Imagine a cena: você saiu para jantar com seu parceiro. A comida chega, a conversa flui – e então o celular dele vibra. Ele olha para baixo, sorri levemente e começa a digitar. Você fica sentada ali, com o garfo na mão, de repente invisível.
Esse momento tem um nome: phubbing, uma combinação das palavras em inglês “phone” (telefone, no caso o celular) e “snubbing” (desprezar). Isso se tornou uma característica quase inevitável dos relacionamentos modernos, à medida que os smartphones conquistam um lugar à mesa — às vezes literalmente.
Você pode pensar no phubbing como uma irritação menor, mas nossa pesquisa mostra que ele pode prejudicar a qualidade do relacionamento, abalar a autoestima, despertar ressentimento e até mesmo provocar retaliação. E algumas pessoas são muito mais sensíveis a isso do que outras.
Em um estudo usando um diário feito pelos participantes, acompanhamos 196 pessoas durante vários dias pedindo que relatassem o quanto se sentiam phubbed por seus parceiros, como reagiram e como se sentiram depois.
O padrão foi notavelmente consistente. Nos dias em que as pessoas se sentiram mais ignoradas, relataram menor satisfação no relacionamento, pior humor e mais raiva ou frustração.
O phubbing pode fazer com que a pessoa que é ignorada se sinta excluída, menos importante e menos conectada. Isso se encaixa na teoria da equidade em psicologia — os relacionamentos são melhores quando ambos os parceiros investem igualmente. Se seu parceiro está focado no celular em vez de em você, isso pode sinalizar um investimento desigual.
Diferenças individuais
Mas nem todos experimentam o phubbing da mesma maneira. Em nosso estudo feito este ano, publicado no periódico Journal of Personality, descobrimos que o tipo de apego — a maneira habitual como as pessoas pensam e sentem sobre relacionamentos — desempenhou um papel importante.
Pessoas com maior ansiedade de apego — que temem o abandono e anseiam por segurança — reagiram mais fortemente ao phubbing. Elas relataram se sentirem mais deprimidas, uma menor autoestima e ter maior ressentimento. E elas também eram mais propensas a retaliar.
Aqueles com maior apego evitante — que se sentem desconfortáveis com a proximidade — não relataram uma queda tão acentuada na satisfação com o relacionamento devido ao phubbing, mas ainda assim às vezes retaliavam, muitas vezes pegando o próprio celular para buscar aprovação e validação de outras pessoas quando o parceiro não atendia a suas necessidades de atenção.
O narcisismo também pode desempenhar um papel importante. Pessoas com altos níveis de narcisismo geralmente gostam de ser o centro das atenções, mas podem fazer isso de maneiras diferentes. Em outro estudo de 2025, examinamos dois subtipos de narcisismo: rivalidade narcisista (ser antagônico, inseguro e defender o status) e admiração narcisista (ser autopromocional e impulsionado pelo charme).
Descobrimos que pessoas com maior rivalidade narcisista relataram menor autoestima, maior raiva e mais conflitos — fossem elas ignoradas ou não. Quando ignoradas, elas ficavam mais curiosas sobre o que o parceiro estava fazendo, mas também mais propensas a retaliar por vingança ou para ganhar a aprovação dos outros.
Pessoas com maior admiração narcisista tendiam a ter maior satisfação no relacionamento e bem-estar geral. Quando ignoradas, elas eram mais propensas a entrar em conflito com o parceiro do que a retaliar.
Phubbing como um jogo de olho por olho
Em um estudo anterior de 2022, analisamos mais de perto o tipo de comportamento adotado pelos parceiros que sofriam o phubbing. As respostas mais comuns incluíram ignorar o phubbing, ficar ressentidos, questionar o uso do celular ou confrontar diretamente o parceiro. Mas uma das respostas mais frequentes e reveladoras foi a retaliação – pegar o próprio celular e fazer o mesmo.
Quando perguntamos por que as pessoas retaliavam, três motivos principais surgiram. Um era vingança, para “dar uma lição no parceiro”. O outro era buscar apoio, recorrendo a outras pessoas para se conectar quando o parceiro parecia indisponível ou distante. E o terceiro era buscar aprovação – postar nas redes sociais ou enviar mensagens para obter validação de outras pessoas. O tédio também foi mencionado algumas vezes, mas era muito menos comum.
O phubbing pode parecer trivial – afinal, todos nós verificamos nossos celulares. Mas, nos relacionamentos, ele pode agir como uma microruptura na conexão. Esses pequenos momentos podem se acumular, criando a sensação de que a atenção do seu parceiro está em outro lugar e que você é menos valorizado.
Para pessoas que já são sensíveis a sinais de rejeição — como aquelas com alto nível de ansiedade de apego ou rivalidade narcisista —, o impacto pode ser maior. Elas podem interpretar o phubbing como uma ofensa deliberada, em vez de um hábito inconsciente. Isso pode desencadear ciclos de conflito ou afastamento.
Como quebrar o ciclo do phubbing
Se você já foi acusado de phubbing, isso não significa que você seja um mau parceiro, mas pode significar que seus hábitos precisam de atenção.
Passos simples podem ajudar a proteger a qualidade do relacionamento, incluindo a criação de zonas “livres de telefones” durante as refeições ou antes de dormir. Também pode ser útil reconhecer a interrupção se você precisar verificar seu celular – explicando o motivo e voltando sua atenção rapidamente.
Idealmente, os casais devem discutir abertamente os limites do uso do celular para que ambos os parceiros se sintam respeitados. Se você é a vítima do phubbing, reconhecer seus próprios gatilhos pode ajudar. Se o phubbing atinge um ponto sensível, isso pode refletir experiências anteriores de se sentir ignorado ou subestimado. Talvez o fato de seu parceiro verificar o celular não tenha a ver com sua inadequação, mas sim com um mau hábito difícil de quebrar. Saber disso pode ajudá-lo a responder de maneiras que reparem a conexão, em vez de intensificar o conflito.
Em última análise, os smartphones não vão desaparecer, nem o phubbing. Mas nossas descobertas sugerem que a pequena escolha diária de estar presente com seu parceiro é mais importante do que você imagina. Simplificando, quando você larga o celular, você retoma seu relacionamento.