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Universidades e instituições de pesquisa serão fundamentais para implementação dos ODS da ONU no Brasil

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Universidades e instituições de pesquisa serão fundamentais para implementação dos ODS da ONU no Brasil

Em 2015, a Assembleia Geral da ONU estabeleceu os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que buscam promover um futuro mais justo, saudável e renovável até 2030. Esses 17 objetivos abordam questões cruciais, como erradicação da pobreza, igualdade de gênero, educação de qualidade, energia limpa e combate às mudanças climáticas. Cada ODS é acompanhado por metas específicas e indicadores que orientam as ações de países, governos e organizações ao redor do mundo.

Com a renovação dos ODS prevista para daqui a cinco anos, surge uma pergunta importante: qual o real progresso que fizemos até agora? No caso do Brasil, os resultados ainda são mistos. O Grupo de Trabalho (GT) Agenda 2030, responsável pela avaliação dos ODS no país, divulgou em 2024 a mais recente edição do Relatório Luz, que apresenta um panorama preocupante. Entre as 169 metas analisadas, 40 estão em retrocesso, 10 estão ameaçadas, 43 estagnadas e 58 mostram progresso insuficiente. Apenas 13 metas apresentam avanços satisfatórios, enquanto cinco não possuem dados suficientes. O perfil do panorama brasileiro e de outros países pode ser acessado no Sustainable Development Report.


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Esses números não apenas refletem as dificuldades do Brasil em cumprir os ODS, mas também questionam a efetividade das políticas públicas e ações privadas em direção a esses compromissos globais. O papel das universidades brasileiras tem sido essencial nesse processo, com algumas instituições, como a Universidade de São Paulo (USP), destacando-se no ranking Times Higher Education Impact 2024. No entanto, muitas universidades ainda enfrentam dificuldades para alinhar suas ações acadêmicas e de extensão aos ODS. Um estudo sobre as universidades da Amazônia Legal, por exemplo, revelou que, das 13 universidades federais da região, sete não têm qualquer alinhamento com os ODS.

Reprodução / Site das Nações Unidas Brasil, CC BY

Em julho de 2024, a Iniciativa de Impacto Acadêmico das Nações Unidas (UNAI) anunciou a segunda convocatória para que instituições de ensino superior de todo o mundo se unissem à sua rede de HUB ODS.

As universidades selecionadas nessa segunda chamada iniciaram seus mandatos em janeiro de 2025, e têm o compromisso de promover o cumprimento dos ODS até 2027. No Brasil, a USP é a atual representante do Hub ODS 1: Erradicação da Pobreza. Entre 2018 e 2024, a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) foi selecionada para representar o Hub ODS 11: Cidades e Comunidades Sustentáveis.

Poucas adesões e parcerias

Além disso, a Rede Nacional Unisustentavel, lançada em setembro de 2023, conta com a adesão de 28 universidades brasileiras e visa fortalecer as ações acadêmicas, de pesquisa e extensão alinhadas à Agenda 2030. Internacionalmente, a Iniciativa de Sustainabilidade no Ensino Superior (HESI) conta com a adesão de 12 universidades brasileiras: três de Santa Catarina, duas do Rio de Janeiro, duas do Paraná, duas do Distrito Federal, uma de São Paulo, uma do Rio Grande do Sul e uma de Minas Gerais.

Além da HESI, a Associação Ambiental para Universidades e Faculdades (EAUC) fundou e lançou o Acordo dos ODS em 2017. As instituições de ensino superior signatárias do Acordo estão comprometidas em inspirar, celebrar e promover o papel crucial da educação na implementação dos ODS.

Atualmente, as únicas duas universidades brasileiras signatárias do Acordo são as Universidade Federais de São Paulo e do Espírito Santo. Das associações de estudantes de universidades Brasileiras, apenas 8 são signatárias do Acordo.

Outro destaque é o Selo ODS, um programa de reconhecimento que representa uma tentativa de ativar a capacidade transformadora das universidades, estimulando-as a promover ações que contribuam para os ODS em diferentes regiões do Brasil.

Em 2023, o número de instituições inscritas subiu 112%, com um expressivo aumento no número de projetos certificados. Internacionalmente, a Plataforma de Ações ODS contém várias atividades de parcerias multissetoriais que apoiam a aceleração dos ODS muldialmente. Embora a Ação dos ODS liste o Brasil como participante de 283 projetos, as universidades brasileiras estão listadas como parceiras em apenas 9 projetos.

Cenário global é diferente

No entanto, o cenário global oferece uma perspectiva interessante. As universidades europeias, por exemplo, estão cada vez mais voltadas para o impacto dos ODS. Programas como o Horizon Europe financiam consórcios de pesquisa que envolvem universidades, centros de pesquisa, ONGs, setores públicos e privados, com o objetivo de transformar ideias acadêmicas em soluções concretas e aplicáveis no mercado. Horizon Europe exige que os projetos demonstrem claramente como contribuirão para os ODS.

Para avançar, é necessário criar parcerias estratégicas e fortalecer a colaboração entre universidades e o setor empresarial. A pesquisa científica, especialmente quando voltada para os ODS, pode ser um catalisador de inovação e de soluções concretas. O apoio a projetos que investiguem diretamente temas relacionados à sustentabilidade pode acelerar a contribuição do Brasil para a Agenda 2030.

O Brasil, portanto, precisa intensificar seus esforços para seguir esse caminho. Um exemplo positivo vem da Capes, que ficou em 4º lugar entre as agências de fomento internacional que mais financiaram pesquisas relacionadas à Fome Zero e Agricultura Sustentável entre 2019 e 2022, de acordo com um levantamento realizado pela editora Elsevier.

Segundo o professor Carlo Alberto Cioce Sampaio, em seu artigo sobre as ODS publicado recentemente aqui no The Conversation Brasil, é fundamental distinguir entre o impacto potencial e o impacto real da pesquisa. A pesquisa científica tem o poder de gerar grandes avanços, mas o verdadeiro impacto só ocorre quando essas descobertas se concretizam em políticas públicas, tecnologias adotadas ou produtos inovadores no mercado.

E para acelerar essa transformação, é necessário apoiar uma abordagem colaborativa e interinstitucional, unindo esforços de diversas instituições e setores para gerar um impacto real e duradouro.

O Brasil tem diante de si um grande desafio, mas com foco, inovação e colaboração, pode potencializar sua contribuição para o cumprimento da Agenda 2030. Fica a expectativa pelo papel crescente das universidades nesse processo para avançar os ODS no Brasil.

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