Imagem em destaque criada por Arzu Geybullayeva, usado sob permissão, usando elementos do Canva Pro .
Um boletim informativo de 4 de julho de 2025 do Centro de Informações Unificadas das Forças Políticas Democráticas da Geórgia, intitulado “A Geórgia está em crise”, destaca o aprofundamento da luta política do país, marcada pela escalada das repressões, pela redução do espaço para a dissidência e pela crescente condenação internacional.
A data marcou o 218º dia de resistência cívica na Geórgia, um testemunho da turbulência contínua que tomou conta do país desde que o partido no poder, Sonho Georgiano (GD), suspendeu as negociações sobre a adesão do país à União Europeia.
Uma repressão cada vez mais ampla à dissidência
A onda de prisões políticas contra líderes da oposição continua inabalável. Desde maio, vários líderes políticos de alto escalão foram presos, incluindo Nika Gvaramia, Giorgi Vashadze, Givi Targamadze, Zurab Japaridze, Nika Melia, Mamuka Khazaradze e Badri Japaridze, todos condenados à prisão por se recusarem a comparecer perante a comissão parlamentar do governo. Até mesmo o ex-ministro da Defesa, Irakli Okruashvili, foi preso por não cooperação e agora enfrenta acusações adicionais.
A comissão foi criada em fevereiro de 2025 para investigar supostos crimes cometidos durante o governo do Movimento Nacional Unido (UNM), que vigorou de 2003 a 2012. Desde então, seu escopo foi ampliado, permitindo que o GD potencialmente implicasse qualquer figura da oposição.
Em um movimento subsequente descrito por alguns líderes da oposição como uma farsa, o presidente nomeado pelo Sonho Georgiano, Mikheil Kavelashvili, disse que perdoaria todos os líderes políticos se eles concordassem em concorrer nas eleições locais deste ano, programadas para 4 de outubro. Em 30 de junho, líderes de oito partidos de oposição — Praça da Liberdade, Geórgia Europeia, Movimento Nacional Unido, Estratégia Aghmashenebeli, Ahali, Girchi–Mais Liberdade, Droa e os Federalistas — prometeram não concorrer.
“Nos recusamos a participar das chamadas eleições locais porque acreditamos que, nas condições atuais, participar deste processo não atenderá aos interesses dos nossos cidadãos e apenas servirá de fachada para o regime ilegal russo”, afirmou Elene Khoshtaria, líder do partido Droa, em um comunicado conjunto. Outros, como Tina Bokuchava, do partido de oposição UNM, descreveram qualquer participação na eleição como traição.
A decisão de boicotar, no entanto, dividiu a oposição da Geórgia, já que alguns partidos acreditam que essa é a única maneira de desafiar o partido no poder. Assim, em 5 de julho, a coalizão Geórgia Forte anunciou sua decisão de participar, enfatizando que tomou a decisão de concorrer muito antes de Kavelashvili anunciar o perdão.
Um padrão de repressão e uma remodelação governamental
Desde 24 de junho, após mudanças legislativas, o sistema judiciário da Geórgia fechou suas portas ao público e à imprensa. Jornalistas estão agora fortemente impedidos de gravar os procedimentos judiciais; tirar fotos e gravar vídeos dentro dos prédios dos tribunais, incluindo áreas externas, é estritamente proibido sem permissão explícita. De acordo com a OC Media, o descumprimento dessas novas restrições é punível com multa de até 2.500 lari georgianos (pouco mais de 900 dólares americanos) ou prisão de até doze dias.
Como resultado das alterações à Lei Orgânica “Sobre os Tribunais Comuns”, os atos judiciais passaram a se tornar públicos apenas após uma decisão final, removendo o acesso a decisões provisórias. Essas restrições abrangentes prejudicam a supervisão pública, especialmente porque os julgamentos com motivações políticas continuam a se acumular.
O padrão de repressão se estende além de líderes políticos. Zviad Ratiani, um poeta aclamado, pode pegar até sete anos de prisão sob a acusação de agredir um policial, enquanto o professor Nino Datashvili foi detido preventivamente por supostamente agredir um oficial de justiça, deixando observadores com a impressão de que as acusações contra os dois fazem parte de um esforço sistemático para reprimir a dissidência.
Em uma tentativa de consolidar ainda mais seu poder, o Sonho Georgiano passou por uma reforma ministerial, com a substituição de vários ministros, incluindo o Ministro da Economia, Levan Davitashvili, o Ministro da Educação, Aleksandre Tsuladze, o Ministro do Interior, Vakhtang Gomelauri, e o Ministro da Infraestrutura, Irakli Karseladze. O Chefe do Serviço de Segurança do Estado da Geórgia (SSSG), Grigol Lilushvili, também teria sido substituído.
Enquanto isso, Irakli Zarkua, um ministro parlamentar do GD, pediu publicamente que “embaixadores [de missões diplomáticas] que estão sendo destrutivos, substituindo radicais e agindo contra o Estado” sejam expulsos do país.
Protestos internacionais e avisos de sanções
As ações do governo da Geórgia atraíram ampla condenação internacional. Em uma declaração de 25 de junho, os senadores americanos Jeanne Shaheen, democrata de New Hampshire, que é também o membro mais graduado do Comitê de Relações Exteriores do Senado dos EUA; e Roger Wicker, republicano do Mississippi que preside a Comissão de Helsinque dos EUA, compararam as ações do partido no poder às de Lukashenka, o presidente da Bielorrússia. O Departamento de Estado dos EUA expressou sua preocupação com a prisão de líderes políticos da oposição e o assédio de críticos.
“Deploro a deterioração da situação política na Geórgia com as prisões de líderes da oposição, o que dificulta seriamente a possibilidade de diálogo entre as forças políticas do país”, disse Marc Cools, presidente do Congresso das Autoridades Locais e Regionais do Conselho da Europa, em uma declaração de 1º de julho.
No mesmo dia, o Comissário para os Direitos Humanos do Conselho da Europa instou o partido no poder a “respeitar as suas obrigações nos termos da CEDH [Convenção Europeia dos Direitos Humanos] e de outros instrumentos de direitos humanos, a garantir os direitos à liberdade de expressão e à liberdade de associação, e a pôr fim a todas as formas de assédio e intimidação dos defensores dos direitos humanos e dos atores da sociedade civil”.
A Assembleia Parlamentar da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), em uma declaração datada de 3 de julho, expressou “séria preocupação com a deterioração da situação política na Geórgia” e pediu que o governo no poder “cumpra seus compromissos para garantir que a sociedade civil, a mídia independente, os ativistas e os manifestantes possam operar livremente e com segurança”, liberte o que chamou de “prisioneiros políticos” e revogue a “lei de ‘agentes estrangeiros’ no estilo russo”.
Enquanto isso, os apelos por sanções continuam. Vários funcionários de alto escalão do governo foram sancionados nos últimos meses por diversos países da UE e pelo governo do Reino Unido.
O Partido Popular Europeu (PPE), um grupo político dentro do Parlamento Europeu, pediu sanções contra o fundador do Sonho Georgiano, Bidzina Ivanishvili. Em 27 de junho, a Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa (ALDE) também pediu sanções contra Ivanishvili e outros membros de alto escalão do GD.
O governo do Reino Unido emitiu um guia de sanções para empresas que operam na Geórgia, no qual alertou contra o auxílio à evasão das sanções russas. Essas diretrizes destacam especificamente o risco de empresas georgianas atuarem como intermediárias para reexportar secretamente produtos sancionados pelo Reino Unido para a Rússia, com penalidades severas em caso de descumprimento.
Ainda não se sabe se alguma dessas medidas mudará a trajetória da GD. Por enquanto, o que restou da oposição política da Geórgia, sua sociedade civil e seus cidadãos continua a sair às ruas exigindo que o governo reverta seu curso.