Bhupeen é um proeminente poeta nepalês, ensaísta e novelista conhecido por suas poderosas contribuições para a literatura nepalesa contemporânea. Ele publicou três coletâneas de poemas, uma coletânea de ensaios e uma novela. Bhupeen é um dos fundadores do “Movimento de Poesia de Conservação“, que tem como objetivo aumentar a atenção no Nepal sobre questões ambientais através da poesia. Sua poesia explora os temas do amor, identidade, natureza e questões sociais, refletindo as complexidades da vida moderna no Nepal.
Bhupeen ganhou a medalha de ouro na categoria poesia no Tanahun Sahitya Sammelan (Festival Literário Tahahun), e recebeu o Prêmio de Literatura da Sociedade Literária Nepalesa Internacional em 2011 pela sua coletânea de poesias “Hazar Varshako Nidra” (Sono de mil anos). Além disso, ganhou o prêmio Uttam Shanti Puraskar por “Chaubis Reel” (24 reels), uma coletânea de ensaios, e também os prêmios Khemlal Lamichhane Sahitya Puraskar, Kabidanda Abinashi Utkrista Kriti Puraskar, e a premiação de melhor livro da Sociedade Literária Nepalesa Internacional em 2021 por sua novela “Maidaro” (Conclusão do trabalho).
A obra de Bhupeen alcança uma grande audiência devido à sua habilidade em transmitir emoções profundas através de uma linguagem simples mas poderosa, que o transformou em um dos poetas contemporâneos mais influentes no Nepal.
Sangita Swechcha, da Global Voices, entrevistou Bhupeen por e-mail para conhecer sua jornada como poeta, suas reflexões sobre o uso da poesia como meio para tratar de questões sociais, e seus pensamentos sobre o papel crescente da poesia nepalesa em promover mudanças sociais e contribuir para a paisagem literária global.
Sangita Swechcha (SS): Sua poesia costuma tratar de questões sociais. Como você escolhe temas para escrever, e qual mensagem você espera transmitir com sua obra?
Bhupeen (B): How can we make the earth and all life dependent on it more beautiful and prosperous? This question has been discussed for thousands of years and will continue to be debated. In my view, this is the most crucial and complex issue of human civilisation. Since a comprehensive theory that resolves all complexities (Theory of Everything) has not yet been accepted, and new complexities arise continuously, no writer connected to society can likely remain untouched by social issues.
They may attempt to distance themselves from these issues to appear purely aesthetic, and they may even succeed to some extent. However, it is impossible to connect with society, time, and life by avoiding social issues. No art is born in a vacuum, and hence I see little meaning in literature that does not address issues such as class disparities and their causes, gender inequality and women’s empowerment, Dalit liberation, the oppression of marginalised communities, and environmental protection.
I am close to a school of poetry that views art in connection with life. Thus, the issues of the society I live in naturally emerge in my creations. I believe art should contribute to creating an environment conducive to social change — it must.
Bhupeen (B): Como podemos fazer a Terra, e toda a vida dependente dela, mais bela e próspera? Essa questão tem sido discutida por milhares de anos e continuará a ser debatida. Em minha visão, esse é o assunto mais complexo e crucial da civilização humana. Já que uma teoria geral que resolva todas as complexidades (Teoria de Tudo) ainda não foi aceita, e novas complexidades surgem continuamente, nenhum escritor conectado com a sociedade pode permanecer intocado pelas questões sociais.
Eles podem tentar se distanciar desses assuntos para ser puramente estéticos, e podem até conseguir até certo ponto. Porém, é impossível se conectar com a sociedade, o tempo e a vida, e evitar as questões sociais. Nenhuma arte nasce no vácuo e por isso eu vejo pouco significado na literatura que não trata de assuntos como diferenças de classe e suas causas, desigualdade de gênero e empoderamento feminino, a liberação dálite, a opressão de comunidades marginalizadas, e a proteção ambiental.
Sou próximo de uma escola de poesia que vê a arte em conexão com a vida. Assim, os assuntos da sociedade onde vivo naturalmente emergem em minhas criações. Eu acredito que a arte deve contribuir para criar um caminho que conduza para a mudança social – é necessário.
SS: Existem projetos novos ou temas que você esteja animado em
explorar em sua poesia ou escrita futura?
B: After publishing the novel “Maidaro”, which expresses solidarity with the Dalit liberation movement, I initially planned to write another novel not centred on contemporary issues. My experience of being attacked by intellectuals from the communities I wrote about had left me disheartened. However, during the COVID-19 period, I expanded and deepened my social studies and felt compelled to write another novel focusing on a social issue. For now, I wish to remain silent about which geography, society, and issue this novel will focus on.
Unfortunately, during the process of writing, I lost my mother. Her absence affected me more profoundly than I had imagined. I felt almost on the brink of depression, which shook my life-affirming ideology. I stopped reading for a while; even seeing the word “mother” in a book would make me feel suffocated. My ongoing novel included a character based on my mother, but I couldn’t write it and had to set it aside. I realised that even the so-called cathartic literature cannot always be written during moments of grief and loss.
During this time, I spent much of my time alone, wandering by riversides and in forests, developing an interest in bushcraft. Immersing myself in nature deepened my understanding of life. I feel that now I might emerge as a butterfly, opening new horizons of possibilities in my creations. What kind of butterfly will emerge — ordinary or extraordinary? I leave that to time to decide.
B: Depois de publicar o romance ‘Maidaro’, que exprime solidariedade ao movimento de libertação dos dálites, eu planejava escrever outro romance que não se concentrasse em questões contemporâneas. Minha experiência de ser atacado por intelectuais das comunidades sobre as quais escrevi me deixou desanimado. No entanto, durante o período da Covid-19, eu expandi e aprofundei meus estudos sociais e me senti impelido a escrever outro romance focando em uma questão social. Por enquanto, prefiro não contar sobre a geografia, sociedade e assunto desse novo romance.
Infelizmente, durante o processo de escrita, eu perdi minha mãe. A ausência dela me afetou mais profundamente do que eu imaginara. Eu me senti quase a beira da depressão, o que balançou minha ideologia de afirmação da vida. Eu parei de ler por um tempo; até mesmo ver a palavra ‘mãe’ em um livro me fazia sufocar. Meu romance em andamento possui uma personagem baseada em minha mãe, mas eu não conseguia escrever e tive que deixar de lado. Eu percebi que mesmo a chamada literatura catártica nem sempre pode ser escrita em momentos de pesar e perda.
Durante esse período, eu passei muito tempo sozinho, caminhando em margens de rios e florestas, e me interessei por sobrevivência na natureza. Essa imersão na natureza aprofundou meu entendimento sobre a vida. Eu sinto que agora eu posso emergir como uma borboleta, abrindo novos horizontes de possibilidades em minhas criações. Que tipo de borboleta irá emergir – ordinária ou extraordinária? Deixo isso para o tempo decidir.
SS: Como você vê o papel da poesia contemporânea na sociedade nepalesa, e que impacto você acha que ela pode ter para a mudança social?
B: A society that loves folk literature can never hate poetry. The diverse civilisations and cultures in this small area have gifted us an abundance of folk literature. We have inspiring Jataka tales, Mundhum, Maithili, and Vedic Sanatan literature, along with the rich traditions of the Tharu, Gurung, Magar, Tamang, and Thakali communities. It would be irrational to think that our society, which loves Muna Madan (a 1936 Nepali-language episodic love poem), rejects poetry and its role.
But have we truly viewed our arts and literature with tolerance? Did we confine their horizons to specific communities, or did we try to expand them? Have we accepted linguistic colonisation by calling only Sanskrit or English literature as “literature”? Did our societal values support injustice toward our native languages, or did they focus on their enrichment? It is necessary to discuss these questions.
I think Nepali society has always respected poetry and poets (though there are also pollutants of deification). However, poetry may not always be accepted if it dwells within the comfort zone of tradition. It is easy to compose poetry influenced by old works without capturing the new pains and consciousness of the present time. But poetry falls into a stereotype that way. Poets must dare to step outside their boxes. The challenge is to create meaningful poetry that society respects and that can lead it in a progressive direction. Such poetry can add new values and make a positive contribution to social transformation.
B: Uma sociedade que ama a literatura oral nunca odiará poesia. As diversas civilizações e culturas neste pequeno país nos presentearam com uma abundância de literatura oral. Nós temos inspiradores contos Jataka, Mundhum, Maithili, e a literatura védica Sanatana, além das ricas tradições das comunidades Tharu, Gurung, Magar, Tamang, e Thakali. Seria irracional pensar que nossa sociedade, que ama Muna Madan (um poema de amor nepalês de 1936), rejeita a poesia e seu papel.
Mas nós realmente vemos nossa arte e literatura com tolerância? Nós confinamos seus horizontes em comunidades específicas, ou tentamos expandi-las? Nós aceitamos a colonização linguística ao chamar de ‘literatura’ apenas a literatura sânscrita ou inglesa? Nossos valores sociais sustentam a injustiça com nossas línguas nativas, ou permitem seu florescimento? É necessário discutir essas questões.
Eu acho que a sociedade nepalesa sempre respeitou a poesia e os poetas (ainda que existam exageros). Porém, a poesia não deve ser sempre aceita se permanece na zona de conforto da tradição. É fácil compor poesia influenciada por antigas obras, sem capturar as novas dores e a consciência da atualidade. O desafio é criar uma poesia significativa que a sociedade respeite e que possa direcionar para um caminho progressista. Uma poesia assim, pode criar novos valores e fazer uma contribuição positiva para a transformação social.
SS: Como você vê a ligação entre a poesia nepalesa e o movimento poético global, e qual o papel das plataformas internacionais em promover vozes locais?
B: Nepali literature is also global literature. It is incomplete to view Nepali literature separately from global literature. The history of Nepali literature is not as long as English, Sanskrit, Spanish, Greek, or other literary traditions. However, Nepali literature has learned and progressed significantly in a short span of time. Just as new technologies reach us quickly, literature also flows to us. Nepali readers are reading both foreign and Nepali literature, which is convenient today.
It is the new campaigns and movements that bring novelty to literature. We are influenced by global literary campaigns. Local movements are also emerging. If we can globalise them, there is potential for the world to pay attention to Nepali literature. Translating Nepali poetry into English and other languages is equally important. I see an important role of translators and literary campaigners in this area.
B: A literatura nepalesa também é literatura global. É uma visão incompleta perceber a literatura nepalesa separada da literatura global. A história da literatura nepalesa não é tão longa quanto a inglesa, sânscrita, espanhola, grega ou outras tradições literárias. Todavia, a literatura nepalesa se desenvolveu e progrediu significativamente em um curto período de tempo. Assim como novas tecnologias nos atingem rapidamente, a literatura também nos alcança. Leitores nepaleses estão lendo literatura estrangeira e nepalesa, o que é muito conveniente hoje em dia.
São as novas campanhas e movimentos que trazem inovação para a literatura. Nós somos influenciados pelas campanhas literárias globais. Movimentos locais também estão emergindo. Se conseguirmos globalizar esses movimentos, existe potencial para o mundo prestar atenção à literatura nepalesa. Traduzir poesia nepalesa para o inglês e outras línguas é igualmente importante. Eu vejo um papel importante dos tradutores e divulgadores literários nesta área.