Apesar do rápido progresso na adoção de energia limpa e veículos elétricos, o mundo ainda está aquecendo mais rápido do que nunca. A boa notícia é que já temos maneiras poderosas de reduzir a taxa de aquecimento – se os governos olharem além do dióxido de carbono e se concentrarem em um conjunto mais amplo de poluentes.
Estamos escrevendo isso da Cúpula Climática da ONU – COP 30 em Belém, Brasil, onde grande parte da atenção está voltada, com razão, para as reduções de emissões de dióxido de carbono necessárias para conter o aquecimento a longo prazo. Mas poderíamos progredir mais rapidamente se também combatêssemos um conjunto diferente de poluentes que aquecem intensamente o planeta, mas desaparecem rapidamente. Reduzir as emissões desses poluentes significa reduzir rapidamente o aquecimento.
Os chamados “poluentes climáticos de curta duração” (SLCPs, na sigla em inglês), são emitidos de várias maneiras e muitos deles têm as mesmas fontes que o CO₂. O ponto em comum é que eles normalmente não permanecem na atmosfera por muito tempo – de alguns dias a algumas décadas, em comparação com séculos para o dióxido de carbono.
Se o dióxido de carbono é o maratonista do aquecimento global, os SLCPs são os velocistas, com um impacto rápido e poderoso nas temperaturas globais. Como a redução de suas emissões diminui rapidamente a quantidade deles na atmosfera, eles oferecem uma maneira real e rápida de desacelerar o aquecimento.
O metano, emitido por tubulações de gás com vazamentos, vacas arrotando e matéria orgânica em decomposição (pense em resíduos sólidos urbanos), entre outras fontes, é um dos SLCPs mais prevalentes e poderosos. Ele permanece na atmosfera por apenas cerca de 12 anos, mas retém calor 80 vezes mais do que o dióxido de carbono nesse período. É fácil perceber como o metano foi responsável por cerca de um terço do aquecimento global desde a Revolução Industrial.
O metano atmosférico atingiu níveis recordes no ano passado, com um aumento de mais de 3% desde 2019. Cortes agressivos poderiam contribuir significativamente para retardar o aquecimento antes de meados do século – um prazo que é realmente importante para os países mais afetados pela escalada das mudanças climáticas.
Outros SLCPs potencialmente revolucionários incluem o ozônio troposférico, formado quando a luz solar reage principalmente com metano e óxidos de nitrogênio. O ozônio ao nível do solo também é um poluente que prejudica a saúde humana, bem como as plantações e os ecossistemas. Os hidrofluorcarbonetos, ou HFCs, usados em ar condicionado e refrigeração, também são gases de efeito estufa incrivelmente poderosos.
Os próprios óxidos de nitrogênio, juntamente com a amônia, os compostos orgânicos voláteis e o monóxido de carbono, se somam a essa mistura, criando um coquetel de gases e outros poluentes que não são dióxido de carbono, mas ainda assim são capazes de alterar o clima. Reduzir esses poluentes ajuda a saúde humana, o clima e os ecossistemas.
Mas há um outro lado da moeda. Um tipo de SLCPs (pequenas partículas transportadas pelo ar conhecidas como aerossóis, emitidas pela queima de combustíveis fósseis e biomassa, entre outras fontes) pode resfriar temporariamente o planeta enquanto permanece no ar. Partículas mais brancas refletem a luz solar de volta para o espaço, enquanto partículas mais escuras a absorvem e aquecem a atmosfera. Os aerossóis também afetam as nuvens, os ventos e a intensidade das monções.
Isso não significa que devemos adiar a redução dos aerossóis — manter poluentes prejudiciais à saúde no ar dificilmente é uma estratégia climática da qual nos orgulharmos —, mas significa que precisamos acelerar as ações em outras frentes para deter rapidamente o aquecimento.
Ações rápidas
Muitas políticas e tecnologias voltadas para o dióxido de carbono também podem reduzir os SLCPs. A transição para energia renovável ou veículos elétricos também reduz as emissões de metano, óxidos de nitrogênio e aerossóis. Planos e políticas focados no combate a poluentes de curta duração, como a captura de metano emitido por aterros sanitários, minas de carvão abandonadas ou o combate a vazamentos na rede de gás, também apresentam ganhos rápidos e econômicos.
Os governos já sabem disso. O Compromisso Global com o Metano (Global Methane Pledge), lançado na COP 26 em Glasgow, destaca que a redução do metano é nossa estratégia mais eficaz para manter o objetivo de aquecimento máximo de 1,5°C do Acordo de Paris ao nosso alcance.
Mas é necessária uma [rápida aceleração](https://www.kayrros.com/wp-content/uploads/2025/11/Kayrros-The-Global-Methane-Pledge-at-Mid-Point-2.pdf “) para atingir a meta de reduzir as emissões em 30% até 2030 e, no momento, muitos países, incluindo os principais emissores que assinaram o compromisso (União Europeia e EUA), não estão levando isso a sério o suficiente. Outros grandes emissores, como China e Índia, não assinaram o compromisso, embora o retrocesso do Ocidente signifique que eles têm a chance de assumir a liderança.
Outros poluentes de curto prazo podem ser mais complicados. Por exemplo, os HFCs são alvo da Emenda de Kigali de 2016 ao Protocolo de Montreal, que protege a camada de ozônio.
O objetivo é reduzi-los em mais de 80% até 2050, mas os obstáculos à ação incluem os custos das tecnologias alternativas para os países em desenvolvimento e o comércio ilegal de HFCs. É necessária uma cooperação global para encontrar soluções para estes e outros desafios.
O que a COP 30 pode fazer?
Os SLCPs estão claramente sendo discutidos na COP 30, com organizações não governamentais influentes, como o Global Methane Hub, o Clean Air Fund e a Climate and Clean Air Coalition, levantando essas questões. Novas iniciativas, como o Super Pollutant Country Action Accelerator, apoiam diretamente os países em desenvolvimento na redução das emissões de metano e outras emissões que não sejam de dióxido de carbono.
Mas ações tão ambiciosas também precisam ser tomadas no mais alto nível, pelos governos que negociam os principais resultados da cúpula climática, se quisermos fazer uso desse “freio de emergência” no aquecimento global.
O IPCC deve publicar um relatório sobre poluentes de curta duração em 2027. Isso não apenas colocará a questão em destaque na agenda, mas também fornecerá aos governos uma base sólida para a elaboração de políticas e planos que combatam simultaneamente as mudanças climáticas e a poluição do ar.








