos, viver em um país onde mais pessoas foram expostas a desastres não se refletiu em um apoio mais forte às ações climáticas.

Os incêndios florestais foram a única exceção. Os países com maior exposição a incêndios florestais mostraram um apoio ligeiramente maior, mas essa ligação desapareceu quando fatores como o tamanho do território e a crença geral no clima foram considerados.

Em resumo, apenas passar por mais desastres não parece se traduzir em um maior apoio aos esforços de mitigação das mudanças climáticas.

Relação entre tempo e mudanças climáticas

Na pesquisa global, as pessoas foram questionadas sobre o quanto acreditam que as mudanças climáticas aumentaram o impacto dos eventos climáticos extremos nas últimas décadas. Em média, as respostas foram moderadamente altas (3,8 em 5), sugerindo que muitas pessoas realmente relacionam os eventos climáticos recentes às mudanças climáticas.

Essa atribuição foi especialmente forte na América Latina, mas menor em partes da África (como Congo e Etiópia) e no norte da Europa (como Finlândia e Noruega).

Fundamentalmente, as pessoas que acreditavam mais fortemente que as mudanças climáticas agravaram esses eventos também eram mais propensas a apoiar políticas climáticas. Na verdade, essa crença foi mais importante para o apoio às políticas do que o fato de terem realmente vivenciado os eventos em primeira mão.

O que este estudo nos diz?

Embora o apoio público às políticas climáticas seja relativamente alto em todo o mundo, é necessário ainda mais apoio para introduzir medidas mais fortes e ambiciosas. Pode parecer razoável esperar que sentir os efeitos das mudanças climáticas leve as pessoas a agir, mas este estudo sugere que isso nem sempre acontece.

Pesquisas anteriores mostram que eventos menos dramáticos e crônicos, como chuvas ou anomalias nas temperaturas têm menos influência na opinião pública do que riscos mais agudos, como inundações ou incêndios florestais. Mesmo assim, a influência nas crenças e no comportamento tende a ser lenta e limitada.

Este estudo mostra que os impactos climáticos por si só podem não mudar mentalidades. Mas ele também destaca o que pode afetar o pensamento do público: ajudar as pessoas a reconhecer a ligação entre as mudanças climáticas e os eventos climáticos extremos.

Em países como a Austrália, as mudanças climáticas representam apenas cerca de 1% da cobertura da mídia. Além disso, a maior parte da cobertura se concentra em aspectos sociais ou políticos, em vez de impactos científicos, ecológicos ou econômicos.

Muitas matérias sobre desastres relacionados às mudanças climáticas também não mencionam a relação ou, na verdade, sequer mencionam as mudanças climáticas. Tornar essas conexões mais claras pode alimentar um apoio público mais forte às ações climáticas.

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