Bolsas de pesquisa têm um papel essencial no fomento à ciência no Brasil. Embora seus benefícios sejam amplamente reconhecidos, os ganhos privados das bolsas ainda não são muito bem compreendidos. Entender esses retornos é crucial, já que bolsistas frequentemente deixam o mercado de trabalho ou reduzem suas atividades profissionais para se dedicar à pesquisa. À luz dessa lacuna, desenvolvemos um estudo no Ipea que apresenta evidências sobre os retornos salariais de bolsistas da FAPESP em diferentes níveis.
No Brasil, as bolsas de pesquisa constituem uma fonte importante de financiamento para os alunos de pós-graduação. Em 2023, aproximadamente 40% dos doutorandos e 30% dos mestrandos em programas acadêmicos recebiam bolsas da CAPES. No estado de São Paulo, a FAPESP complementava esse fomento com cerca de 3,7 mil bolsas de mestrado e doutorado no mesmo ano.
A pesquisa analisou indivíduos que solicitaram bolsas de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado da FAPESP entre 2007 e 2018. Seus empregos e salários em universidades, governo e no setor privado foram examinados três anos antes e dez anos após a concessão.
Os resultados mostram que as bolsas tiveram impacto positivo nos rendimentos futuros. O efeito médio foi de cerca de 4,5% no salário-hora dos ex-bolsistas, considerando todos os setores da economia. Por nível, o maior retorno ocorreu nas bolsas de doutorado (7,5%), seguido pelas de pós-doutorado (4%). Os ganhos foram menores nas bolsas de iniciação científica e mestrado (3%).
Também foi identificado que os efeitos cresceram nos dois primeiros anos após a bolsa e não declinaram até o décimo. Esses resultados referem-se a bolsistas que não tinham emprego antes da bolsa. Mas, segundo o estudo, os retornos para aqueles sem experiência profissional devem ser iguais ou superiores.
Rendimentos futuros
Há diferentes explicações para a influência das bolsas sobre os rendimentos futuros. Um fator central é o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades. As bolsas oferecem um “espaço protegido” para a dedicação integral à pesquisa. E, com esse financiamento, os pesquisadores aprendem a desenvolver agendas de longo prazo e aprimoram a gestão de seus trabalhos. Essas competências tendem a aumentar a produtividade e, potencialmente, a remuneração.
Além disso, em bolsas competitivas como as da FAPESP, o sucesso na seleção sinaliza prestígio e excelência científica, ampliando as chances de melhores remunerações. Outros canais de impacto incluem a expansão da rede de contatos acadêmicos e o aprendizado sobre como captar novos financiamentos.
Estudo reuniu 100 mil profissionais
Para compreender os resultados, é importante levar em consideração o mercado de pesquisadores em São Paulo e as regras das bolsas da FAPESP. O sistema paulista de ciência e tecnologia é o mais desenvolvido do país. O estado reúne cerca de 100 mil profissionais atuando em atividades relacionadas à pesquisa e desenvolvimento e mais de 6 milhões empregados em setores intensivos em conhecimento.
Além disso, a concorrência pelas bolsas regulares da FAPESP é elevada, e a seleção rigorosa as distingue de outras bolsas no país. Por fim, os bolsistas da FAPESP recebem valores e benefícios específicos (como as taxas de bancada) e seguem regras próprias, como dedicação integral à pesquisa e a entrega de relatórios periódicos.
Trata-se do primeiro estudo que evidencia os ganhos salariais das bolsas de pesquisa no Brasil. Por isso, seus resultados servem como referência para futuras pesquisas sobre outras agências de fomento e regiões. Os resultados reforçam a relevância do financiamento de estudantes e pesquisadores, destacando os retornos positivos para os bolsistas, com ganhos que podem atrair novos estudantes para carreiras científicas.
Ademais, o estudo oferece conclusões importantes para aperfeiçoar as bolsas de pesquisa no país, chamando atenção para a importância da concorrência na seleção e os benefícios da dedicação integral à pesquisa.





