O período vital em que se encontram os alunos na segunda metade do ensino fundamental e no ensino médio, entre os 12 e os 18 anos, implica mudanças biológicas de primeira ordem no seu desenvolvimento. Algumas delas são muito evidentes, como o rápido crescimento (os “estirões”), e outras mais sutis, como o atraso na fase do sono. E é justamente sobre esta última que precisamos refletir ao definir o horário de início do dia letivo.
Mudanças na hora de ir para a cama
Desde o início da puberdade (no meio do ensino fundamental) até o que se denomina o fim da adolescência (19,5 anos nas mulheres, e 21 anos para os homens), ocorre um atraso gradual no horário natural em que estamos predeterminados a adormecer .
Isso significa que, naturalmente, à medida que avançamos para o final da adolescência, nosso organismo está programado a atrasar gradualmente tanto o momento em que adormecemos quanto a hora em que acordamos naturalmente.
Independentemente de sermos, por herança genética, mais matinais (madrugadores) ou mais noturnos (notívagos), a adolescência será a fase mais noturna de nossa vida, pois a partir do final desse período há um lento, mas progressivo, avanço de nossa fase de sono, de modo que, após os 40 anos de idade, praticamente desaparece esse efeito de atraso.
Mudanças na qualidade do sono
Por outro lado, nesta fase da vida, ocorre um aumento das conexões da parte “afetiva ou emocional” do cérebro, com um aumento menor dessas conexões na parte “executiva” ou de raciocínio do órgão, processo que também contribui para mudanças fisiológicas na qualidade do sono do adolescente.
Essas mudanças relacionadas ao atraso da fase do sono podem causar dor de cabeça, sonolência, fadiga, deterioração cognitiva e desregulações metabólicas e imunes, bem como predisposição a manifestar transtornos mentais como depressão, ansiedade e bipolaridade.
E se a escola começar mais tarde?
Quando o horário de início do dia letivo é muito cedo em relação à hora natural de acordar dos alunos, ocorre o que é conhecido como “jetlag social”. É uma dessincronização entre a hora marcada pelo relógio interno dos alunos e a hora marcada pelo relógio social, com uma diferença de cerca de duas horas no tempo total de sono entre os dias letivos e os fins de semana, alterando o relógio biológico dos estudantes.
Por isso, pedir a um adolescente que acorde às 7 da manhã é como pedir aos seus pais que acordem às 4 ou 5 da manhã. Isso afeta muito a saúde física e mental, principalmente porque eles não dormem horas suficientes, mas também pelo desajuste entre os horários interno e externo.
Vejamos:
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Ao não conseguirmos dormir antes da nossa janela de sono (momento em que podemos adormecer naturalmente) e ao termos que acordar antes da nossa hora natural de despertar, nosso organismo não consegue descansar o suficiente, gerando uma “reparação deficiente”: durante o sono, o sistema glinfático impede a acumulação de toxinas no sistema nervoso; se não descansarmos o suficiente, a limpeza não é completa.
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Se não descansarmos o suficiente na noite anterior à aula, nosso estado de alerta durante a vigília é prejudicado, o que afeta nossa capacidade de concentração e de aprender (prestar atenção e acompanhar a aula, relacionar e assimilar conceitos). Se dormirmos apenas 6 horas e perdermos os últimos 25% do sono, poderemos estar perdendo entre 60% e 90% de todo o sono REM, responsável por reforçar as conexões neuronais.
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Se não descansarmos o suficiente à noite após um dia de aula, a capacidade do nosso cérebro de processar as informações adquiridas e a nossa memória são comprometidas. De fato, estudos sobre o sono e a memória indicam que aqueles que têm a oportunidade de dormir um intervalo de 8 horas entre o aprendizado e a memorização melhoram entre 20% e 40% sua capacidade de reter o que aprenderam.
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Além disso, não dormir o suficiente afeta nosso sistema imune, tornando-nos mais vulneráveis a contrair doenças como depressão, ansiedade, diabetes, câncer, ataque cardíaco e acidente vascular cerebral.
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Nosso humor também é afetado quando não descansamos. De fato, observou-se que a amígdala, que é fundamental para desencadear emoções fortes como raiva ou ira, sofre uma amplificação de mais de 60% na reatividade emocional em pessoas privadas de sono. Uma verdadeira bomba-relógio para a convivência nas escolas.
Duas horas mais tarde: múltiplos benefícios
Diversos estudos demonstraram que quando se adia a hora de entrada na escola ocorre um ganho líquido de descanso: os alunos continuam indo dormir no mesmo horário, mas acordam mais tarde, dedicando cerca de 80% do tempo extra para dormir.
Dormir mais reduz a sonolência diurna, a depressão, o consumo de cafeína, os atrasos e a dificuldade em permanecer acordado, além de melhorar a qualidade do sono, a satisfação com a vida e combater o mal-estar psicológico. Outros estudos sugerem que quanto maior o tempo adicional de sono, melhor é a qualidade do sono, o funcionamento diurno e o bem-estar subjetivo.
O adiamento no horário entrada na escola também reduziria a dessincronização dos alunos mais noturnos, aliviando a diferença observada entre os alunos mais madrugadores e os mais notívagos.
Deixar os jovens dormirem o que precisam e quando precisam é, em definitiva, respeitar o seu direito de fazer as coisas quando for mais conveniente para a sua saúde, desenvolvimento e bem-estar.
This article was originally published in Spanish
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