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Turismo muda vida de morador da Ilha do Combu

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Turismo muda vida de morador da Ilha do Combu

Ele usa coroa (de folhas do açaizeiro) e tem nome de rei. A vida nobre de Charles, porém, não tem relação alguma com monarquias, mas com a transformação radical que estabeleceu com a Floresta Amazônica.

Antigo derrubador de árvores, ele aposentou a motosserra e virou símbolo de turismo sustentável na Ilha do Combu, em Belém, no Pará. Gerson Tadeu Teles, nome oficial de Charles, fundou o Ygara Artesanal, projeto de imersão na floresta em que turistas vivenciam rituais ancestrais, trilhas e banhos de cheiro com ervas medicinais.

Ex-operador de motosserra, Gerson Teles, responsável pelo Ygara Artesanal, confecciona a peconha, objeto usado para apoiar os pés durante a colheita do açaí – Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

“Eu cresci aqui, vendo o quanto a floresta nos dá e o quanto ela precisa ser respeitada. Quando comecei a receber visitantes, entendi que poderia gerar renda sem destruir, mostrando para as pessoas a riqueza da natureza”, diz Charles.

Em média, o Ygara recebe até 50 pessoas semanalmente, o que pode aumentar nos períodos de férias e feriados. Além das trilhas ecológicas e passeios fluviais, o negócio de Charles inclui a venda de produtos regionais, como artesanato e doces feitos com frutas nativas. A renda extra impacta sua família e inspira outros moradores da ilha.

O Ygara Artesanal, na Ilha do Combú, apresenta as vivências da floresta aos turistas e movimenta a economia da comunidade – Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

“Hoje, tenho orgulho de mostrar onde vivo. O turismo sustentável me fez entender que cuidar da floresta é também cuidar da nossa própria sobrevivência”, diz o empreendedor.

O projeto Ygara Artesanal é administrado em parceria com agências de viagens, a Cooperativa de Transporte do Combu, parceiros com foco em pequenos negócios sustentáveis e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

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De acordo com o diretor-superintendente do Sebrae no Pará, Rubens Magno, iniciativas como a de Charles mostram que a bioeconomia é uma alternativa concreta de desenvolvimento para a região.

“O Sebrae acredita que fortalecer empreendedores locais é essencial para que a Amazônia cresça com base na sustentabilidade e na valorização da cultura de seu povo”, diz Magno. “Em 2019, eram cerca de um ou dois empreendedores formalizados. Hoje, esse número é de quase 80 empreendedores formalizados”.

Nesta semana, o Sebrae e moradores locais, com o apoio da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), inauguram a Rota Combu. O objetivo é oferecer turismo de base comunitária na região, que valorize a cultura ribeirinha, o ecoturismo e o empreendedorismo local.

Gerson Teles mostra o processo de colheita do açaí na Ilha do Combu – Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

O projeto começa com a participação de 14 empreendimentos. Há negócios de agroecologia, fabricação de artesanatos, trilhas, quintais produtivos, hospedagem e vivências culturais.

A preocupação com o meio ambiente é tida como central, principalmente quando Belém se prepara para receber a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30).

“Hoje, já temos vários cursos para que os negócios trabalhem energias renováveis e consumam mais materiais que sejam reciclados. Estamos usando menos plástico, mais vidro, mais papel e, dessa forma, temos conseguido trabalhar realmente essa consciência ecológica dos nossos empreendedores”, diz Magno.

Desafios

Os investimentos em turismo, por enquanto, não têm sido acompanhados de investimentos significativos na melhoria de vida da população que vive e trabalha na Ilha do Combu.

“Hoje, a gente sente muita falta de políticas públicas para o povo da floresta”, lamenta Charles.

Os principais problemas, segundo o empreendedor, estão relacionados aos serviços precários, ou mesmo ausentes, de saneamento básico.

O Ygara Artesanal, na Ilha do Combú, movimenta a economia com cosméticos, artesanato e práticas sustentáveis – Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

“Temos uma coleta de lixo, mas ela ainda é precária. Nem sempre as pessoas conseguem fazer a coleta da maneira certa, porque não recebem orientação, nem estrutura adequadas”, acrescenta.

“Não temos água potável na ilha, que é uma briga antiga. Precisamos comprar os garrafões de água mineral. Nossa sorte é que tem uma pessoa que passa aqui de barco vendendo. Mas o preço é muito caro pra gente, porque fazemos tudo com água mineral. Queria que isso mudasse até a COP, mas a gente não sabe se vai realmente mudar”..

* A equipe de reportagem da Agência Brasil viajou a convite do Sebrae.

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