“Mais rápido, mamãe, mais rápido!”. O bebê de Allison gritava enquanto ela descia a colina perto de sua casa com seu carrinho de bebê. Como corredora de longa data e pesquisadora de biomecânica de corrida, ela se encontrava na mesma situação que muitos pais corredores de crianças pequenas: espremer as corridas entre as reuniões de trabalho, o preparo das refeições e os horários das sonecas.
Um carrinho de bebê desenhado para corridas oferecia flexibilidade, mas algo parecia estar errado. Essa questão sobre sua forma de correr logo se tornou o ponto de partida para um esforço compartilhado de pesquisa.
Nós dois – Allison Altman Singles e Joe Mahoney – somos professores e pesquisadores de biomecânica interessados em como a forma de correr afeta o risco de lesões. Juntos, fundamos o Biomechanics and Gait Evaluation Laboratory (Laboratório de Avaliação de Biomecânica e Movimento), ou BaGEL, na universidade Penn State Berks.
Biomecânica é a ciência de como o corpo se move, combinando biologia e física para entender como músculos, ossos e articulações trabalham juntos como uma máquina. A experiência de Allison com a corrida com carrinho de bebê levantou questões para as quais não conseguíamos encontrar respostas claras na pesquisa, por isso trouxemos essas questões para o laboratório. Nos últimos quatro anos, temos estudado como a corrida com carrinho de bebê afeta a marcha e o risco de lesões por uso excessivo.
Como a corrida com carrinho de bebê afeta o corredor
A maioria das normas relacionadas a carrinhos de bebê nos EUA concentra-se na segurança e no conforto da criança. Mas e quanto ao adulto que está empurrando o carrinho? Lesões por uso excessivo, como dores nas canelas, fraturas por estresse e joelho de corredor, são comuns em todos os corredores. Mudanças sutis na mecânica de corrida, como as que ocorrem ao se adaptar a correr empurrando um carrinho de bebê pesado, podem levar a essas lesões.
Encontramos dois estudos anteriores que sugeriam os efeitos biomecânicos da corrida com carrinho de bebê. Um deles mostrou que empurrar um carrinho de bebê levava o corredor a se inclinar mais para a frente e a mudar a postura do quadril. Outro mostrou que o corredor diminuía a velocidade e dava passos mais longos quando empurrava um carrinho de bebê. Mas, de modo geral, os pesquisadores e reguladores ignoraram amplamente a experiência do corredor.
Decidimos descobrir mais. Convidamos corredores adultos saudáveis para o nosso laboratório. Cada participante correu com e sem um carrinho de bebê. Registramos seus movimentos usando captura de movimento de alta velocidade – a mesma tecnologia usada em videogames e filmes de Hollywood. Cada corredor realizou testes sobre uma placa de força, que registrou o impacto de cada passada. Após a coleta de dados, começamos a analisar os resultados.
O que descobrimos
Nossos resultados sugerem que correr com um carrinho de bebê apresenta uma compensação. Ela aumenta alguns fatores de risco para lesões por uso excessivo, enquanto reduz outros.
Em geral, os corredores com carrinho de bebê sofreram menos impacto por passo – essa medida se refere à força da colisão entre o pé e o solo. Os corredores sofreram uma força de impacto 16% menor ao empurrar um carrinho de bebê.
Empurrar o guidão para baixo redireciona parte do impacto para as rodas do carrinho de bebê, reduzindo a carga sobre as pernas. Essa força de impacto menor diminui o risco de lesões comuns, como dores nas canelas, joelho de corredor e fraturas por estresse.
Também encontramos um aumento de 36% na torção – a carga de torção produzida entre o pé e o solo. Esse aumento é preocupante porque o estresse de torção contribui para fraturas por estresse na parte inferior da perna, uma lesão por uso excessivo comum entre corredores de longa distância.
Segurar o guidão restringe o quanto o corredor balança os braços e gira o peito, o que normalmente equilibra a torção de cada passo. E controlar e manter a direção do carrinho de bebê aumenta ainda mais essa força de torção.
Nosso estudo confirmou que a corrida com carrinho de bebê também pode fazer com que o corredor se incline mais para a frente. Normalmente, os treinadores de corrida recomendam uma leve inclinação para a frente, mas com um carrinho de bebê, os corredores se inclinaram seis graus mais para a frente. Essa mudança afetou o posicionamento das pernas e empurrou o centro de massa para a frente. Estudos demonstraram que uma mudança como essa pode aumentar o risco de lesões.
Como correr com um carrinho de bebê?
O que você pode fazer para minimizar o risco de lesões ao correr com um carrinho de bebê?
Ajuste sua passada e postura. Diminua um pouco a passada e tente manter uma postura neutra. Evite inclinar-se muito para a frente, especialmente em subidas.
A escolha do carrinho de bebê correto também pode diminuir a probabilidade de lesões. Procure modelos com guidão ajustável e estruturas mais leves. Se o carrinho de bebê parecer muito baixo, você poderá se inclinar naturalmente para a frente.
O que vem a seguir?
No futuro, planejamos explorar várias questões de pesquisa.
Realizamos este estudo em ambientes fechados em uma superfície plana. Agora queremos entender como colinas e terreno irregular afetam a mecânica de corrida do carrinho de bebê, e se diferentes estilos de empurrar, como com uma mão ou “empurrar e perseguir”, alteram as forças.
Também estamos interessados em saber se projetos alternativos de carrinhos de bebê, como opções sem as mãos, como carrinhos com fio ou puxados por trás, permitem uma forma de corrida mais natural. Queremos explorar como esses designs podem afetar a forma do corredor. Também estamos examinando se o uso de carrinhos de bebê altera os hábitos, o volume de treinamento ou a motivação dos corredores.
A corrida com carrinho de bebê continua sendo uma ótima maneira de os pais se manterem ativos enquanto passam tempo com seus filhos pequenos. Mas, assim como em qualquer outro tipo de corrida, a forma é importante. Prestar atenção à sua postura e escolher um equipamento que apoie o movimento saudável pode fazer toda a diferença.
Esperamos que nossas descobertas ajudem outros pais a não se lesionarem durante os quilômetros percorridos com o carrinho de bebê, enquanto seus filhos gritam alegremente: “Mais rápido, mamãe, mais rápido!”. Correr com seu filho pode ser divertido, estimulante e seguro, especialmente com a conscientização correta e um pouco de ciência ao seu lado.