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Quais fatores afetam o nosso consumo de informação? Pesquisa revela como os brasileiros se informam

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Quais fatores afetam o nosso consumo de informação? Pesquisa revela como os brasileiros se informam

O modo como as pessoas se informam molda como elas enxergam e compreendem o mundo, formam opiniões, reforçam seus próprios valores, crenças e convicções. A forma pela qual acessamos as informações, seja o meio – físico ou digital – ou a escolha da fonte, é tanto um reflexo como também reflete o nosso lugar e modela a nossa percepção sobre a realidade. Ou seja, esse consumo – ou não consumo – de informação reverbera tanto em um nível individual quanto no coletivo, impactando aspectos sociais e políticos dos cidadãos em todo o mundo. No Brasil não é diferente.

Em um cenário de desinformação e profunda polarização, entender sobre as escolhas informativas dos brasileiros em meio a uma infinidade de fontes de informação nos permite inferir sobre as escolhas e preferências de pessoas em diferentes condições sociais e culturais, as desigualdades de acesso e de possibilidade de consumo informativo e os incentivos das próprias estruturas das plataformas a determinados hábitos digitais.

Um dos aspectos fundantes da forma de nos informarmos é a internet. Segundo dados recentes do Núcleo de Informação e Comunicação do Ponto BR, mais de 84% da população já possui acesso à rede, seja por meio de dispositivos móveis ou computadores. No entanto, uma pequena parcela – menos de um quarto da população – tem acesso a uma internet considerada como significativa, ou seja, um acesso que permite uma experiência online segura, satisfatória e diversificada.

Diversas pesquisas mostram que a capilaridade da rede altera profundamente a forma com a qual nos relacionamos com o mundo e descobrimos informações sobre ele. Diariamente, esse cenário é alimentado por informações que circulam a partir de fontes tão distintas quanto diversas em termos de linguagem e modos de uso, abrindo espaço para um ecossistema de mídia cada vez mais complexo. O avanço da mídia digital é perceptível em relação à analógica, não só empiricamente mas por meio de diversas pesquisas, incluindo a que lançamos nesta semana pelo Aláfia Lab.

Compreendemos que no contexto brasileiro, onde as desigualdades sociais são profundas, o consumo de informação não escapa a essas assimetrias. Ele é moldado tanto por dimensões individuais – como gostos, escolhas e preferências – quanto por padrões estruturais das plataformas – que decidem quais conteúdos chegam para quem -, além de forças sociais que definem o alcance e a circulação da informação. Considerando estes aspectos, publicamos anualmente a pesquisa Desigualdades Informativas com o objetivo primordial de compreender como esses hábitos variam de acordo com variáveis sócio-demográficas como gênero, renda, idade, raça e posicionamento político. A edição de 2024, aplicada entre os dias 10 e 13 de outubro daquele ano e publicada recentemente, conta com respostas de 1.549 pessoas distribuídas de acordo com variáveis populacionais e regionais, considerando gênero, faixas etárias e regiões geográficas.

Redes sociais se consolidam como principal fonte

A pesquisa revela, inicialmente, uma tendência já observada por outros estudos: as redes sociais se consolidaram como fonte crucial de informação. Mais da metade da população (51,6%) utiliza as redes para se informarem no Brasil. Das plataformas, o Instagram ocupa o primeiro lugar: 68,8% dos entrevistados dizem que recorrem a este aplicativo quando buscam informações. Em seguida, aparecem Youtube e Facebook, com 55,9% e 43,7%, respectivamente.

Apesar dessa predominância, chama a atenção o fato de que os meios de comunicação tradicionais continuam sendo relevantes dentro das plataformas. O Grupo Globo (G1 e O Globo) lidera entre os meios mais acessados, seguido por CNN Brasil, Record e SBT. Além disso, as pessoas revelam, na maioria das plataformas, a preferência por consumir conteúdos de pessoas conhecidas (familiares, amigos, conhecidos) e influenciadores.

Fonte: Conteúdo fornecido pelos autores

E, apesar das redes se colocarem como fontes prioritárias, elas não lideram sozinhas. É importante destacar que a televisão permanece como um importante meio para se informar, dividindo o topo com as redes sociais (49,6%). Nossos achados se assemelham aos do Digital News Report 2024, que registra que 51% da população brasileira se informa por redes sociais e 50% por TV.

Vale destacar que a pesquisa foi realizada em outubro de 2024, em meio à campanha eleitoral, o que também pode contribuir para os resultados. Além disso, é válido pontuar que os dados são fruto das respostas que são dadas por meio da percepção dos próprios usuários.

Ainda sobre as principais fontes de informação, 38,3% afirmaram utilizar sites de notícias, 29,2% disseram se informar por sites de busca e 21,5% disseram usar aplicativos de mensagens, como mostra o gráfico abaixo:

Fonte: Conteúdo fornecido pelos autores

A força dos aplicativos de mensagem e dos algoritmos

Os aplicativos de mensagens figuram como o 5º meio de informação mais utilizado e, dentro dessa categoria, o WhatsApp se consolida como a plataforma mais acessada, sendo usado por 90,1% das pessoas para obter notícias. Na sequência, em porcentagem muito menor, temos o Facebook Messenger (35,1%) e Telegram (32,4%). Este último, embora menos popular, tem forte adesão entre usuários que buscam informações em grupos e canais públicos.

Outro achado relevante da pesquisa é sobre o consumo de conteúdos recomendados pelos algoritmos. Questionamos os entrevistados sobre se eles costumam acessar ou consumir conteúdos recomendados pelas plataformas digitais. As respostas mostraram que os usuários tendem a acessar a sugestão algorítmica prioritariamente em plataformas de vídeo como Kwai, TikTok e YouTube, o que demonstra como a infraestrutura desses espaços também impacta o consumo de informação.

Fonte: Conteúdo fornecido pelos autores

Além de analisar os hábitos de consumo de informação gerais dos brasileiros, buscamos entender também quais são as principais diferenças quando olhamos para aspectos sociodemográficos. Neste relatório especificamente analisamos cinco fatores: gênero, renda, raça, idade e posicionamento político. Entre os principais achados, destacamos que há diferenças nos padrões de acordo com o gênero. As mulheres, por exemplo, se informam de forma prioritária pelo Instagram (48,2% contra 34,4% dos homens). Já os homens, dentro das plataformas digitais, preferem acessar informações via YouTube (29% contra 18,2% das mulheres).

Há diferenças também sobre os veículos mais acessados. No Instagram, mulheres demonstram comparativamente maior consumo por O Globo, R7, SBT e Folha de S. Paulo, enquanto homens relatam um maior consumo da CNN e Jovem Pan quando comparado às mulheres (35% contra 24,3% e 18,4% contra 11,8% respectivamente). Os dois veículos também são mais acessados por homens no YouTube em comparação às mulheres.

Faixa de renda também tem relevância

A faixa de renda também impacta o consumo de informações no Brasil. Enquanto o Instagram é a rede mais utilizada em todas as faixas, o X (ex-Twitter) se concentra entre as faixas mais altas de renda e o Kwai tem maior presença entre os grupos de menor renda. Fora das redes, os jornais e revistas impressas têm maior destaque entre os mais ricos.

O aspecto etário revelou alguns contrastes. As redes sociais estão mais presentes na vida de jovens entre 25 e 34 anos (61,3%), enquanto a TV é predominante entre o público acima de 45 anos (55,2%). Entre as plataformas, o Instagram sofre queda com o avanço da idade, enquanto o Facebook apresenta crescimento proporcionalmente maior entre os mais velhos.

Há diferenças importantes também quando analisamos o espectro político, o que reforça a tese de que a polarização política e a polarização informativa se retroalimentam. Quando questionamos os entrevistados sobre o consumo de informações específicas sobre políticas, percebemos que há uma ascendência de acordo com o espectro, tendo a extrema esquerda no valor mais baixo de consumo de informação política nas redes sociais (35,4%) até o valor de 67,4% apresentado pela extrema-direita.

Outro aspecto relevante são as fontes de informações. Direita e extrema-direita priorizam Record, Jovem Pan e SBT. Já a extrema-esquerda busca informação em veículos como Carta Capital, Revista Fórum e Brasil de Fato. Os que se declaram como centro e esquerda compartilham fontes como G1, O Globo, CNN e UOL.

No recorte racial, encontramos pouca variação nos padrões. Vale destacar, no entanto, que 45,8% das pessoas negras apontam o Instagram como fonte prioritária de informação, contra 37,2% das pessoas brancas. Já o X/Twitter é sutilmente mais utilizado por brancos (9,7%) do que por negros (5,8%).

Hoje temos muito mais fontes à nossa disposição do que tínhamos antes e, a partir deste estudo, contribuímos para a compreensão de que são muitos os aspectos que fazem com que a informação chegue ao cidadão: além de preferências individuais e de fatores sociodemográficos, a estrutura e o funcionamento das plataformas sociais define parâmetros essenciais de que tipo de informação chega a qual usuário.

A agenda da integridade da informação passa, necessária e principalmente, pela compreensão do modo como as pessoas se informam. Considerar todos estes aspectos para entender essas nuances é fundamental para combater fenômenos como a desinformação e para a proposição de uma agenda informacional íntegra, que considere as particularidades da nossa sociedade.

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